Vacinação infantil: qual o papel da escola nesse debate?
A vacinação contra Covid-19 para o público infantil tem avançado no Brasil e, por isso, muitas dúvidas e questionamentos acabam surgindo para os responsáveis. Como a escola é uma referência no cuidado com as crianças muitos deles acabam buscando orientações com a equipe escolar. Dessa forma, abrir esse diálogo com os pais pode ser muito importante para a conscientização sobre a vacinação infantil.
Na opinião do integrante do Departamento Científico de Infectologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), Eitan Berezin, as escolas poderem estar abertas neste momento é reflexo da imunização de boa parte da população brasileira, o que confere maior segurança a todos conta o vírus.
“As escolas podem ser aliadas nesse momento informando os pais e as crianças sobre o benefício da vacinação e da importância das escolas estarem abertas. A escola é essencial para a vida das crianças, que já sofreram muito com o seu fechamento. A vacina contra Covid traz esse adicional de segurança a todos”, explicou o especialista.
Segundo o médico, se o percentual de não vacinados for pequeno, o risco de contaminação entre os pequenos diminui, mas ele lembra que existe um risco sim. “Alguns podem alegar que os sintomas são mais leves em crianças, o que de fato ocorre, mas elas estavam mais isoladas das atividades normais e isso foi um fator para termos menos casos entre esse público”, alertou.
Já a pediatra e neonatologista, Gabriele Teodoro, lembra que é importante atuar na conscientização dos pais e que a vacinação é um pacto coletivo.
“Não temer a vacina e sim a doença! Conscientizar sobre todas as suas consequências graves que podem ser evitadas, a morte, a dor, sofrimento, emergências e internação em todas as faixas etárias”, disse.
Uma medida é a escola identificar os alunos não vacinados contra a Covid-19 e tentar conversar com os pais. Para a pediatra, a escola poderia entender as dúvidas dos pais em relação à vacina, esclarecê-las (conforme orientação médica) e colocar os pontos importantes da vacinação para as crianças, caso seja possível. “É uma possibilidade de aproveitar o vínculo com os pais e proporcionar maior vacinação às crianças”, acredita.
A vacinação contra Covid-19 ainda não está prevista no PNI (Plano Nacional de Imunização) e, portanto, os alunos não imunizados não podem ser impedidos de serem matriculados na escola. A Fenep (Federação Nacional das Escolas Particulares) orienta as instituições privadas de ensino a não exigir o certificado de vacinação de alunos na retomada das aulas.
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Segurança dos imunizantes
No momento, há duas vacinas aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para serem aplicadas nas crianças e adolescentes: a da Pfizer e da CoronaVac. Apesar de haver muita desinformação na internet, as vacinas são seguras, passando por testes e estudos antes de serem liberadas para o público infantil.
Para Eitan Berezin, o simples fato dos imunizantes receberem aval da Anvisa deveria ser o suficiente para que a população entenda que as vacinas são seguras. “O crivo da Anvisa é bem rigoroso e existe comprovação que elas são seguras”, resumiu o médico.
Ele aponta um paradoxo sobre o público que atualmente é contra as vacinas da Covid-19. “Essas pessoas não são contra as vacinas em geral. Os grupos que são contra os demais imunizantes têm mais relação com a natureza, mas agora é diferente, tem um caráter ideológico”, avalia.
Além da aprovação da Anvisa, a médica Gabriele Teodoro traz mais dados que ajudam a comprovar a segurança dos imunizantes e lembra que mais de cinco milhões de doses da Pfizer já foram aplicadas em crianças de 5 a 11 anos nos Estados Unidos e em outros países, sem demonstrar efeitos indesejáveis e de preocupação.
“Já existem publicados estudos de fase 1/2 e 3 em crianças de 5-11 anos mostrando que após duas doses da vacina Pfizer elas apresentaram uma resposta de anticorpos neutralizantes em concentrações similares às observadas em adolescentes e adultos de 16-25 anos. Além disso, houve demonstração de eficácia de 90,7% para a prevenção da Covid-19 pelo menos 7 dias após a segunda dose e em um período de aproximadamente 2-3 meses”, disse.
Faixa etária não imunizada
Atualmente, apenas crianças acima de 5 anos podem ser imunizadas contra a Covid. A dose pediátrica da Pfizer pode ser aplicada no público acima de 5 anos, enquanto a vacina da CoronaVac pode ser utilizada em crianças acima de 6 anos.
O integrante da Sociedade Brasileira de Pediatria acredita que é seguro o retorno presencial para a faixa etária ainda não vacinada. Ele aponta que a segurança é razoável e que a socialização é algo muito importante para ser ignorado. “Meu neto tem 3 anos e vai voltar para a escola”, disse Eitan Berezin.
Gabriele Teodoro lembra que quanto mais crianças vacinadas, menor é o risco. “Aquelas que podem usar máscara devem continuar seu uso, com os outros cuidados também e protocolos já adotados anteriormente para redução da transmissão. Zero risco não vamos ter, mas sim podemos diminuir”, acredita.
Os médicos reforçam que todas as medidas não farmacológicas contra Covid-19, como o uso de máscara e a troca frequente dela, distanciamento social, uso de álcool em gel, devem continuar sendo priorizadas. O uso de áreas ventiladas, o cuidado dos professores e demais profissionais da escola, e não ir à escola caso esteja doente são outras medidas incentivadas pelos especialistas.
Demais vacinas
Não só a vacinação contra Covid-19 deve ser encarada como um pacto coletivo, mas todas as imunizações. As crianças devem ser imunizadas contra todas as doenças ameaçadoras e, novamente, a escola deve ser uma aliada nesse processo de conscientização das famílias.
“Em 2019 tivemos uma epidemia razoável de sarampo em São Paulo, com pouquíssimos casos fatais, mas houveram. É importante manter a imunização em dia sempre. Vemos que muitas infecções que diminuíram nesses 2 últimos anos estão voltando”, alertou o médico Eitan Berezin.
Segundo a pediatra Gabriele Teodoro, desde 2014 há um declínio da cobertura vacinal das crianças e em 2020 nenhuma das vacinas atingiu a meta necessária, o que gera uma grande preocupação e risco para o País.
“Como ocorreu com o sarampo, outras doenças infecciosas eliminadas ou controladas podem voltar a apresentar aumento no registro de casos. Isso reflete principalmente uma falta de preocupação com o bem-estar da coletividade”, avaliou.
“A vacina é um pacto coletivo e social para o bem estar de todos. Além disso, existem questões legais sobre o tema, como os cuidadores poderem ser responsabilizados pela não vacinação dos filhos e até resultar na perda da guarda dos filhos”, lembrou a médica.
No Estado de São Paulo, por exemplo, a secretaria estadual de Saúde explicou que a escola é obrigada por lei a informar o Conselho Tutelar da não apresentação do comprovante vacinal dos alunos.
“Quando os pais negam a vacinação de uma criança eles assumem a responsabilidade que não tinham até então, de ter que poder lidar com quadro grave de uma doença, possibilitar o reaparecimento de doenças já controladas e infectar outras crianças. As vacinas são seguras e eficazes. Se informem e vacinem seus filhos”, resumiu.
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