5 min de leitura

Em 2015, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lançou um estudo longitudinal para avaliar o impacto das competências socioemocionais em crianças. Houve um investimento de milhões de dólares, principalmente em pesquisas, para obter indicativos de como desenvolver tais competências. 

As evidências coletadas mostram que as competências socioemocionais e as cognitivas desempenham um papel significativo na melhoria dos resultados econômicos e sociais. Constatou-se também que a elevação dos níveis de competências como perseverança, autoestima e sociabilidade, podem beneficiar à saúde e o bem-estar subjetivo individual.

Mas afinal, o que pode ser definido ou não como competência socioemocional? De acordo com o Dr. Celso Lopes da Souza, professor, médico psiquiatra e cofundador do Programa Semente, existem três critérios determinantes para tal:

“A primeira: (a competência) tem que poder ser aprendida, porque se não puder ser aprendida, não adianta nós discutirmos. Segundo: causa um grande impacto na vida das pessoas quando não desenvolvida, impacto social e profissional. Terceiro: precisa ser medida, nós temos que conseguir medir isso”.

 

 

Confira também:

A velocidade da inovação e o desenvolvimento de competências socioemocionais

 

 

Além disso, por ser um tema de interesse global, foram criadas algumas padronizações a respeito dessas competências. A OCDE, por exemplo, fez uma categorização com base nas  funções mais importantes:

  1. Atingir objetivos: perseverança, autocontrole e paixão pelos objetivos;
  2. Trabalhar em grupo: sociabilidade, respeito e atenção;
  3. Lidar com as emoções: autoestima, otimismo e confiança.

Já no Brasil consagrou-se a existência de 17 competências socioemocionais, que são agrupadas em cinco famílias: 

  1. Autogestão: foco, organização, determinação, persistência e responsabilidade;
  2. Abertura ao novo: curiosidade, imaginação criativa e interesse artístico;
  3. Modulação emocional: modulação da raiva, modulação do medo e modulação da tristeza;
  4. Engajamento com os outros: iniciativa social, assertividade e entusiasmo;
  5. Amabilidade: empatia, respeito e confiança.

O modelo das cinco famílias, que didaticamente se assemelha às famílias da tabela periódica, é o utilizado pelo Instituto Ayrton Senna em seu programa de educação socioemocional e nas avaliações do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Logo, é sobre esse modelo que trataremos no texto.

As cinco famílias de competências e suas relações

Ainda que as competências estejam subdivididas em cinco grandes grupos, elas se relacionam entre si. Celso explica que as famílias autogestão e abertura para o novo, por exemplo, são chamadas de o circumplexo da aprendizagem, pois estão mais relacionadas com desempenho acadêmico.

“Se você pegar alguém que está fazendo uma prova no vestibular, a pessoa está lá lendo o enunciado da questão, ela tem que ter foco, que está na competência da família da autogestão, ela vai começar a ler o enunciado, quais são as informações dadas? O que o examinador quer? Nisso você está usando a organização para resolver esse problema, vai precisar ter muita imaginação criativa para descobrir o caminho a partir do que foi dado, para a resposta, e precisa de muita persistência para chegar nesta resposta”.

Mas como nada se constrói sozinho, a ciência conseguiu categorizar duas famílias do relacionamento interpessoal, que é engajamento com outros e amabilidade. Juntas, elas fornecem bases para a vida em sociedade, que começa na escola, e com o estímulo correto,seguem evoluindo com o indivíduo.  

“O entusiasmo, como competência socioemocional, é a capacidade de perceber emoções agradáveis, e hoje a gente sabe que isso tem uma importância brutal. Quando se termina alguma coisa depois de muita persistência, por exemplo, é bom parar e sentir aquela conquista, porque hoje a neurociência sabe que essa capacidade de perceber essa sensação positiva ajuda a guardar na memória que persistência é importante”.

Por último, a modulação social. Apesar de não ter um par, essa família influencia todas as outras, uma vez que concentra as competências de modular as emoções desagradáveis (raiva, medo e tristeza) que surgem em diversas situações da vida, seja no aspecto intrapessoal ou interpessoal.  

Por mais estranho que possa soar, o medo pode ser bom, principalmente neste momento de pandemia. Como explica Celso, o medo de contaminação e/ou contágio pode gerar uma preocupação positiva no sentido de nos tornarmos mais cuidadosos. Porém, quando essa preocupação paralisa, é um indicativo de falha na modulação e necessidade de correção.

Como mensurar as competências socioemocionais

Após aprender o que são as competências socioemocionais, você se arrisca em dizer qual o primeiro passo inseri-las no currículo da sua escola?  Na opinião do cofundador do Programa Semente – um dos maiores programas de aprendizagem socioemocional do Brasil, antes de tudo, é necessário formar os professores.

“Essa ciência que é bastante nova precisa chegar nas escolas, e não dá para nós esperarmos professores serem formados nas universidades [..] Nós precisamos formar os professores da escola para que eles conheçam essas competências”.

Justamente para atender a essa necessidade urgente, o Programa Semente desenvolveu a “Plataforma S”. Uma ferramenta 100% digital que permite mensurar as competências socioemocionais de adultos, como professores e gestores, e de estudantes do ensino fundamental e médio. 

O principal objetivo da Plataforma S é que alunos e professores falem a mesma linguagem, potencializando as ações de desenvolvimento das competências. Ao mesmo tempo, ela permite que os gestores tomem decisões pedagógicas baseadas em evidências científicas. 

“A partir do momento que eu sei o que precisa ser desenvolvido, nós colocamos cada vez mais intencionalidade, à medida que os professores, gestores começam a falar a mesma linguagem, nós começamos a ter dados para serem utilizados em reuniões pedagógicas e efetivamente, fazer a escola respirar educação socioemocional”, conclui Celso.

 

Assista à palestra completa:

O desafio para a construção de uma aprendizagem socioemocional efetiva