Como receber e organizar as sugestões das famílias em momentos de crise?
As escolas representam um microcosmo da sociedade. Mesmo as menores agregam estudantes de diferentes contextos e históricos familiares. Se em tempos normais já é desafiador atender às demandas dos pais, muitas vezes conflitantes entre si, acatar e organizar as diferentes sugestões pode ser ainda mais trabalhoso num período de pandemia e de polarização ideológica.
As educadoras Taís e Roberta Bento, fundadoras da SOS Educação e especialistas na relação Família e Escola, afirmam que a maior armadilha, num momento de crise, como o vivido desde 2020, é tentar agradar a todos.
Tais e Roberta Bento – SOS Educação
“A diferença de opiniões existe em todo lugar. O desafio é conseguir que todas as famílias se sintam ouvidas e acolhidas, mas que entendam que a escola precisa atender a comunidade escolar como um todo”.
As especialistas apontam que os gestores precisam ter clareza que não conseguirão deixar todas as famílias alegres e satisfeitas com as adaptações necessárias durante uma pandemia, mas que o foco das unidades de ensino deve ser o de manter o aluno o mais seguro possível.
Cenário de Crise
Para as fundadoras da SOS Educação, em função desses últimos anos da Covid-19, as famílias ficaram exaustas e sobrecarregadas. Por isso, muitas vezes, uma pequena frustração com a escola pode se transformar num gatilho para outras angústias e traumas trazidos pela pandemia. “Aqui entra a necessidade urgente de gestores e educadores cuidarem da própria saúde emocional. Manter o equilíbrio e a coerência é fundamental”, explicam.
Taís e Roberta também ressaltam que cabe à escola a firmeza e a clareza de mostrar para as famílias que a relação negativa entre eles pode impactar diretamente no desempenho e na saúde emocional do aluno. Além disso, explicam que pais sobrecarregados precisam encontrar uma comunicação clara e assertiva. “A melhor forma para conseguir a atenção desses pais é oferecendo ajuda, em vez de manter o foco em cobranças e reclamações sobre o filho/aluno”, dizem.
Canais de comunicação
Independentemente de o período ser de pandemia ou não, as educadoras apontam que o melhor canal de comunicação com as famílias é aquele que a escola consegue gerir de forma rápida e eficiente. Quanto mais clara e ágil a comunicação, menores as chances de ruídos e de fake news, que muitas vezes acabam se espalhando pelos grupos de whatsapp das classes.
Para Taís e Roberta, novas tecnologias contribuem para essa comunicação proativa por parte das unidades de ensino. Segundo elas, aplicativos especializados, facilitam muito essa dinâmica de garantir que a escola mantenha a comunicação rápida e eficaz, e ainda oferecem como benefício o fato de delimitar aquele espaço como um local de confiança entre família e escola.
“Um dos pontos principais na relação entre pais e unidade de ensino é a confiança. A escola pode ser ótima, porém, se os pais não confiarem, não darão o espaço que ela precisa para cumprir bem o seu papel”, explicam.
Pais extremamente preocupados
No caso das famílias extremamente preocupadas, o grande desafio é ouvi-las para realmente entender o que elas têm a dizer. “A tendência da escola, que sempre está cheia de demandas ocorrendo simultaneamente, é ouvir já com o foco na resposta, ou pronta para ‘resolver’ a questão. No entanto, muitas vezes esses pais só precisam sentir que estão sendo ouvidos”, explicam as educadoras.
Segundo elas, quando conquistadas, as famílias mais preocupadas podem se tornar as maiores aliadas da escola. E para conquistar esses familiares, elas sugerem que os gestores se atentem para não acioná-las somente quando acontecer algum problema. “O papel da gestão precisa ser ativo”, afirmam, apresentando algumas dicas:
– Ligar para os pais num dia qualquer só para contar algo interessante sobre o filho;
– Entrar em contato para saber como está sendo o momento da tarefa em casa;
– Mandar fotos da criança desenvolvendo alguma atividade dentro da sala de aula ou em outra dependência da escola;
– Apresentar informações claras sobre os objetivos da turma e as atividades a serem desenvolvidas pelos estudantes para atingir esses objetivos.
“Essa mudança de postura gera um impacto positivo enorme e leva confiança e respeito pelo trabalho da escola, mesmo para as famílias mais desafiadoras”, afirmam.
Mãe e filha, as educadoras Taís e Roberta Bento são fundadoras do SOS Educação, projeto nas redes sociais e internet que ajuda pais e escola a melhorar a relação dos filhos com os estudos. São também autoras do livro “Socorro, meu filho não estuda!”.
No dia 13 de abril, elas ministram uma das 28 palestras do evento Conecta – Escolas Exponenciais, realizado no Expo Center Norte, em São Paulo. Voltada a gestores, diretores e mantenedores de escolas privadas, apresentação dessa dupla terá como tema: “Como lidar com os desafios da relação escola-família em tempos de grupos de Whatsapp”.
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Confira mais na página do evento:
5ª edição do Conecta Escolas Exponenciais será realizada presencialmente em abril