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Vivemos em um mundo digital e as escolas também estão sendo impactadas cada vez mais por essa revolução digital. Mas como, então, trazer de forma efetiva a aprendizagem para o século 21?

Para Fernando Shayer, sócio fundador e CEO da Cloe e da Camino Education, tudo começa com a intenção, já que é muito fácil e confortável continuar a fazer aquilo que já está sendo feito.

Ele afirma que na Camino Education, que é uma escola que tem cerca de 300 alunos em São Paulo, a educação é concebida dentro de uma revolução digital e com a intenção de sempre dar um passo para o futuro. “Essa intenção tem que ser seguida imediatamente por uma ação, não adianta a gente só querer, tem que querer e tem que fazer”, alertou. 

Por meio da consciência e de perceber que existem caminhos que não têm mais volta, Shayer diz que é possível trazer toda a organização para trabalhar em prol da revolução digital na escola.

 

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Entender o mundo digital

Fernando Shayer chama atenção para o fato de que muito provavelmente seremos lembrados, daqui a 250 e 300 anos, como as pessoas que viveram no começo da revolução digital, assim como acontece hoje ao estudarmos sobre a Revolução Industrial.

Essa nova revolução pela qual o mundo passa gera mudanças no padrão de consumo, de produção e distribuição de renda, de educação, dentre outros. 

Sendo assim, a escola deve estar atenta para o fato de que os alunos de hoje podem perder espaço para trabalhos que vão ser feitos pelas máquinas e que é preciso educar estudantes com pensamento crítico e que consigam criar resoluções de problemas

“A pergunta chave que temos que se fazer hoje estando dentro das escolas é: o que as nossas crianças têm de saber para ter um diferencial no mundo que é muito diferente do nosso?”, questiona.

Pilares para o “novo” mundo

Fernando Shayer elenca dois pilares que orientam a prática escolar em relação ao futuro. 

  • Aprendizagem: é a palavra mais importante da escola daqui em diante, mais do que um ensino, aprendizagem em todos os níveis. A escola tem que aprender, pois se ela fica no lugar do que já sabe fazer, tem uma grande chance de perder seu espaço, assim como as empresas que deixaram de inovar porque achavam que já tinham os conteúdos cativos.
  • Humildade: a aprendizagem cria também uma humildade no ambiente escolar. Isso não é fácil e não porque não somos humildes, mas porque a gente tem tido muito sucesso durante séculos nesse mesmo modelo e tendemos a replicar aquilo que teve êxito. Mas o que nos trouxe até aqui não é necessariamente o que vai nos levar para o futuro.

 

Pedagogia

Atualmente, a nova pedagogia tem um foco muito maior em desenvolver competências dos alunos. O foco não é só o que se aprende, mas é como se aprende dentro das escolas e aprender a fazer isso também é muito relevante.

Além disso, Shayer fala do aprendizado dos professores, que possuem jornadas e experiências de aprendizagem próprias.

“É muito importante a escola investir na formação dos professores, não só para o uso de ferramentas digitais. É para essa nova pedagogia que faz os alunos estarem preparados para esse outro mundo”, sugeriu. “Aprender é sempre uma chance que a gente tem de evoluir, de questionar aquilo que a gente já sabe e dar um passo para o futuro”.

Desenvolvendo a evolução da escola, a nova pedagogia deve focar no ensinamento para que o aluno tenha a oportunidade de aplicar na prática aquele conteúdo que está aprendendo.

“É muito mais baseada em projetos e no desenvolvimento de competências que estão descritas na base, do que propriamente só um conhecimento de conteúdo, em particular até o médio, quando eles ainda não estão sujeitos aos exames que são mais baseados em conteúdo”, explicou.

Fernando ressalta que é importante que essas habilidades sejam desenvolvidas em todas as disciplinas e não apenas no espaço maker da instituição.

“Não podemos esperar que uma aluna seja criativa se ela só é cobrada a dar resposta que tem certo e errado na prova. A gente não pode esperar que o aluno seja comunicativo se cada vez que levantar mão tomar bronca, que o aluno seja interativo se está sentado atrás de uma carteira de alguém e não olhando no olho de outro aluno. Não podemos esperar que esse aluno saiba fazer pesquisa de dados, se a informação está toda na apostila”.

Fernando também chama a atenção para a necessidade de substituir o livro didático físico, comparando sua obsolência com a fita cassete.

“No meio digital, o conteúdo tem a foto, o filme, vídeos, toda a internet para fazer pesquisas, ambientes curados para fazer isso, ele tem a própria escola online, toda a aula ocorre por meio dessa mesma plataforma, ele tem integrada toda essa experiência de aprendizagem do ponto de vista de avaliações, interação com professores, tudo isso por uma fração de preço do livro impresso”, explicou. 

Com a economia na impressão, a escola pode ter recurso para investir em formação de professor e em infraestrutura, por exemplo. Além dos custos, estar no meio digital também é algo que democratiza o acesso à informação e à educação.

O aluno não se engaja nesse modelo de aula tradicional em que o professores entrega o conteúdo e ele passa 6 horas fazendo atividades da apostila. A pedagogia do século 21 precisa ser mais baseada em projetos, que parta de temas que são mais relevantes para os alunos, não só relevantes para as apostilas, e que prepare esse aluno para o mercado globalizado. 

“Temas digitais, de dados, de computação não podem mais ficar longe da formação dos nossos alunos. Não é só fazer uma aula de programação, é de fato pensar como se pensa a resolução de problemas complexos, com algoritmo”, explicou Fernando.

Experiência do usuário

Segundo o CEO da Cloe e da Camino Education, a educação de hoje precisa pensar na experiência do usuário, assim como as grandes empresas de tecnologia Uber, Netflix e Spotify.

Nesse sentido, a escola precisa basear sua educação no aluno e não mais no professor. Shayer ressalta que não existe educação sem uma relação entre o aluno e professor, mas que atualmente o “desenho instrucional” tem que estar baseado muito mais em como o aluno aprende. É pensar na personalização do ensino para cada usuário, e não como todos os alunos, de uma maneira geral, devem receber informação.

No ensino de hoje, o aluno é avaliado pela quantidade de conteúdo que absorveu. Mas no aprendizado do século 21, isso já não é o principal. Atualmente, pouco importa se o aluno tenha ficado quieto todos os anos em que passou na escola, se ele teve contato com a realidade que está vivendo, se desenvolveu criatividade ou habilidades de comunicação.

“Isso era muito bom até agora, mas não mais em um mundo em que cada vez mais a informação está disponível de graça na internet. O nosso aluno que está na sala de aula hoje vai entrar no mercado de trabalho em 2035 e vai ficar até 2095 nesse ambiente. Imagina o quanto as máquinas vão saber do conteúdo que hoje eles estão aprendendo na sala de aula?”, alerta.

O conteúdo é importante, ressalta Fernando, afinal sem ele não existe o aprendizado. No entanto, é preciso ter um esforço da escola em reorganizar a informação e na forma de se dar a aula. 

“Infelizmente os pais ainda não têm toda a visibilidade desse processo e o Enem não conversa muito com essa nova realidade. As escolas têm que fazer um movimento muito gradual para ir de uma pedagogia mais tradicional para uma pedagogia mais inovadora”, disse.

O ser humano se diferencia da máquina por ser capaz de ter emoções e a intuição, de se relacionar e socializar. Isso é muito difícil da máquina substituir, porque o algoritmo que a máquina teria que saber para lidar com uma relação humana é muito difícil. 

Para Fernando, é essa capacidade de resolver problemas muito complexos que precisa ser desenvolvida. “O conteúdo não pode ser a única resposta, tem que ser a criatividade, capacidade de trabalhar em rede e com os outros. É algo diferente do que a gente teve como educação, então como é que conseguimos olhar para o futuro e reconhecer que o mundo vai ser diferente do que é o nosso?”, perguntou.

Não dar esse passo para levar a aprendizagem para o século 21 agora pode significar formar alunos que vão ter muita dificuldade de diferenciação no futuro e que não vão estar preparados para um mundo que vai exigir que ele saiba resolver problemas.

 

Assista à palestra completa:

Como trazer a aprendizagem para o século 21?