Coronavírus: como cuidar da saúde mental durante a quarentena?
A suspensão das aulas foi uma das medidas adotadas pelo governo brasileiro em meio aos esforços para conter a contaminação pelo novo coranavírus, que provoca a doença Covid-19. Após o anúncio da paralisação, em poucos dias as escolas tiveram de se adaptar a nova realidade: o ensino online.
Agora, diversos gestores precisam administrar todo funcionamento pedagógico da instituição, pela internet, além de gerir a relação com corpo docente, alunos e família. Com tantos desafios e mudanças na rotina, cuidar da saúde mental é fundamental.
De acordo com o pedagogo e psicólogo Rodrigo Camalionte, considerando a mudança no cotidiano do trabalho, os gestores devem buscar compreender que foram alteradas as estruturas, mas não os procedimentos.
“Objetivos precisam ser traçados, metas estabelecidas com a equipe pedagógica e as tarefas devem ser executadas segundo critérios definidos coletivamente e com a participação do núcleo educacional da escola”, pontua.
Mas, você pode se perguntar, qual é a relação dessa prática com seu bem-estar, certo? Segundo Camalionte, todo ser humano é funcional e parte de sua identidade é constituída pelo trabalho e suas funções profissionais.
“Qualquer desequilíbrio desta relação ‘eu-trabalho’ pode implicar em situações desagradáveis também em outras esferas e relações do nosso cotidiano. Um desequilíbrio pode causar um colapso na saúde mental em efeito ‘bola de neve’ generalizado. Ansiedades, angústias e preocupações em demasia corroboram para que este quadro se instale levando o gestor a novas preocupações e pensamentos destrutivos, vista a sua responsabilidade e a necessidade de liderar a equipe para que os demais também se nutram da coesão funcional da profissão”, explica.
Já para a psicóloga cognitiva comportamental Viviana Rosa Reguera Ruiz, cada gestor precisa elaborar internamente o papel da quarentena, do isolamento social, como exercer sua função de forma satisfatória, a preocupação com seus familiares e, ainda, entender suas próprias emoções.
Após essa reflexão, com base em estudo realizado pela revista Lancet em março deste ano, Viviana afirma que algumas ações e posicionamentos podem ajudar a preservar a saúde mental.
“O online não precisa ser sinônimo de distanciamento, para tanto, as dificuldades de uso, manejo e compreensão devem ser respeitadas e acolhidas pelos gestores, sugerindo intervenções para facilitar o acesso e a execução das funções de cada um”, pontua.
A psicóloga sugere ainda não negar as dificuldades com o uso das tecnologias e compartilhar com a equipe os obstáculos encontrados. “Estamos todos nos adaptando e essa é uma situação naturalmente estressante. Realize a manutenção de uma rotina flexível, e possível, que se aproxime da rotina realizada antes da pandemia, com respeito aos horários de sono e almoço, a criação de um espaço de trabalho em casa, com momentos de ócio e lazer”, sugere.
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Segundo a psicóloga cognitiva comportamental Viviana Rosa Reguera Ruiz, oscilações de humor vão ocorrer durante a quarentena, e tudo bem. Porém, é necessário se preocupar quando os sentimentos forem intensos, duradouros e paralisantes. Nesse caso, a orientação é buscar ajuda especializada.
“Além disso, práticas de vazão de emoções negativas podem ser incluídas na rotina, como por exemplo: meditações guiadas, respiração calma, alongamentos, danças, expressões artísticas, escrever sobre sentimentos, manter contato com amigos e pessoas queridas, quaisquer atividades prazerosas, mesmo que simples, auxiliam”, recomenda.
Viviana ainda afirma que o apoio entre gestores, em um espaço online que seja seguro e sem julgamentos, onde seja possível compartilhar os anseios referentes ao trabalho à distância e outras dificuldades latentes, protege a saúde mental individual e da equipe em geral.
“Cientes de que essa é uma situação temporária e necessária que exige empatia e adaptação, na qual alguns gestores vão gerir com mais facilidade do que outros, a união e comunicação aberta são ferramentas essenciais. Importante também que o gestor trabalhe dentro do que for possível nesse momento, sem se cobrar excessivamente e sem se definir por suas dificuldades e angústias atuais”, ressalta.
A psicanalista clínica Magdaly Maciel destaca que é preciso ter um olhar atento aos gestores e professores durante a quarentena. “Faça conferências regulares e coloque o assunto da saúde emocional na pauta para falar sobre como está sendo o processo para todos os envolvidos”, indica.
Como lidar com a nova comunicação entre professores, alunos e famílias?
A pandemia mudou a rotina escolar e as aulas à distância são novidade para a maioria das instituições de ensino. Além da preocupação em oferecer com eficácia as aulas online, os gestores ainda precisam manter diálogo certeiro com o corpo docente, alunos e famílias. E nesse cenário, passando desde a equipe pedagógica até chegar nas mães e nos pais, a “nova forma” de ensino tem provocado muita angustia.
Apesar das inseguranças serem totalmente compreensivas, a pressão dos gestores torna-se ainda maior. Com tantas atribulações, é preciso se atentar com a saúde mental para poder passar pela quarentena, administrando todos esses quesitos, da melhor forma possível.
“A novidade é uma realidade para todos neste momento. Lidar com o incerto gera dúvidas e preocupações. Pais e alunos estão no foco do atendimento e direcionamento pedagógico. O que fazer? Informação. Quanto mais informação, pessoas para dar assistência e canais de comunicação, melhor”, afirma o pedagogo e psicólogo Rodrigo Camalionte.
De acordo com o profissional, todos estão preocupados com os recursos educacionais, que agora estão sistematizados em outras ferramentas. “Tomar conhecimento desde novo caminho tranquiliza a todos os envolvidos e permite que a coletividade caminhe em conjunto”, ressalta.
Para Camalionte, a equipe pedagógica precisar ser capacitada e treinada, mesmo que em caráter online. “Para tanto, conhecimento e ferramentas terão que ser bem estruturados garantindo o aparelhamento e instrumentalização de todos os envolvidos”, pontua.
Entretanto, a psicanalista clínica Magdaly Maciel lembra que a tecnologia não funciona da mesma forma para todas as faixas etárias. “Não faz sentido aulas online para educação infantil. É importante utilizar a tecnologia de acordo com cada segmento para fortalecer o trabalho pedagógico de acordo com as necessidades de desenvolvimento de cada idade”, esclarece.
Nesse sentido, ela acredita que a escola deve focar na produção de materiais para aproveitamento do chamado ‘ócio criativo’, disponibilizando conteúdos e sugestões de atividades em família, como dicas de leitura, filmes, games e solução de problemas. Um caminho para ocupar de forma produtiva o tempo que os todos estão passando em casa, mas sem deixar os pais e mães de crianças pequenas ainda mais agoniadas com o sentimento de obrigação de cumprir as tarefas.
Ainda na relação professores-alunos-escola, a psicóloga cognitiva comportamental Viviana Rosa Reguera Ruiz reforça a necessidade de se estabelecer e manter uma comunicação acessível, seja por telefone, chamadas de vídeos ou mensagens. Ela ainda incentiva, inclusive, a criação de grupos de apoio entre pais, pais e professores, gestores e professores, professores e alunos.
“Compreendendo que o período de adaptação e apropriação da rotina à distância não será o mesmo para todos. Além dessas práticas fortalecerem e demonstrarem a eficácia nesse momento do vínculo online, garantem um nível de sociabilidade que ameniza as angústias e sentimentos de isolamento e solidão”, completa.
Para Viviana, uma das preocupações dos gestores, nesse momento, como medida de promoção de saúde mental tantos para si mesmo quanto para professores, famílias e alunos, deve ser a viabilização de suporte especializado com profissionais de psicologia e psiquiatria.
“O gestor deve atuar como ponte, fazendo parcerias, divulgando profissionais online, espaços de acolhimento e a existência de grupos de teor terapêutico”, afirma.
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