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A Federação Mundial da Saúde Mental instituiu que 10 de outubro é o Dia Mundial da Saúde Mental, data criada para os países discutirem e refletirem sobre as ações para esse tema. E, mais do que nunca, esse debate também precisa estar presente nas escolas.

O retorno das atividades presenciais, após o fechamento das escolas durante a pandemia, trouxe para dentro da sala de aula uma nova emergência: a  preocupação com a saúde mental. Diversas pesquisas dos últimos meses alertam para o aumento de problemas de saúde mental entre alunos e professores.

Ainda que o assunto esteja cada vez mais presente nas salas de aula, ações de promoção da saúde mental ainda estão longe de serem uma realidade nas escolas brasileiras. Uma pesquisa da Associação Nova Escola identificou que mais da metade dos professores da educação básica do país nunca receberam nenhum treinamento ou formação para lidar com essas questões. 

“A grande maioria das escolas públicas e privadas do país não estão sabendo lidar com essa situação, que não é nova, mas foi agravada pela pandemia. Não é culpa nem responsabilidade exclusiva das escolas. Elas precisam de ajuda, apoio e ações para enfrentar essa nova questão de saúde”, diz Telma Vinha, professora do departamento de psicologia educacional da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

 

Dia Mundial da Saúde Mental: uma ajuda para as escolas

Telma Vinha também é uma das coordenadoras do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral), da Unicamp,  que tem assessorado escolas de diversas cidades a lidar com problemas de saúde mental. 

“Professores e diretores têm pedido muito nossa ajuda, porque estão com dificuldade de lidar com essa situação cada vez mais frequente. Infelizmente, nosso grupo não consegue atender nem 10% das escolas que pedem ajuda”, conta. 

Telma explica que há dois tipos principais de intervenção nas escolas para lidar com saúde mental, uma preventiva e outra emergencial. Segundo ela, a maioria só pede ajuda especializada na segunda ocasião. Mas para um enfrentamento efetivo é preciso um planejamento de prevenção, com ações para médio e longo prazo.

“É preciso mudar o clima e o ambiente escolar, aquele espaço precisa ser acolhedor e trazer segurança para alunos e professores. Essa não é uma mudança que acontece da noite para o dia”, explica.

 

Escola foca em ações consistentes e contínuas ao longo do ano

A escola Tarsila do Amaral, na Água Fria, zona norte da capital paulista, trabalha com diversas ações durante todo o ano exatamente, e não apenas no Dia Mundial da Saúde Mental, justamente por entender que a promoção da saúde mental exige um esforço contínuo. 

A escola conta com uma psicóloga que promove ações específicas para alunos, pais e funcionários. Algumas delas são individuais e outras coletivas a depender da situação. 

“Logo que a criança é matriculada, eu chamo os pais para uma conversa. A ideia é conhecer a história daquela criança, suas características e personalidade. Assim, eu acompanho a evolução dela dentro da escola”, conta a psicóloga Angela Carbonari.

A partir dessa primeira conversa, a psicóloga analisa observações que podem ser importantes a serem repassadas aos professores para que atendam melhor a criança em sala de aula. O contrário também pode acontecer, quando o professor compartilha algo sobre o comportamento da criança que deve ser comunicado aos pais. 

“Claro que nem tudo é compartilhado, mas estamos atentos ao que pode ser um comportamento agressivo ou ansioso que pode extrapolar o normal. Dessa forma, agimos rapidamente para ajudar aquela criança”, conta. 

Ela conta que, desde o retorno às aulas presenciais, os professores têm percebido os alunos com dificuldade de controlar as emoções, o que acaba se refletindo em um comportamento mais agressivo e agitado. 

“Umas das tarefas que mais tenho exercido nesse ano é orientar e ajudar os professores a lidar com as crianças nesse momento. Por exemplo, ajudando os docentes a explicar aos alunos sobre emoções, sentimentos e como exprimi-los e externalizá-los. Isso ajuda as crianças a se acalmarem”, diz.

 

Dia Mundial da Saúde Mental impulsiona acolhimento e apoio emocional

No colégio Luminova, em Natal, há mais de um mês também estão sendo desenvolvidas atividades para tratar do assunto com os alunos. A unidade conta desde o início do ano com uma psicóloga que fica todos os dias na escola para prestar apoio e suporte imediato em casos de crise de ansiedade ou apenas para um desabafo dos estudantes. 

Essa profissional faz o atendimento emergencial dos alunos e encaminha para atendimento clínico aqueles que considera ser necessário. 

Para que os alunos se sintam confortáveis para essa troca com a especialista, o colégio tem desenvolvido outras ações. Por exemplo, no último mês, as turmas tinham um mural fixado nas salas com a pergunta: como vai você? E os estudantes podiam responder escrevendo seus sentimentos em cartões de cartolinas. 

A atividade, que parece simples, tinha como propósito fazer as crianças e adolescentes a reparar em como estavam se sentindo e se tornar mais conscientes do próprio comportamento. 

 

O que é saúde mental, segundo OMS?

A OMS (Organização Mundial da Saúde) define saúde mental como uma situação de bem estar no qual o indivíduo desenvolve habilidades pessoais para conseguir lidar com os estresses e situações do cotidiano. 

Especificamente em crianças, o apoio à saúde mental implica no desenvolvimento de aspectos como o controle e compreensão dos pensamentos e emoções, uma visão positiva sobre si e habilidades para lidar com situações adversas.

O adoecimento mental se caracteriza, por exemplo, por crises de ansiedade, depressão, automutilação e ideação suicida. 

 

Porque cuidar da saúde mental é papel da escola?

Problemas de saúde mental podem piorar o desempenho e ampliar a evasão escolar. Além disso, como esse é o espaço de principal convivência e desenvolvimento de crianças e jovens, é fundamental que a escola possa acolhê-los de forma plena. 

“Em uma situação de trauma coletivo, como a que vivemos durante a pandemia, o corpo responde ficando sempre vigilante, sempre pronto para agir contra o perigo. Foi o que ocorreu com todos nós, em especial crianças e adolescentes que tinham menos ferramentas emocionais para lidar com esse estresse”, explica Telma.

“Quando o cérebro se encontra em estado de hipervigilância, sobra pouco espaço cognitivo para que se possa aprender. Ou seja, os problemas de desempenho que estamos vendo nas escolas são reflexo também dessa situação de estresse prolongado, por isso, é preciso cuidar da saúde mental dos alunos”, conclui. 

 

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