Procurar novos caminhos para encontrar a melhor forma de educar uma criança tem sido uma busca cada vez mais constante. Conscientes dos desafios e da responsabilidade que esse processo exige, é crescente a adesão das escolas e das famílias pela disciplina positiva na escola, uma maneira equilibrada de ser firme e gentil ao mesmo tempo. Trata-se de uma ferramenta de educação que busca estabelecer limites de forma respeitosa e, ao mesmo tempo, incentiva a liberdade e autonomia das crianças. Difere-se dos métodos tradicionais, que adotam uma postura mais severa e punitiva. Mas, também, não caminha pela permissividade, cedendo a todas as vontades do filho e/ou aluno.
Para a consultora educacional Bete P. Rodrigues, que atua na área da Educação há mais de 30 anos, é palestrante, coach parental, professora, tradutora da série de livros de Disciplina Positiva e Trainer em Disciplina Positiva para mães, pais e profissionais, é uma abordagem socioemocional, que oferece ferramentas práticas e alternativas gentis e firmes para que os adultos possam lidar com os comportamentos desafiadores das crianças e dos adolescentes. “Gosto de dizer que a disciplina positiva é uma mudança de paradigma para quem aprecia. As pesquisas que existem mais recente demonstram que, a longo prazo, punição e permissividade não são eficazes”, pontua a profissional, que também administra a conta @disciplinapositivabrasil no Instagram.
Baseada no afeto, no respeito, na compreensão e no aprendizado mútuo, a ferramenta visualiza o amplo desenvolvimento da criança. Quando aplicada, tanto no ambiente escolar quanto nos lares, a educação positiva melhora o desempenho escolar, fortalece vínculos, estimula a autoconfiança, entre tantas habilidades que preparam os indivíduos para a vida.
“É uma abordagem que vai criar relacionamentos saudáveis, tanto na família quanto na escola. Existe uma diminuição evidente nos conflitos, entre alunos e professores, alunos e alunos, colegas de trabalho, escola e família. Os cursos e workshop de disciplina positiva ajudam os adultos a refletirem sobre seus estilos parentais e/ou de ensino, e a compreenderem melhor as crenças por trás dos comportamentos desafiadores das crianças. Todo clima escolar fica mais empático e respeitoso”, afirma Bete.
Vale lembrar que os conceitos de disciplina positiva surgiram na década de 1980, em um guia para pais e educadores que desejavam desenvolver habilidades de vida em seus filhos e seus alunos, desenvolvido por Jane Nelsen, que se baseou no trabalho de Alfred Adler e Rudolf Dreikurs.
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Como aplicar disciplina positiva na escola?
Um primeiro passo para conhecer essa teoria é recorrer à literatura. Atualmente, há diversas obras em inglês e muitas delas já foram traduzidas para o português. De acordo com a consultora educacional Bete P. Rodrigues, é preciso conhecer os princípios dessa abordagem para, então, conseguir colocar as ferramentas em prática.
“A escola também pode contratar algum palestrante ou profissional certificado pela Associação Internacional de Disciplina Positiva para conduzir palestras, workshops e cursos para educadores e colaboradores”, recomenda Bete.
De acordo com educadora e coach parental Valéria Torres, que administra a conta @torres_educa no Instagram, as estratégias da disciplina positiva são infalíveis e restauram a ordem e a harmonia em sala de aula, mesmo nas práticas virtuais. Valéria ainda acredita que a ferramenta é uma aliada dos educadores para combater a apatia das crianças e adolescentes.
“Escolas podem aplicar a disciplina positiva utilizando as ferramentas essenciais e práticas que preparam o corpo docente e os pais a se tornarem aptos a promover as habilidades básicas de resolução de problemas e criar uma atmosfera que amplie a aprendizagem, pelo estímulo à cooperação, responsabilidade e o respeito mútuo de forma didática e envolvente”, explica Valéria.
5 dicas para sua escola colocar em prática
- Incentive a criança e ao adolescente a pensar: estimule os alunos a refletirem sobre as questões do dia a dia e sobre suas próprias atitudes;
- Lembre que crianças aprendem pelo exemplo. Por isso, professores e gestores precisam ser exemplos. Trate toda a comunidade escolar com respeito, empatia e gentileza. Eles vão aprender muito apenas observando os adultos que admiram;
- As regras são importantes e devem ser estabelecidas. Faça combinados e seja firme para que os acordos sejam seguidos. Se houver frustração ou resistência, é uma boa oportunidade para falar sobre os sentimentos e sobre a importância de seguir as regras;
- Foque sempre no diálogo. É por meio da conversa que os todos entenderão os limites estabelecidos. E, quando acontecer desentendimentos e questionamentos, incentive o diálogo para a busca de soluções;
- Valorize o esforço dos alunos. Eles se sentirão reconhecidos ao perceber que a escola nota seu esforço e valoriza suas qualidades.
Como auxiliar as famílias?
Além de adotar a disciplina positiva no ambiente escolar, gestores e educadores também podem incentivar as famílias a prática de uma educação mais respeitosa, firme e gentil. Para isso, é possível promover cursos e palestras, além de disponibilizar alguns materiais, como livros que abordem esse tema.
“Já estive em dezenas de escolas pelo Brasil palestrando sobre disciplina positiva e, em várias delas, eu tive a oportunidade de dar cursos dentro da escola. Foram escolas que abriram as portas para que pudéssemos formar grupos de pais e mães interessados”, explica a consultora educacional Bete P. Rodrigues. Nessas vivências, a profissional ensina aplicar as estratégias e ferramentas da disciplina positiva.
A educadora e coach parental Valéria Torres também acredita que a melhor forma de preparar e incentivar pais e mães a praticarem a disciplina positiva é possibilitando o conhecimento dessa ferramenta. “Modelar é sempre o melhor caminho. Há uma série de depoimentos de situações que inspiram pais e/ou escolas a partir da mudança do comportamento da criança e do adolescente, que se sentem motivados e entusiasmados”, pondera.
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