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Você sabia que a felicidade, especificamente, Felicidade Interna Bruta (FIB), é um dos indicadores que a Organização das Nações Unidas (ONU) utiliza para avaliar o desenvolvimento de uma nação? No Relatório Mundial da Felicidade 2017– 2019, Finlândia, Dinamarca e Suíça ocupam as três primeiras posições do ranking. Qual será o segredo desses países? 

Aline Basso, mãe, educadora e profissional certificada em Disciplina Positiva e Consultora em Encorajamento, resolveu fazer uma viagem de exploração para Dinamarca em busca de respostas. “Nos meus estudos, eles diziam que a Dinamarca é o país mais feliz há 40 anos, o povo mais cooperativo e resiliente, e eu dizia “não é possível, o que será que eles têm que a gente não?”, explica.

Há quem diga que a economia, a saúde de ponta e a educação de qualidade são fatores que justificam tal posição da Dinamarca; de certa forma, sim. Já é sabido que a educação tem impacto no desenvolvimento da sociedade e na construção da perspectiva de vida do indivíduo. O Relatório da Felicidade, agora, só fez reforçar o quanto a educação reflete no status socioeconômico e como este, por sua vez, influencia no bem-estar subjetivo.  

Mas em sua viagem, Aline desejava, principalmente, entender o que fazia desse povo tão cooperativo e resiliente. Durante o seu trabalho em uma escola dinamarquesa, ela descobriu que o comportamento cooperativo vem de forma muito genuína das crianças, ou seja, o estímulo à solidariedade e trabalho em equipe ainda na escola reflete positivamente na vida adulta.

E agora, com o isolamento social, crianças e adultos estão sentindo os efeitos negativos dessa falta de convivência – o abraço, o aperto de mão e a conversa olho a olho. Ao mesmo tempo, como explica Aline, isso permite gerar uma reflexão sobre a importância da socialização e da comunicação. 

“Se nós somos seres sociais, e queremos estar em relacionamento com os outros, a gente precisa aprender a se conectar. Quando eu quero falar para ser ouvido, não adianta eu chegar e dar uma ordem para outra pessoa, se eu chego para o aluno e falo “olha, quero que você coloque um copo de água na minha mesa agora, já”, eu fui clara no que eu pedi, minha comunicação foi bem direta, mas não existiu a conexão antes da comunicação”.

 

Metodologias ativas e alunos protagonistas: o novo normal na educação

 

Essa conexão é mediada pelo cérebro social, um área da neurociência que se refere à capacidade de gerar e manter relacionamentos com outras pessoas. Paralelamente, esse conceito evoca o senso de pertencimento, “o ser humano, para se sentir bem, realizado e pleno, ele tem que sentir que pertence àquele ambiente, àquela família, àquela comunidade”, comenta a educadora.

A escola, em especial os professores, tem papel fundamental na construção desse sentimento de pertencimento. Mas isso só é possível quando o educador, antes de tudo, consegue estabelecer conexão com outras pessoas ao seu redor. Assim, como consequência, ele também consegue levar isso para dentro da sala de aula.

 

Utilizando a metodologia do 3C’s para fortalecer conexões

Reflita: se você tem um relacionamento que não está fluindo bem, você acredita que poderia melhorar? Você acha que sua comunicação está sendo gentil e respeitosa com a outra pessoa? Você está se conectando antes ou você está só mandando e fazendo um pedido?

Essa são algumas perguntas que compõem a chamada metodologia 3 C’s (conexão + comunicação = cooperação), que foi desenvolvida por Aline a partir dos seu estudos e convivência com modelo de educação da Dinamarca. Como ela própria define, essa é a receita para se ter relacionamentos saudáveis. 

Em um período de tantas incertezas e medos, a coragem é a mola propulsora para mudanças. Nesse momento de pandemia, a consultora de encorajamento adaptou sua metodologia para os 5 C’s (conexão + comunicação + coragem = cooperação e criatividade), trazendo dois novos elementos: coragem e criatividade.

 “O professor que não tiver conexão, comunicação e coragem, não vai conseguir a cooperação dos seus alunos e ele não vai conseguir esse fator fundamental, que é a criatividade para lidar com tempos de crise”.

 

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Cooperação, conexão e comunicação: foco nessas três palavras para solucionar conflitos na crise

 

O aprendizado socioemocional é para todos

Assim como o medo nos faz agir, a coragem também desperta reações, mas reações guiadas pelo coração. O encorajamento, por sua vez, é o ato de encorajar-se, o que está intrinsecamente ligado às emoções e aos sentimentos.

Entretanto, Aline acredita que o nosso modelo atual de sociedade não está preparado para lidar com os sentimentos, e as consequências disso é a predominância do medo, que acaba influenciando nos relacionamentos. O encorajamento é o segredo, e isso se faz através do aprendizado socioemocional.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz algumas abordagem para desenvolver as competências socioemocionais dos alunos. Mas em relação aos educadores, como trabalhar a questão emocional? Afinal, os gestores e os professores também tiveram sua saúde emocional afetada pela pandemia.

Para encorajar esses profissionais, Aline estimula fazer o seguinte exercício: observar, nomear e neutralizar os sentimentos. Na prática, isso consiste em perceber os sentimentos que causam desconforto, colocá-los em uma caixinha imaginário (ou pasta de computador), reconhecê-los apenas como pensamentos e depois excluí-los. 

Esse gerenciamento dos sentimentos é uma das melhores forma de professores e gestores se prepararem para a retomada das aulas presenciais e, consequentemente, desenvolver essa capacidade de criar conexões com alunos e demais membros da comunidade escolar.

“Quando a gente se encoraja, e quando a gente está encorajado, é que a gente pode fazer qualquer coisa, podemos fazer cursos, […] mudar de carreira, reatar um relacionamento, criar uma aula criativa, cheia de coragem, fazer dieta, emagrecer, casar, o que a gente quiser”, finaliza Aline.

 

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