6 min de leitura

“Se você não preparar sua escola para ter essa realidade de experiência ubíqua [que se dá em qualquer espaço e momento], ela terá passado pela pandemia e terá voltado para antes da pandemia quando as pessoas moravam nos anos 90, elas não estavam usando o que estava disponível em 2020”.

Impactante, a fala de Arthur Igreja, autor, palestrante e co-fundador da plataforma AAA, visa gerar uma reflexão sobre o que as escolas podem esperar para o futuro da educação e qual o papel das novas tecnologias nesse processo.

Segundo ele, ao contrário do que muitos dizem, não houve uma antecipação do futuro, as pessoas que se tornaram mais contemporâneas, isto é, se apropriaram dos recursos tecnológicos já existentes. “Estamos falando de transformação comportamental profunda e avanço tecnológico galopante, então, a pandemia foi só um susto para falar “bem-vindo ao mundo que você já deveria estar vivendo”, afirma. 

O papel do professor no futuro da educação e no contexto de aprendizagem ubíqua 

O termo ubíquo significa “o que está ou existe ao mesmo tempo em toda parte; onipresente”. Trazendo para o nosso contexto, uma aprendizagem ubíqua é aquela que acontece em qualquer lugar, seja de forma síncrona ou assíncrona, e apropria-se dos de dispositivos móveis para a produção e a transmissão de conhecimento.

A educação contemporânea também reordena os papéis em sala de aula; o professor já não é visto como o único detentor do conhecimento e o aluno assume uma posição central no processo de aprendizagem. Assim, o educador contemporâneo nada mais é do que o mediador e o facilitador da interação do aluno com o conhecimento. 

O co-fundador da AAA, que por muito tempo foi professor e consultor, relembra um dilema que ainda é vivido por muitos profissionais: produzir um conteúdo dinâmico, também capaz de propiciar uma aprendizagem significativa.

“Eu estava contando histórias e levando conteúdo para pessoas, mas em um momento dentro de universidades e outro momento dentro de empresas. A partir do momento que percebi que o que havia de em comum entre tudo isso era o conteúdo e a forma pouco importa, desculpa, não é que ela pouco importa, mas ela é secundária, isso é libertador, porque o mundo da ubiquidade traz novos formatos”, relembra.

Confira também:

Como usar tecnologias digitais para aplicar metodologias ativas?

Como se apropriar das tendências globais para construir o futuro da educação

Atualmente, o mundo valoriza formatos dinâmicos, que valorizam a individualidade e permitem a personalização. Mas o que isso significa? É se apropriar das tendências, inclusive das redes sociais, mas sem abandonar o ensino dos conteúdos de base. 

O consumo de streaming de vídeo, por exemplo, cresceu na medida em que as pessoas se viram obrigadas a permanecerem em isolamento em função da COVID-19. Só no Brasil, são 19 milhões de usuários, que dedicam horas na semana para assistirem aos conteúdos da plataforma. 

Agora falando sobre redes sociais, o TikTok já ultrapassou a marca de 1 bilhão de usuários ativos, dos quais cerca de 7 milhões são brasileiros que consomem diferentes tipos de conteúdos, além do humorístico. Você, gestor ou educador, já parou para pensar que entre esses milhões de usuários estão alunos e pais? 

“Por alguma razão isso está chamando atenção das pessoas”, comenta Arthur, que afirma que já não é cabível a associação das redes sociais apenas ao entretenimento.Se isso está sendo de tal maneira cativante para o público, quais são os ingredientes que nós estamos perdendo, ou que poderíamos incorporar?”, questiona.

A mesma lógica, segundo ele, se aplica às plataformas de streaming. O mesmo consumidor que paga para tem uma experiência incrível no streaming, quer aquela mesma velocidade para resolver questões burocráticas na escola, “não são duas pessoas diferentes”, destaca. 

Alguns formatos, simples e de baixo-custo, podem ser incorporados por instituições de diferentes segmentos e tamanhos:

Veja também como usar tecnologias digitais para aplicar metodologias ativas.

É importante reforçar que a tecnologia não vai substituir o papel dos professores no futuro da educação. Nas palavras do co-fundador da AAA, “o fenômeno que mais traz progresso na vida chama-se educação, e traz prosperidade, convívio, boas conexões e cultura”.

A sua advertência, em especial, é em relação aos modelos pouco tecnológicos e muito engessados. Por isso, ele reforça a importância do desapego à forma, isto é, ao ensino defasado, uma vez que o momento atual exige adaptação às mudanças e dinamismo.  

“Pode ser que hoje você esteja dentro da sala de aula, pode ser que amanhã você tenha que gravar um podcast, não importa. O que importa é quem é você, a sua comunicação, didática, o quão pedagógico você é e a qualidade do seu conteúdo, por qual canal você vai mandar isso é absolutamente secundário e irrelevante”. 

Dados como aliados para construção do futuro da educação

Considerado como o novo petróleo, os dados hoje são um dos recursos mais valiosos do mundo. Porém, se não forem refinados e transformados em informação, não podem ser usados e gerar vantagens competitivas.  

“Ainda não existem refinarias”, afirma Arthur. “Ninguém abastece o carro com petróleo, abastecem com gasolina, caríssima, ou seja, informação crua não te serve para nada, informação que se transforma em insight, e insight que vira transformação”, reforça. 

Descubra como como usar dados para medir a aprendizagem.

Em sua perspectiva, a educação ainda usa muito pouco dados. Não há possibilidade de entender as tendências globais sem o entendimento do comportamento das pessoas, é preciso ter uma cultura data driven, ou seja, colocar os dados no centro das decisões.

“Então, me parece que é isso, o nosso maior desafio para você criar uma escola do futuro é uma escola em que exista uma colaboração muito próxima por parte de todos os atores e um contexto em que o aluno está consumindo conteúdos dessa forma atomizada, dinâmica e comprimida”, conclui Arthur.

Assista a palestra completa:

Mais tecnologia ou mais pedagogia: o que esperar do futuro da educação?