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Entre os desafios da educação, uma pergunta permanece no centro da atenção de gestores escolares, principalmente em momentos de crise como os que temos enfrentado nos últimos anos: como criar um plano de ação escolar para crescer exponencialmente?

Vahid Sherafat fundou, junto a Samin Shams em 2014, o aplicativo de agenda escolar Classapp – e, em seguida, o Escolas Exponenciais. Para ele um dos diferenciais das escolas que cresceram exponencialmente é conhecer profundamente a “força motriz”- ou seja, a essência que impulsiona a instituição, sua equipe e seus alunos.

Instituições que cresceram exponencialmente

Pensando no crescimento escolar, o especialista cita alguns exemplos de sucesso: o primeiro – mostrando crescimento em escala e atendimento – é do Colégio Ari de Sá, no Ceará, que publicou e distribuiu seu material para milhares de outras escolas brasileiras, criando a base para o sistema SAS

 

“Foi um jeito de criar um efeito mais exponencial a partir de replicar um conteúdo acadêmico”, explica Vahid. 

Outro exemplo é o da Red House, escola internacional que surgiu durante a pandemia e hoje já conta com 20 unidades. “Incrível como rapidamente você consegue crescer uma escola hoje em dia se você tiver recursos e investimento”, reflete Vahid.

A exponencialidade da educação

Ele também defende o aspecto de “exponencialidade” da educação – afinal, esses esforços têm influência real nas vidas dos alunos que, em alguns anos, podem por sua vez impactar as vidas de outras milhares de pessoas, e assim por diante. 

E, se os esforços forem suficientes, a instituição de ensino também pode ser o palco de educadores que se tornam referências mundiais. “A gestão que vocês têm do trabalho deles, o empoderamento que você dá para esse professor pode destravá-lo num ponto que ele pode ser referência no Brasil, na sua região, no mundo”, diz Vahid. “Não seria difícil isso acontecer em uma escola hoje”.

Como crescer em um mercado competitivo

Segundo Vahid, o amplo leque de opções que existem atualmente, apesar de benéfico em vários aspectos, também dificulta a tarefa dos gestores de tomar decisões. Por isso, ao se perguntar o que se deve fazer para causar o maior impacto possível, o gestor deve ser movido por um objetivo: “destravar o potencial das pessoas”. 

“Algo me guiou na gestão de pessoas, que é o seguinte: um dos meus papéis é ajudar a destravar o potencial dessas pessoas”, conta Vahid. “E a coisa mais difícil de destravar o potencial das pessoas é conectar esse potencial com o sonho delas, aquilo que elas entendem que é o propósito delas, o chamado delas, o que elas sentem que elas deveriam estar fazendo no mundo”. 

Ele explica que, no mundo da educação, se fala muito sobre conteúdo e sobre o que o mercado “quer”, mas não o bastante sobre potencial e sobre o “chamado” dos indivíduos. Já que a educação depende e é feita para seres humanos, esse aspecto, além de único e pessoal, deve ser considerado de um ponto de vista da gestão.

Afinal, como unir tudo isso em um plano de ação escolar para o crescimento exponencial da instituição?

Quatro elementos para o plano de ação escolar

1) Propósito

Propósito é o “por quê” que conecta as pessoas com aquilo que elas fazem. Vahid lembra que, mesmo que alguém não tenha esse propósito do começo, é possível desenvolvê-lo;

“Despertar o potencial das pessoas começa com elas entendendo que elas têm escolhas”, diz.

“Se não tiver escolha, ninguém vai estar interessado”. Tanto com alunos quanto com profissionais, a clareza da possibilidade de suas escolhas é essencial para um bom rendimento. O papel do líder não é de dizer a alguém o que fazer, mas sim de explicar e ajudar as pessoas a entenderem as consequências de suas decisões.

2) Desafio

O desafio, de acordo com Vahid, é simplesmente nossa competitividade interior – um aspecto que precisa ser despertado e encorajado para desenterrar o verdadeiro potencial de alguém.

Isso também envolve retratar certas coisas de uma nova forma; por exemplo, algo que antes era tido como um “problema”, quando chamado de “desafio”, instantaneamente se torna mais interessante e proveitoso. Indicadores também são importantes aqui de forma a determinar se o contexto que se criou está adequadamente desafiador. 

Para aumentar o fator de desafio em uma escola, Vahid sugere apresentações públicas feitas pelos alunos; e não é preciso que sejam eventos super elaborados. Diminuir prazos também pode ser eficiente nesse sentido, além de outros incentivos como apresentar histórias de sucesso e/ou fracasso, imersões em eventos e visitas técnicas.

3) Ambiente 

Para performar bem, as pessoas precisam estar inseridas em um ambiente seguro e interessante que as valorize. Erros são inevitáveis; da mesma forma que um membro da equipe, ao ser punido por um erro, tende a ser menos inovador, um aluno que é ridicularizado quando erra também quer participar menos.

Vários aspectos precisam ser considerados quando se pensa no ambiente de uma escola, desde a infraestrutura até a presença (ou falta de presença) de união, respeito e valorização na cultura interna da equipe. Segundo Vahid, é fácil mapear essa situação com pesquisas internas.

4) Diversão

Inicialmente, alguém pode se perguntar o porquê de incluir “diversão” nesse processo; mas Vahid questiona: “por que não”?

“O conceito da diversão, eu acho que está muito relacionado a gente não esperar por uma retribuição por aquilo que estamos fazendo na chegada”, diz. “Seria ensinar as pessoas a se deleitar no caminho”.

É preciso deixar de lado a ideia de “trabalhar para poder parar de trabalhar” para gerar engajamento, principalmente com crianças. É possível fazer da educação algo que em si já é agradável – tanto para os educadores quanto para os alunos. 

Algumas medidas para aumentar a diversão no ambiente escolar incluem as práticas de premiar projetos, abraçar os erros como parte do aprendizado, comemorar conquistar e mudar a rotina – o que pode ser feito muito bem com ajuda da arte, por exemplo.