Você sabe como anda a saúde mental dos professores que atuam na sua escola? A pandemia trouxe aflições para o nosso dia a dia e preocupações, além de alterar completamente a rotina dentro da educação. As restrições e isolamento impostos pelo vírus ajudaram a criar um ambiente propício para o aumento da ansiedade e depressão.
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha em agosto de 2021 mostrou que quatro em cada 10 brasileiros tiveram sintomas de ansiedade ou depressão durante a pandemia. A pesquisa faz parte da campanha “Bem Me Quer, Bem Me Quero: O diálogo sobre depressão e ansiedade pode salvar vidas”, realizada pela ABRATA (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) e pela Viatris, empresa global de saúde.
Dos 2.055 entrevistados em 129 municípios das cinco macrorregiões do País, 44% afirmaram que tiveram problemas psicológicos. Os mais afetados foram as mulheres (53%), jovens entre 16 e 24 anos (56%), pessoas economicamente ativas (48%), pessoas com alta escolaridade (57%) e aqueles sem filhos (51%).
Além disso, 28% apontaram que tiveram diagnóstico de depressão ou outra doença relacionada à saúde mental durante a pandemia de Covid-19, enquanto 46% afirmaram que algum familiar ou amigos próximos tiveram depressão nesse período.
“O prolongamento do período da pandemia misturado à incerteza com relação ao futuro, uma rotina com restrições de circulação, o medo da morte, o luto e a falta de convívio entre familiares e amigos fez com que aumentassem os sentimentos de ansiedade, tédio, pânico e solidão durante este período, o que pode ter levado a esses dados preocupantes”, observa a neurologista e diretora médica da Viatris, Elizabeth Bilevicius.
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Tabu
O assunto da saúde mental ainda é visto como tabu por grande parte das pessoas. Campanhas como o Setembro Amarelo, realizada durante o mês de setembro para tratar sobre prevenção ao suicídio, visam jogar luz para o tema.
CEO do Programa Semente, Eduardo Calbucci diz que é difícil saber com precisão como a saúde mental dos professores está porque nem sempre há dados anteriores, que sirvam de parâmetro de comparação. Apesar disso, explica que a impressão é a de aumento desses relatos.
Ainda de acordo com a pesquisa do Datafolha, a conscientização dos brasileiros sobre o tema depressão ainda é deficiente. Pouco mais da metade dos entrevistados (53%) consideram muito importante oferecer suporte a quem esteja passando pela doença, e 10% não souberam agir diante de um conhecido com depressão.
E como o gestor da escola pode acolher esse professor? Ouvindo. “Parece pouco, mas não é. Quando um gestor se dispõe a realmente escutar os professores, estimulando-os a dizer o que estão sentindo, a pedir ajuda ou a assumir fraquezas – e sobretudo se isso é feito sem julgamentos –, cria-se um ambiente de empatia, respeito e confiança, que melhora a saúde do professor e o aprendizado dos alunos”, sugeriu o CEO do Programa Sementes.
Além dos gestores, Eduardo lembra que as relações no ambiente escolar são de troca e os estudantes também podem ajudar no acolhimento dos profissionais. “Professores não são máquinas. Podemos aprender com os estudantes, da mesma forma que os estudantes aprendem conosco”, diz.
Sobrecarga
Além do aumento dos casos de depressão, os sentimentos de sobrecarga, medo e angústia durante a pandemia também se agravaram. Cerca de 55% das pessoas concordaram que se sentiram sobrecarregadas de tarefas e 57% afirmaram ter vivenciado medo e angústia nos últimos meses.
No caso dos professores, sabemos que o trabalho pode ser desgastante em certos períodos do ano letivo, e que ele pode levar muito serviço para casa. Nesse aspecto, Eduardo Calbucci chama atenção para a necessidade de se criar limites para que o trabalho não consuma esse professor, afetando, consequentemente, sua saúde mental.
“Em primeiro lugar, é preciso dizer que esses limites têm uma dimensão legal. Por isso, conhecer a legislação trabalhista é fundamental. Em segundo, e esta é parte que mais interessa ao Programa Semente, sabemos que o desenvolvimento de competências socioemocionais dos professores pode aumentar o bem-estar pessoal, tornando o ambiente de trabalho mais harmônico”, explicou.
Queda na produtividade
Especialista em desenvolvimento humano, cultura e coach executiva, Caroline Marcon acredita que a saúde mental deve ser um aspecto a ser trabalhado pelas empresas, uma vez que isso influencia a produtividade dos funcionários, além de poder causar danos à integridade física dos colaboradores. “Como se trata de um assunto tabu, costuma ser escondido, transformando-se em pandemia silenciosa”, explica.
Caroline cita os estigmas mais comuns associados à saúde mental, que são responsáveis por esconder os problemas e aumentar o sofrimento de quem os experimenta. São eles: problemas mentais são considerados sinal de fraqueza; assumir um problema de saúde mental prejudica a carreira, porque a pessoa torna-se não confiável pela liderança; não há tratamento eficaz para problemas mentais.
A especialista cita três ocasiões em que o transtorno mental interfere no desempenho dos funcionários:
- Sensação de perda de controle: quando não se consegue gerenciar corretamente pensamentos e emoções, perde-se a perspectiva de longo prazo. Sem conseguir planejar com clareza o próximo passo, fica-se propenso a consumir por impulso, ou seja, a gastar o que a empresa não necessita;
- Tendência em evitar problemas: quando a pessoa não se sente bem emocionalmente, evita a todo custo lidar com assuntos difíceis que podem piorar a situação. Ao optar pela inação por não conseguir pensar com clareza pode-se prejudicar a corporação;
- Perda de autoestima: a baixa autoestima faz com que a pessoa aceite acordos que não são favoráveis, seja para “comprar” paz e aceitação ou por faltar energia para lutar por condições “ganha-ganha”.
Caroline, destacando que altos níveis de estresse e ansiedade podem ser percebidos quando há mudanças bruscas no comportamento, tais como: nervosismo excessivo e irritabilidade, agressividade ou passividade fora do padrão, fuga de contato social, cansaço e dores frequentes.
Ações permanentes para a saúde mental do professor
Apesar dos sinais de melhora na situação da pandemia no Brasil, com a vacinação avançada, ações que visam contribuir para a saúde mental do professor devem fazer parte das estratégias das instituições.
“A preocupação com a saúde mental deve ser permanente. A pandemia apenas escancarou essa necessidade”, alerta Eduardo Calbucci. “É altamente recomendável que essa preocupação com o bem-estar do professor continue a ser prioridade para escolas, até porque isso se reflete diretamente no aprendizado dos alunos”, diz.
“Sugerimos que as escolas procurem desenvolver as competências socioemocionais do corpo docente. Há várias maneiras de fazer um trabalho. Um deles é a Plataforma S, desenvolvida pela equipe de educadores do Programa Semente, que, por meio de avaliações e conteúdos 100% digitais, procuram mostrar aos professores estratégias validadas cientificamente para o desenvolvimento pessoal e profissional”, indica.
Caroline Marcon reforça a necessidade de encontrar formas efetivas de se comunicar com os funcionários. Nesse sentido, conforme a consultora organizacional, algumas empresas passaram a investir em programas de conscientização mental para as lideranças.
“Além de empatia, escuta ativa, disponibilidade para conversar, os líderes são treinados para saber identificar os primeiros sinais de que algo não vai bem com seus funcionários”, explica.
Ela chama atenção para o fato de que um líder serve de inspiração para seus colaboradores, por isso deve agir como exemplo. Assim, estar em boas condições de saúde física e mental é fundamental.
“Não pode ser um bom líder uma pessoa que não se cuida, ou seja, que come mal, dorme mal, está sempre ansioso, trabalha demasiado e não descansa. Todos esses aspectos interferem na qualidade de presença do líder”, diz.
Conforme a especialista em desenvolvimento humano, o líder deve aprender a respeitar os períodos de pausa como uma necessidade e não um luxo, para que os colaboradores façam o mesmo.
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