Vestibulares X Quarentena: Como manter os estudantes motivados?
A pandemia do coronavírus vem provocando inúmeras preocupações na sociedade. Uma delas atinge em cheio os atores envolvidos com o terceiro ano do ensino médio, cujos alunos se preparam para prestar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e outros vestibulares no fim do ano.
Embora o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas – Inep, órgão responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio – Enem, tenha mantido, pelo menos por enquanto, as datas das provas impressas deste ano, marcadas para os dias 1o. e 8 de novembro, o Enem Digital já foi adiado de outubro para os dias 22 e 29 de novembro.
Em plena quarentena e diante de um cenário tão incerto, especialistas do setor educacional dizem que o melhor a fazer pelos alunos é tentar que eles mantenham foco, ritmo e motivação.
Foco no estudo
“É um bom momento para estimular a autonomia e a proatividade dos alunos, sempre com a mediação do professor, que é fundamental para motivar e estimular o aluno ao estudo”.
Quem diz isso é Nathan Schmucler, diretor geral da rede de escolas low cost com alta qualidade de ensino Luminova. Para Nathan, responsável pela expansão da rede, todos os alunos foram prejudicados por causa da pandemia de alguma maneira, principalmente pela alteração na rotina de suas vidas. Mas que os alunos não devem deixar de se comprometer com o processo de aprendizagem.
Para ajudar os alunos, o diretor conta que a Rede Luminova vem mantendo o seu horário regular de aulas, mesmo com o ensino 100% a distância. Os professores estão dando aulas por meio de lives e de vídeos gravados, conversando com alunos via chat e compartilhando conteúdo, exercícios e atividades focadas na preparação para o vestibular por meio de plataformas digitais.
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“Utilizamos uma plataforma de gestão da aprendizagem do aluno chamada Scules LMS (Learning Management System) e uma plataforma de Adaptative Learning chamada Chamaleon, nas quais o aluno treina por meio de simulados, recebendo feedbacks personalizados da própria plataforma. Além disso, usamos meios como o Teams da Microsoft, vídeos dos professores gravados pelo Youtube, etc.”
Como dica para um bom rendimento do estudo em casa, o diretor da Luminova diz que a palavra-chave é foco:
“Essa é a dica número 1 para todo aquele que está se preparando para um processo seletivo. Estar atento às dicas preciosas dos professores, revisar o que já sabe e procurar compreender o que ainda tem dúvida. Tudo isso dentro de uma programação que contemple horas de estudo sim, mas pausas intermitentes para alongamento, alimentação saudável (incluindo frutas) e muita água. Vale lembrar a importância de um local limpo, silencioso e organizado para facilitar a sua concentração. Música instrumental ajuda a estabelecer o foco, essa pode ser uma boa dica!”
A importância de manter o ritmo de estudo
Suely Nercessian Corradini, diretora pedagógica da Escola Vital Brazil, no bairro paulista do Butantã, diz que uma das principais metas do momento é fazer com que os alunos mantenham o ritmo de seus estudos, para não se prejudicarem caso as datas dos exames do Enem e de outros vestibulares sejam mantidas em novembro, o que ela acredita que vai acontecer.
“Nós estamos procurando manter o ensino a distância próximo ao que eles têm como rotina, mesmo sabendo que há situações que são possíveis somente no presencial. São alunos que estudam em período integral, das 7h10 às 17h10. Ainda que em casa as condições sejam diferentes, é muito importante que mantenham o ritmo. Os alunos da terceira série estão em uma fase que já desenvolveram autonomia e responsabilidade. Orientamos para aproveitarem todas os recursos que o colégio está oferecendo nesse momento”, afirma a diretora.
A Escola Vital Brazil tem 1.620 alunos matriculados, sendo que cerca de 80 deles estão cursando o terceiro ano do ensino médio (em 3 salas), e em pleno estudo para prestar vestibular no fim do ano. A escola teve 84% de aprovação em universidades públicas no ano passado, sendo que 44% dos alunos foram aprovados na USP, uma das universidades mais procuradas do Brasil. Em 2018, a escola ficou em terceiro lugar no Enem.
A diretora pedagógica conta que os professores que formam parte das equipes de TI (Informática) e TE (Tecnologia Educacional) da escola optaram pelas plataformas Teams, da Microsoft, e Zoom, para lives. Suely diz que a migração de presencial para EAD foi total, pois a escola anteriormente não usava plataformas digitais. Ela explica que os alunos não ficam o tempo todo online, pois muitas atividades podem ser feitas off-line. As lives, por exemplo, são gravadas para que os alunos possam voltar a assistí-las.
“Nós optamos por um canal dentro do Teams, que são as postagens onde os professores apresentam os materiais, orientações de alunos, atividades, e conversam com os alunos via chat. Em todo seu horário de trabalho, o professor está à disposição dos alunos, seja para dar aulas, fazer lives, tirar dúvidas, conversar. Nós organizamos o estudo por sala e não por série, para respeitar o ritmo de cada sala”.
Segundo a diretora da escola, o off-line no ensino a distância é muito importante, pois muitas famílias não dispõem de um computador para cada pessoa em casa e, como os pais estão fazendo home office, é preciso organizar toda uma logística familiar de revezamento.
Os alunos do terceiro ano do ensino médio realizam simulados do sistema de ensino Poliedro e um simulado externo da empresa Evolucional. Como o sistema de ensino do Colégio Vital Brazil é trimestral, os professores já começam a realizar provas usando recursos como o Google Forms.
Sobre a possibilidade de antecipar as férias dos alunos, a diretora explica os temores da escola em relação ao assunto:
“Decidimos manter as atividades acadêmicas a distância nos moldes em que estamos praticando. Entendemos que se propusermos as férias agora, corremos maior risco de ter de retornar na dinâmica a distância, o que exigirá readaptação ao funcionamento da plataforma, retomada da rotina e do ritmo de estudo da comunidade escolar. Acompanharemos a evolução do cenário.”
Suely diz que vai ser importante fazer uma retomada do conteúdo dado durante o período de aulas a distância quando as aulas voltaram a ser presenciais. Ela afirma que o conteúdo do Ensino Médio é quase 100% finalizado na segunda série.
“A terceira série é quase somente uma finalização do que foi dado e muita revisão com aprofundamento. Mesmo assim nós vamos fazer um diagnóstico do impacto das aulas a distância quando o isolamento social terminar e, a partir disso, vamos fazer uma retomada dos conteúdos. Isso tranquiliza um pouco pais e alunos, pois existe uma grande preocupação de perda durante esse processo de aprendizagem.”
Motivação: quais são as dicas do Poliedro?
Os mais de 5.000 alunos do curso Poliedro que estudam nas cidades de São Paulo, São José dos Campos e Campinas estão contando com um time de professores que se revezam atrás das câmeras para garantir uma carga média de 5 horas de aulas diárias.
O curso, líder em aprovação no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e nas principais universidades de Medicina do país, criou 43 salas para gravação de aulas e transmissão de aulas ao vivo. Desde o início da quarentena, já foram mais de 880 aulas gravadas. Uma verdadeira maratona, segundo o grupo.
Todas as atividades que eram presenciais foram transportadas para o mundo virtual, para manter o cronograma pedagógico e a rotina de estudo dos alunos do pré-vestibular. As atividades envolvem aulas ao vivo, que são transmitidas nos mesmos horários e têm a mesma carga horária das aulas presenciais. Além disso, há lives com orientações de estudos e dicas de estratégias para os vestibulares, plantões de dúvidas on-line, reuniões com pais via webconferência, realização de simulados alinhados ao novo Enem Digital, atendimentos individuais para apoio também psicológico e até aula de yoga.
Rodrigo Fulgêncio, diretor de Unidades Escolares do Poliedro, ressalta a importância de manter o aluno motivado estudando em casa.
“É preciso que o aluno continue engajado nos estudos, para garantir bons resultados nas provas. Os estudos em casa impactam na rotina do estudante, e também na programação da família. Então, é importante criar uma rotina, com horários determinados para tudo, semelhante ao das atividades presenciais, e combinar com as pessoas com as quais estão convivendo os seus horários de estudo e os intervalos, para evitarem interrupções e serem mais produtivos.”
Segundo Rodrigo, é essencial que os alunos escolham um lugar de estudos calmo, organizado e limpo, livre de interferências constantes e de fácil acesso aos materiais necessários para consulta. O diretor ressalta que é importante evitar ficar na cama, chão ou sofá e buscar bancadas apropriadas, sem falar na necessidade de se afastar de todas as distrações enquanto estuda:
“Isso significa desligar televisão, deixar o celular em modo avião e se afastar de tudo o que possa desconcentrar. E, claro, não deixar de fazer os exercícios propostos virtualmente, para treinar possíveis questões e sempre anotar as videoaulas, fazendo exatamente como se estivesse em sala de aula.”
De acordo com Fernando Santo, Gerente de Inteligência Educacional do Poliedro, o INEP anunciou que, até 2026, há a pretensão de extinguir as modalidades presenciais do Enem e de readaptá-las para o meio digital.
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Como as escolas ao redor do mundo têm lidado com a suspensão das aulas?
“Em 2020, teremos a primeira aplicação on-line da prova. Nossa intenção é de preparar os estudantes para as avaliações virtuais, que têm formatos diferentes dos cadernos de provas com os quais estão acostumados. Já estávamos estudando a possibilidade, mas, com a suspensão das atividades presenciais, intensificamos o processo para poder aplicá-lo agora”.
Em abril, o Poliedro já realizou os primeiros simulados digitais, que puderam ser feitos pelos alunos em celulares, tablets e computadores. Para Rodrigo Fulgêncio, “as necessidades geradas pela crise têm potencial de impulsionar a transformação digital na educação. Com os aprendizados do momento, no futuro professores já terão maior domínio nas plataformas on-line e mais alunos estarão dispostos e instruídos para a educação virtual”.