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No Brasil, o Novo Ensino Médio e o uso das tecnologias estão entre as principais tendência da educação para 2023. Em âmbito global, se destaca a resolução colaborativa de problemas com criatividade. Quem faz essas previsões é Claudia Costin, que é professora, acadêmica, administradora e economista brasileira.

Em entrevista ao Escolas Exponenciais, a profissional explicou como olhar com atenção para esses pontos pode ser determinante para o dia a dia da gestão escolar, do professor e até mesmo para manter a qualidade do ensino.

“Acompanhar as tendências em educação faz muito sentido tanto professores, quanto para diretores de escola, que são os líderes desse processo de garantir a aprendizagem de qualidade a todos os alunos”, pontua.

Confira o bate papo e saiba o que será destaque na educação em 2023.

Escolas Exponenciais: O que será tendência na educação em 2023?

Claudia Costin: São muitas as tendências em Educação, em geral, no mundo. Entre as mais importantes agora é focar em resolução colaborativa de problemas com criatividade, tanto no processo de ensino e aprendizagem, mas também no desenvolvimento profissional dos professores.

Os professores resolverem colaborativamente os problemas educacionais presentes na escola, as dificuldades dos seus alunos e estudarem juntos, não só os casos de alunos, eventualmente com problemas, mas compartilharem boas práticas educacionais.

No caso especificamente brasileiro, quais as tendências mais importantes? Em 2023 vai ser o segundo ano de implementação do Novo Ensino Médio. Por conta disso, torna-se uma tendência importante olhar cada vez para o Projeto de Vida do aluno, que está na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), uma maneira de conectar o que o aluno aprende na escola com os seus sonhos de futuro.

Mostrar para o aluno que ele é o construtor ou empreendedor do seu projeto de vida. E o que ele aprende na escola vai ajudá-lo neste percurso.

Também é uma tendência muito forte a questão da tecnologia, mas não é simplesmente de usar computadores. É aprender a pesquisar nas redes, aprender a separar a opinião, de fato, ao navegar nas redes sociais.

Ou seja, desenvolver uma literacia digital. Ele que teve que desenvolver letramento no início da sua jornada como aluno, agora vai ter que fazer a mesma coisa em relação ao mundo digital.

Tendência muito forte no caso brasileiro e que vem acompanhada de um conceito chamado sala de aula invertida, em que a aula expositiva vai cada vez mais para casa, por meio de uma pequena pesquisa que o aluno faz, seja digital, seja em livros, e o professor usa o melhor do seu talento para ensinar o aluno a pensar, utilizando os conceitos aprendidos.

Ou seja, o que antigamente era dever de casa, vem para a sala de aula como também resolução colaborativa de problemas com criatividade.

EX: Para diretores de escolas, coordenadores e professores, qual a importância de acompanhar as tendências na educação?

Claudia Costin: Fundamental. É muito importante que se entenda que ser professor é deter uma das mais complexas profissões. Por conta disso, é fundamental que se valorize a profissão docente. Mas é valorizar a profissão e não ter, como muitas vezes a imprensa adota, uma atitude de piedade, de compaixão com os professores.

Ser professor é ser um profissional. A formação de professor tem que ser mais preparatória para essa mais complexa das profissões. E o professor precisa aprender ao longo da sua vida profissional. E isso envolve acompanhar as tendências em Educação.

Acompanhar as tendências em educação faz muito sentido tanto professores, quanto para diretores de escola, que são os líderes desse processo de garantir a aprendizagem de qualidade a todos os alunos.

Cabe ao diretor de escola, como diz Michael Fullan, ser aquele que cria uma cultura de colaboração entre mestres, dentro da escola.

O coordenador pedagógico também detém um papel parecido, mas tanto diretor quanto coordenador, precisam acompanhar um pouco mais o dia a dia da sala de aula.

Em alguns países, como acompanhei o caso da Coreia, Shanghai e Singapura, os diretores de escolas e os coordenadores escolares assistem às aulas dos seus professores, não para fiscalizar, mas para poder dar um retorno e aprender com eles.

EX: Como o diretor de escola pode utilizar essas tendências na educação para proporcionar um melhor ambiente de aprendizagem para os alunos?

Claudia Costin: O ambiente educacional do futuro envolve algumas decisões que o diretor não consegue tomar sozinho. Por exemplo: colocar a jornada escolar em tempo integral, de sete a nove horas de aula, em que o aluno fica na escola não só para ter aulas mais tradicionais, mas participar de clubes de protagonismo, estar mais presente em outras atividades do que aulas regulares.

Aulas de laboratório e robótica, por exemplo. Não o conceito em que de manhã é aula e de tarde umas oficinas. Fazer com que aula e oficina se misturem, o que torna o dia a dia da escola muito mais interessante.

Isso não depende só do diretor. Mas se o diretor organizar isso bem, estabelece um tempo para o aluno discutir seu Projeto de Vida com um professor mentor, suas ações de protagonismo, que é protagonismo em relação a sua própria vida, mas também protagonismo em relação à comunidade, fazer ações sociais como forma de aprendizagem também. Diversificar as vivências.

E ter tempo para os professores dedicados a uma única escola poderem colaborar com seus pares, aprender juntos, trocar experiências, ter um professor que seja tutor de outro professor menos experiente, assistindo aulas dele, dando feedback, reunindo-se para planejar aulas juntos. Com tudo isso, a gente torna muito mais rica a função do diretor.

Para isso é importante usar informática a serviço do diretor no sentido de desobrigá-lo de uma série de funções burocráticas que ele tem hoje, permitindo que o diretor de escola seja cada vez mais um líder instrucional, aquele que vai assegurar a aprendizagem de qualidade para todos e para cada um.