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Desde que as escolas passaram a ter que incluir no currículo atividades para ajudar os alunos a desenvolver a capacidade de planejar seus desejos e objetivos, o termo projeto de vida passou a aparecer nos debates educacionais. Mas, enfim, o que ele significa?

As educadoras Tatiana Cury e Mildren Lopes explicam o que significa trabalhar o projeto de vida dentro das escolas, e ainda abordam os desafios e mudanças necessárias na organização pedagógica.

Exige mudanças em toda a escola

“O primeiro ponto é que o projeto de vida não se trata de apenas criar uma disciplina e achar que essas competências só podem ser trabalhadas nessa aula. O projeto de vida precisa permear todo o trabalho da escola para que de fato funcione”, explicou Tatiana Cury, diretora do colégio Marly Cury, em Niterói, no Rio de Janeiro.

Ela destacou ainda que o projeto de vida não deve ser trabalhado apenas no ensino médio, mas deve começar já nos anos iniciais do ensino fundamental para que os alunos se habituem com a proposta. 

Objetivo é valorizar individualidade do aluno

O projeto de vida consiste em uma série de práticas para ajudar os estudantes a pensar sobre o que os desperta interesse, no que têm talento ou facilidade de fazer, com o que querem trabalhar e ser na vida adulta. Para isso, é preciso que eles tenham autonomia e liberdade para fazer escolhas e decidam dentro das opções escolares o que estudar.

Desenvolver essas habilidades nos estudantes passou a ser conteúdo obrigatório nas escolas com a aprovação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), documento que estipula o que deve ser ensinado em todo o país. Dessa forma, a ideia é que a individualidade dos alunos seja valorizada e eles entendam como o ensino contribui para seu futuro.

“É preciso que essa liberdade e autonomia sejam trabalhadas desde sempre com o aluno. Não adianta chegar para o aluno do ensino médio e perguntar o que ele quer para o futuro, se a escola antes não permitia que ele fizesse isso”, disse Cury.

Ensino não precisa ser segmentado

Mildren Lopes, gestora da escola Maria Peregrina, em São José do Rio Preto, no interior paulista, concorda que o projeto de vida precisa ser trabalhado durante toda a trajetória escolar. É por isso que em sua unidade não há a tradicional divisão por disciplinas, mas os alunos trabalham em projetos de pesquisa que são definidos por eles próprios.

“Não acredito que a educação precisa ser segmentada da forma como é, mas, sim, que pode ser trabalhada de forma integrada como ocorre na vida. Na nossa escola, o aluno define o que desperta a sua curiosidade, o que quer pesquisar e a partir daí os professores das disciplinas adaptam seu currículo e vão trabalhando o conteúdo”, contou.

Lopes destacou que para o modelo funcionar é preciso que os professores estejam preparados para dar autonomia aos alunos, estar abertos e ter curiosidade de aprender e saber trabalhar em cooperação. 

“Todas as habilidades que queremos desenvolver nos alunos precisam estar também nos professores, que atuam mais como tutores. Todas essas habilidades não precisam estar prontas, mas vão sendo desenvolvidas também nos docentes”, disse Lopes.

Um caminho para a crise pós-pandemia

Para as duas educadoras, as escolas vivem uma crise inédita no ensino após os dois anos de mudanças impostas pela pandemia. Além dos prejuízos de aprendizagem, os alunos acumularam uma série de problemas pessoais, emocionais e familiares que se refletem em sala de aula. 

Elas dizem ver no projeto de vida um espaço importante para fortalecer os laços dos estudantes com a escola novamente. 

“Os adolescentes estão ainda mais silenciosos, é difícil que eles se abram para contar como se sentem, quais dificuldades têm. Por isso, criamos um projeto para o ‘tutoramento da alma’, onde falam sobre o que os aflige e ajudamos a elaborar esses sentimentos tão confusos”, contou Lopes. 

Para ela, os alunos precisam voltar a ter esperança e se sentir confiantes para que possam pensar em seus projetos de vida.

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