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A disparidade entre o ensino oferecido durante o isolamento social nas escolas públicas e privadas continuou reverberando no Enem deste ano, apesar de ambas as redes já terem retomado as aulas presenciais em todo o país.

A candidata Fernanda Pereira Siqueira, de 19 anos, que fez a prova no Rio de Janeiro, concluiu o ensino médio em uma escola particular que oferecia aulas em período integral e diferenciadas para quem tenta uma vaga no concorrido curso de medicina. Ela estuda uma média de 12 horas por dia, e desde o 9° ano do ensino fundamental tem renunciado ao tempo livre para aprimorar seus conhecimentos.

Mesmo com todo o esforço pessoal, ela reconhece que entrou na disputa com vantagem só por estudar em uma escola particular, especialmente depois da pandemia.

Já Sabrina Laurentino, de 17 anos, que está concluindo o ensino médio em uma escola estadual no bairro do Caju, na zona norte do Rio de Janeiro, sonha com uma vaga no curso de Educação Física. E diante das dificuldades enfrentadas nos últimos anos, saiu da prova comemorando só por ter conseguido responder todas as questões.

Ela divide o mesmo percalço com o amigo Daniel de Araújo, também de 17 anos, e que ainda está com o coração dividido entre duas carreiras bem distintas: educação física e engenharia civil. Justamente por causa do conteúdo perdido em 2020 e 2021, e recuperado às pressas este ano, Daniel tem mais receio do resultado deste domingo (20), quando foram aplicadas as questões de matemática e ciências naturais.

E como os dois vivem em uma localidade conflagrada, Sabrina lembra que a pandemia não é o único desafio que precisaram enfrentar.

Neste domingo, inclusive, as comunidades do Jacarezinho e de Manguinhos, também na Zona Norte, viveram o terceiro dia consecutivo de confrontos armados entre policiais e criminosos. Pelas redes sociais, muitos jovens denunciaram que não conseguiram nem sair de casa para fazer a prova por causa dos tiroteios.

Em todo o estado do Rio de Janeiro, mais de 243 mil pessoas se inscreveram neste Enem e apenas 66 mil 298 tiveram a inscrição gratuita, benefício concedido a quem está no terceiro ano do ensino médio em escolas públicas.

Além disso, cerca de 51 mil declarações de carência foram atendidas, para inscritos no CadÚnico ou bolsistas em escolas privadas.