Escolas particulares já planejam implementação do Novo Ensino Médio
As instituições privadas de ensino já começaram a planejar a implementação do Novo Ensino Médio, que entra em vigor obrigatoriamente a partir de 2022, de maneira gradual. Entre as mudanças propostas pelo novo formato, está a flexibilização do currículo escolar por meio dos Itinerários Formativos, que implica diretamente na ampliação da carga horária de uma instituição.
Tais alterações impactam até mesmo na estrutura da escola, que precisa ocupar mais espaços e disponibilizar um número maior de professores para garantir oferta aos alunos. “Essa tem sido também uma das principais preocupações das escolas na formação dos seus Itinerários Formativos”, explica a coordenadora editorial do Sistema Positivo de Ensino, Milena Santiago Passos Lima.
Para a profissional, os itinerários formativos permitem que a escola olhe para o estudante valorizando a sua trajetória de forma individual. “Isso não quer dizer, necessariamente, que a escola tenha que oferecer ao aluno muitos caminhos, muitas escolhas. Na verdade, ela tem que oportunizar diferentes vivências. Uma escola que hoje já trabalha com diferentes projetos, que permite a ocupação de diferentes espaços, já está praticando a proposta dos Itinerários Formativos, que é realizar um trabalho de conduzir o aluno de forma personalizada”, explica.
Entretanto, Milena pontua que, em alguns casos, esse trabalho não está evidenciado no histórico escolar. “Então, o Novo Ensino Médio desafia as escolas a olharem para aquilo que já fazem e entender o que, entre tudo o que a escola já realiza e que representa a sua identidade, poderá fazer parte deste currículo de forma definitiva. Existem projetos, iniciativas valorosas dentro das escolas que hoje não fazem parte do histórico escolar de cada aluno. E isso tudo precisa ser considerado para que as escolas entendam que não precisam inchar seu currículo e nem sobrecarregar sua estrutura para oferecer esses novos caminhos”.
Manifestação de interesse por itinerários auxilia na preparação da escola
Para tentar se aproximar ao máximo do que os próprios estudantes esperam, o Colégio Augusto Comte, de Salvador (BA), fez uma consulta junto aos alunos e pais para descobrir quais as áreas de maior interesse dos alunos.
“Decidimos ouvir nosso público para identificar os reais anseios de nossa comunidade e o resultado apontou para uma tendência significativa em relação à área de Ciências da Natureza, o que nos deixou bastante tranquilos porque esse já era um dos caminhos considerados pela escola”, afirma Marcelo Silva Borges, gestor pedagógico do colégio.
“Entendemos que o importante nessa fase de implantação é a escola ter a autonomia na hora de definir o que será ofertado, tendo em vista a leitura que a própria escola faz – melhor do que ninguém – do seu público e do contexto em que está inserida”, ressalta.
Uma dúvida crescente entre os estudantes e seus pais é sobre o que levar em consideração para escolher as áreas do conhecimento de maior afinidade. Para decidir qual caminho seguir, é fundamental que o aluno esteja bem informado sobre o assunto.
Segundo Milena Santiago Passos Lima, a escola deve apresentar, de maneira detalhada, as explicações sobre essas áreas, quais delas a instituição oferece e o que cada uma envolve. “Isso pode ser feito inicialmente em rodas de conversa e, posteriormente, em caso de necessidade, em conversas individuais agendadas com o aluno e seus responsáveis”, destaca a coordenadora.
Diante desse novo cenário, esse já é um dos grandes desafios que os gestores terão para implementar essas mudanças. “Sabemos que a decisão sobre o que oferecer como Itinerário Formativo para nossos alunos nos impõe uma enorme responsabilidade. Nossas escolhas e definições podem impactar na trajetória de nossos jovens, influenciando até mesmo as futuras escolhas profissionais deles”, destaca Elieser Balieiro, diretor administrativo do Colégio Horizonte, em Viradouro (SP).
A instituição, que está se preparando para oferecer o Novo Ensino Médio para o 1º ano em 2022, está em fase de definição sobre quais serão os itinerários formativos ofertados para os estudantes no próximo ano. “Estamos recebendo a ajuda de nosso principal parceiro, o Sistema Positivo de Ensino, que está nos apontando o caminho. Queremos que os Itinerários Formativos tenham real utilidade para nossos alunos e, para isso, precisamos decidir considerando o contexto econômico, social e cultural da comunidade e região em que nossa escola está inserida”, explica o diretor.
Entenda as principais mudanças do Novo Ensino Médio
A flexibilidade curricular proposta com as mudanças do Ensino Médio prevê que as escolas passem a oferecer para os alunos novos caminhos que poderão ser trilhados com mais liberdade e com base no que o próprio estudante entende que faz sentido para a sua trajetória. Esses caminhos são os Itinerários Formativos, uma das grandes novidades dessa reforma, com uma oferta maior de opções em relação ao currículo escolar que o estudante terá ao longo dos três anos finais da Educação Básica.
O Novo Ensino Médio traz uma grade curricular dividida em Formação Geral Básica (FGB) e Itinerários Formativos (IFs). Na Formação Geral Básica, os componentes curriculares estão organizados pelas áreas do conhecimento. Essa é a parte fixa do currículo que contempla as habilidades e competências previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e compõe 60% da carga horária, com um máximo de 1.800 horas.
Já os Itinerários Formativos são o conjunto de temáticas que poderão ser oferecidas aos estudantes por meio de projetos, oficinas e núcleos de estudo e que vão aprofundar e ampliar os conteúdos da Formação Geral Básica. Eles são compostos de unidades curriculares obrigatórias e eletivas e compõem 40% da carga horária, com mínimo de 1.200 horas. São cinco Itinerários Formativos possíveis: Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Formação Técnica e Profissional. Apesar da liberdade para a elaboração dos currículos dos itinerários, todos devem ser estruturados a partir de quatro eixos estruturantes: Investigação Científica, Mediação e Intervenção Sociocultural, Processos Criativos e Empreendedorismo. As escolas não são obrigadas a oferecer todos os percursos, nem disponibilizar a escolha de aprofundamento logo no primeiro ano.