A escola particular no pós pandemia está em algum lugar entre a natureza e a tecnologia. E ainda com o reconhecimento, agora inevitável, de que os alunos podem aprender de formas diferentes. Depois de quase dois anos de incertezas para famílias, professores e gestores, a rede privada amplia espaços e muda currículos para enfrentar desafios de uma nova educação presencial nos próximos meses e em 2022.
“Passamos por um tempo em que os estudantes se conectaram com a escola de maneiras diversas. Precisamos ter vários caminhos para a aprendizagem, é nossa responsabilidade engajar o aluno novamente”, diz a diretora pedagógica da Escola da Vila, Fernanda Flores. O colégio adiantou para o ano que vem mudanças previstas para 2025. As crianças e os adolescentes vão ficar em tempo integral, aumentando a carga de artes, música, expressão corporal e até de recreio. Uma nova unidade vai ser construída no Butantã, com mais espaços abertos e para atividades coletivas, e outra será reformada. O projeto ainda prevê mais aulas organizadas entre idades, com foco nas competências e não nas disciplinas.
Colégios como o Bandeirantes e o Porto Seguro perceberam que é possível manter atividades de revisão e plantão de dúvidas online. Os professores no Bandeirantes também precisam agora apresentar propostas para o “self study”, em que os alunos terão de fazer trabalhos mais autônomos. “Na pandemia, eles fizeram atividades de ciências, por exemplo, com computador e simulações. Fica mais leve para o aluno e para o professor”, diz a coordenadora pedagógica do Bandeirantes, Mayra Ivanoff.
No Porto, do 1.º ano do fundamental ao médio, foi adicionada uma disciplina de letramento digital, dada em inglês para os mais velhos. “Mesmo assim, 2022 precisa ser o ano da presença, de eventos pedagógicos, peças, trazer pais para a escola. Os alunos precisam sentir a emoção de compartilhar o que sabem”, completa a diretora Silmara Casadei.
A professora da pós-graduação em Educação da Universidade de São Paulo (USP) Silvia Colello diz que a pandemia acelerou algo que talvez demorasse anos: fazer educação de modos alternativos. “Ficou evidente a necessidade de ruptura de tempos e espaços rígidos na escola. Aquela aula em que o aluno chega, assiste e vai embora mudou.” Filmes, vídeos, games, quiz, que podem ser vistos individualmente ou em grupo, em horário marcado ou não, são exemplos. “Mas é preciso cuidado com excessos, o aluno não pode dizer que perdeu a hora e quer fazer uma aula online.”
A diferença de aprendizagem também ficou clara com a quantidade de famílias que mudou de escola durante a pandemia. A engenheira Renata Ucha, de 50 anos, tinha dois filhos em um mesmo colégio. A menina, de 12 anos, não conseguiu aprender com aulas por meio de vídeos gravados, tirou notas baixas e acabou indo para outra escola. “Ela precisa de interação, perguntar na hora da dúvida.” Já o filho mais velho adorou a autonomia e até deixou de usar cadernos para anotar porque tinha as aulas no computador. “As escolas vão precisar ter menos pasteurização e mais entendimento individual.”
A coordenadora pedagógica Patricia Biggnardi, da Escola Tarsila do Amaral, diz que é preciso ser cuidadoso para não avaliar como problema o comportamento dos alunos. “Crianças de 2 anos não vivenciaram a coletividade em situação nenhuma, estão com medo de participar, não falam nada, é preciso dar um tempo maior para elas”, afirma.
A escola, que fica em meio à natureza na zona norte, viu a procura aumentar por causa dos espaços abertos. “Antes, tinha pai que reclamava que as crianças pegariam friagem.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Renata Cafardo