Uma pesquisa apresentada em dezembro pelo British Council em parceria com a Unesco mostrou que a América Latina conquistou a paridade de gênero na ciência, com as mulheres representando 46% do total de pesquisadores da região. Porém, elas ainda enfrentam desigualdades no acesso a essa carreira, principalmente considerando os estudos em Stem (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática).
Para despertar o interesse de meninas pela carreira científica e assim alcançar um maior número de pesquisadoras no futuro, o Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto da USP, em parceria com o Laboratório de Tratamento Avançado de Água e Efluentes (Oxlab) da Unicamp e o Centro de Terapia Celular da USP, promove, entre os dias 23 e 28 de janeiro, a quarta edição do Ciência Por Elas.
As inscrições são gratuitas e devem ser feitas neste link por pais ou responsáveis. O evento é voltado a meninas que estejam cursando do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e haverá reserva de 50% das vagas para pretas e pardas. Elas vão participar de atividades teóricas e práticas com pesquisadoras de instituições como USP, Unicamp e Fiocruz, mostrando os trabalhos desenvolvidos em diversas áreas do conhecimento. A programação completa está disponível aqui. Não é obrigatório participar de todas as atividades e haverá envio de certificado de participação.
A organização do evento também conta com o grupo de divulgação científica Ilha do Conhecimento e o Laboratório de Controle do Metabolismo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. O apoio é da Associação de Cultura Brasil Estados Unidos.
Carreira: ciência feminina e preta
Segundo especialistas, uma presença maior de mulheres em carreiras científicas é fundamental não apenas para a busca de soluções inclusivas e sustentáveis para os problemas modernos, mas principalmente porque 75% dos empregos do futuro exigirão competências em Stem, tecnologia e inovação. Porém, há pouco incentivo para o interesse nessas áreas durante a infância para as meninas, como constatou uma das criadoras do Ciência Por Elas, a pesquisadora do Oxlab Taís Suelen Viana.
“Criei o Ciência Por Elas no início do mestrado na USP, em 2018, quando comecei a me questionar por que eu nunca havia pensado, quando criança, em ser cientista. A resposta era muito óbvia: eu nunca havia sido incentivada ou me sentia representada na ciência. A ciência sempre foi masculina e branca, mas eu quero mudar isso. Através do Ciência Por Elas quero inspirar e incentivar meninas a serem cientistas e mostrar que, além de feminina, a ciência também pode ser preta. Sou uma mulher preta e cientista, e tenho certeza que ainda verei muitas mulheres se interessando pela ciência através do Ciência Por Elas”, afirma ela.
Para as pesquisadoras do Laboratório de Controle do Metabolismo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP Aline Zanatta Schavinski e Ana Paula de Assis, o evento aproxima o público feminino adolescente dessa temática e também transforma as meninas em multiplicadoras da iniciativa.
“O Ciência Por Elas é uma grande oportunidade para meninas verem mulheres vivendo e falando de ciência. A ciência é sempre retratada como algo distante da sociedade e essas ações trazem um tema tão importante de forma acessível a essas meninas. O fato de as atividades serem ministradas apenas por pesquisadoras mulheres ajuda as meninas a se imaginarem fazendo ciência e ampliando suas possibilidades de futuro”, diz Aline.
“O evento tem como papel fundamental mostrar às meninas que elas podem e devem ocupar o espaço que desejarem. Despertar nelas a curiosidade e o senso crítico é inspiração para que, no futuro, elas possam estimular e servir de exemplo para outras jovens”, afirma Ana Paula.
A estudante do curso de Enfermagem da USP Ribeirão Preto Eduarda Raquel Viana participou da primeira edição e hoje integra a organização do evento. Ela conta que a experiência vivida há quatro anos transformou seu olhar acerca da ciência. “É um projeto acessível, que proporciona experiências significativas aos envolvidos, em especial às meninas. Utiliza mecanismos como a representatividade para discutir papéis de gênero e a importância das mulheres ocuparem todos aqueles espaços que desejarem, inclusive no meio científico.”
Mais informações sobre o evento: iearp@usp.br.
Sobre o Ciência Por Elas
Inspirado no projeto Meninas com Ciência, do Museu Nacional, o Ciência Por Elas é um projeto voltado a alunas do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental de escolas públicas e particulares, e tem como objetivo estimular o interesse desse público pelas carreiras científicas. Professoras, pesquisadoras e alunas da universidade apresentam as pesquisas que desenvolvem, realizam atividades práticas para interagir com as meninas e explicam como é a profissão.
A iniciativa é desenvolvida desde 2018 pelo IEA-RP e pelo Centro de Terapia Celular da USP. Em 2023, a organização conta também com as parcerias do Laboratório de Tratamento Avançado de Água e Efluentes (Oxlab) da Unicamp, do Ilha do Conhecimento e do Laboratório de Controle do Metabolismo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.