Museu do Ipiranga: conheça as exposições programadas na reabertura
Depois de ficar nove anos fechado para uma grande reforma, que começou em 2019, o Museu do Ipiranga reabre para o público no dia 8 de setembro, em comemoração do bicentenário da Independência do Brasil – no feriado do dia 7 de setembro, haverá uma inauguração simbólica para estudantes de escolas públicas e municipais e os trabalhadores envolvidos no projeto de recuperação. Confira atividades sobre a independência do Brasil para fazer na escola.
Serão inauguradas 11 exposições permanentes – e uma outra temporária, prevista para abrir em novembro -, em que os visitantes encontrarão um acervo diferente daquele exposto antes do fechamento.
No total são 3.700 itens, a maioria inédita, sendo que 353 deles receberam tratamento multissensorial, facilitando as interações táteis e olfativas – há salas com cheiros -, além de material em braile. Os objetos datam dos séculos 19 e 20, mas há itens mais antigos, que remontam ao Brasil colonial. São pinturas, esculturas, moedas, documentos textuais, fotografias, objetos em tecido e madeira e duas maquetes de grande porte.
A nova configuração do museu marca também uma nova fase curatorial, como afirma Vânia Carneiro de Carvalho, coordenadora-geral do projeto de concepção e implantação das exposições do Novo Museu do Ipiranga 2022. “O Museu do Ipiranga era visto como um museu das elites, porque isso é que teve visibilidade nas exposições durante muito tempo”, revela Vânia. Segundo ela, na época não foi possível fazer essa renovação, mas a reinauguração do museu estreia essa nova fase.
Após mais de cem anos de existência, o museu passa a ter menos foco em personalidades e quer discutir a história a partir de questões da vida cotidiana. Segundo Vânia, desde a década de 1990, a instituição está passando por uma mudança no seu perfil. “O que o museu vai mostrar nas novas exposições não é apenas fruto do seu fechamento em 2013. Vamos mostrar um acervo que está sendo acumulado ao longo de 30 anos.” A professora Solange Ferraz de Lima, do Museu Paulista, acrescenta que “é um museu histórico, especializado em cultura material, ou seja, conta a história da sociedade através dos objetos”.
Como visitar o Novo Museu do Ipiranga?
O Museu do Ipiranga será reaberto ao público de terça a domingo a partir do dia 8 de setembro de 2022. De 8 a 11 de setembro, das 11h às 16h; depois, das 12h às 18h.
As visitas podem ser feitas gratuitamente (até o dia 6 de novembro), após agendamento prévio no site www.museudoipiranga.org.br, disponível a partir do dia 5 de setembro, às 10 horas.
Endereço: Rua dos Patriotas, 100, Parque da Independência – São Paulo/SP
Programação do Museu do Ipiranga
Uma História do Brasil
Uma História do Brasil é onde o público irá matar saudades das obras clássicas do Museu do Ipiranga. Sua principal atração é o quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo. Além da obra, o espaço que começa no eixo monumental, atravessando o saguão e a escadaria do Salão Nobre, abrange toda a decoração promovida pelo antigo diretor do museu, Affonso Taunay, na ocasião da comemoração do centenário da Independência, em 1922. Essa área é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e sua configuração original não pode ser alterada. Como o próprio título explica, a exposição é apenas uma das várias perspectivas da história do Brasil que serão apresentadas ao visitante.
E os bandeirantes? Quem visitou o museu antes do seu fechamento, deve se lembrar que a área do saguão e do Eixo Monumental é marcada pela presença de figuras que, nos últimos anos, se tornaram alvo de controvérsias. Manuel Preto, Raposo Tavares e Fernão Dias são alguns dos bandeirantes representados nas esculturas da decoração e em quadros do museu. As esculturas e as pinturas que retratam esses personagens continuarão em exposição, com a diferença que a curadoria orientada por Paulo Garcez Marin, pesquisador e professor do MP, irá propor uma visão reflexiva sobre elas. Nos textos explicativos, ao invés de celebradas, essas figuras serão discutidas quanto às questões que estão por trás de suas representações.
Passados Imaginários
De quantas formas diferentes a história pode ser representada? Essa pergunta norteia Passados Imaginários. Nela, o visitante irá encontrar produções artísticas que retratam diversos momentos da história do Brasil. Mas atenção! À primeira vista, essas produções podem parecer uma janela para o passado político brasileiro. Porém, os curadores querem propor uma outra perspectiva: trata-se de uma exposição sobre a história da arte e as formas de representação dentro de determinados gêneros artísticos.
Cidade de São Paulo em miniatura
Aqui será o lugar da maquete de Hendrik Bakkenist, que foi encomendada no início do século 20 por Affonso Taunay, com o propósito de reproduzir a cidade de São Paulo em 1822. Para a reinauguração do museu em 2022, a obra passou por dois meses e meio de trabalho de restauração.
Isto não é um retrato
Você conhece a pintura Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500, produzida por Oscar Pereira da Silva em 1900? Nesta área ela estará exposta, com uma perspectiva diferente da convencional. A partir de textos e explicações visuais, o visitante será convidado a refletir sobre o contexto de criação dessa e de outras obras. A ideia é destacar que as pinturas tratam de interpretações de artistas que viveram mais de cem anos depois dos eventos ilustrados e não podem ser vistas como um espelho fiel da história.
Territórios em Disputa
Irá contar como foram implementadas as noções de território no Brasil a partir da apresentação de livros, cartas e mapas que remontam aos séculos 16 e 17.
Objetos e seus significados
Por trás dessa exposição, está a visão de que os objetos podem ser uma importante fonte de informação para se compreender uma sociedade ao longo do tempo. Essa perspectiva é conhecida como o estudo da história pela perspectiva da cultura material e é a linha teórica adotada pelos curadores na organização do projeto curatorial do museu.
Mundos do Trabalho
Os trabalhos manuais foram, por muito tempo, menosprezados quanto à sua dimensão intelectual e excluídos de espaços como os museus. Nesses trabalhos, o saber é construído com o uso do corpo e de ferramentas, e, para mostrar sua complexidade e importância, o Museu do Ipiranga inaugura a exposição Mundos do Trabalho. Por meio de equipamentos raros, o público vai conhecer algumas profissões que eram comuns nas ruas das cidades brasileiras. Entre ferramentas de artesanato, cadeiras de barbeiro e câmeras de retratistas, será possível observar como a tecnologia evoluiu e alterou a realidade do trabalho e descobrir profissões que desapareceram com o passar do tempo.
Casas e Coisas
Em Casas e Coisas, objetos de decoração e ferramentas do cotidiano são usados para pensar a construção das ideias tradicionais de feminilidade e masculinidade. Serão expostos elementos típicos da esfera privada, como objetos decorativos e materiais de escritório. Além disso, haverá um espaço dedicado para ferramentas de cozinha antigas, para discutir como as diferenças socioeconômicas se manifestam nesses objetos.
A Cidade Vista de Cima
Do mirante do edifício-monumento, os visitantes poderão avistar de cima o jardim do Museu do Ipiranga em contraste com a cidade de São Paulo. A vista será acompanhada por uma exposição de imagens que mostram os diferentes momentos da história da capital. Assim, será possível comparar a vista atual com outros períodos e refletir como a paisagem se transformou nos últimos séculos.
Para Entender o Museu do Ipiranga
No Térreo do Museu do Ipiranga, o visitante terá a oportunidade de conhecer a história da instituição e as áreas de estudo dentro da cultura material. Em sintonia com as outras quatros exposições do eixo, essa área foi criada para as pessoas desmistificarem o que será exposto nos outros espaços. Para os curadores, é importante mostrar como o conhecimento apresentado foi produzido, pois assim o público pode entender que não se trata de uma verdade absoluta.
Quatro “Cs” do Ciclo Curatorial
O processo que descreve o trabalho dos organizadores de um acervo é chamado de ciclo curatorial. Para explicar como este trabalho funciona, o eixo Para Entender o Museu está dividido nas quatro etapas que compõem esse ciclo: a coleta de peças, sua catalogação, o conserto de danos e a comunicação com a sociedade sobre o que está sendo preservado. São os quatro “Cs” do ciclo curatorial: coletar, catalogar, consertar e comunicar.
Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Texto: Jornal da USP