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Nos últimos anos, diversas iniciativas têm contribuído com um processo de conscientização de como o racismo está inserido na cultura brasileira. Uma delas é a implementação de uma educação antirracista nas escolas para promover o debate e o conhecimento desde a primeira infância.

Trata-se de um movimento que começou por meio de medidas como a Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira nas escolas.

Entretanto, 17 anos depois da legislação ter sido sancionada, as instituições de ensino ainda enfrentam dificuldades para colocar em prática.

Porém, especialistas afirmam que para implementar uma educação antirracista eficiente é necessário mais do que apenas o cumprimento de leis. A Escola Lumiar, por exemplo, tem uma comissão chamada “Construindo uma escola antirracista”, composta por 41 membros, tanto por colaboradores como familiares de alunos.

Criada em 2021, essa comissão realiza encontros periódicos com o propósito de fomentar ações capazes de fortalecer três pilares que possuem potencial para construir uma escola antirracista: a representatividade, o acolhimento e o letramento racial.

 

Escola antirracista: a representatividade e o acolhimento das diferenças

Para compor uma comunidade escolar étnico-racial e socialmente diversa, a Lumiar oferece bolsas de estudos que possibilitam o ingresso de crianças e jovens preferencialmente negros, afrodescendentes e indígenas, em condições sociais que não geram acesso a uma educação significativa e transformadora.

E, essa representatividade, também é buscada na equipe de profissionais que trabalha na escola.

“Já faz alguns anos que fazemos uma busca ativa de educadores e gestores negros, pois entendemos que a representatividade precisa estar presente em toda a estrutura da escola. Avançamos principalmente na contratação de mestres – especialistas das mais variadas áreas que realizam projetos com nossos estudantes – o que já é uma vitória”, afirma Graziela Miê Peres Lopes, Diretora Geral das Escolas Lumiar.

 

Metodologia a favor do letramento racial

Além disso, a metodologia Lumiar prioriza a autonomia e a individualidade de cada estudante. Os alunos entendem que cada pessoa tem talentos e dificuldades diferentes e, com isso, cria-se um campo de convívio propício ao acolhimento da diversidade e à valorização da pluralidade.

Entre as atividades pedagógicas, trimestralmente cada turma de estudantes desenvolve projetos sobre assuntos de interesse dos grupos. São iniciativas transdisciplinares que contam com a participação de especialistas convidados.

“Os projetos são uma excelente oportunidade para promover a representatividade, pois podemos flexibilizar a questão do inglês. Recentemente tivemos inclusive duas indígenas atuando como educadoras na unidade Pinheiros, em São Paulo”, comenta Graziela.

Um exemplo do conjunto de práticas de educação antirracista da escola é o caso de Jeniffer Ronei. “Sou negra, pobre e minhas filhas sempre estudaram em escolas públicas. Quando soube do processo de bolsas de estudos da Lumiar, logo as inscrevi no processo seletivo. Entre a data em que foram aprovadas e a matrícula se passaram quatro meses. Eu tinha receio de que sofressem bullying ou preconceito por serem negras e bolsistas. Mas aconteceu exatamente o contrário”, comenta Jennifer que participa da comissão antirracista, tanto como mãe de alunas quanto como funcionária da escola. Por ser estudante de pedagogia, foi contratada como assistente no início de 2022.

A partir desse exemplo, é possível notar que uma instituição de ensino pode trabalhar o letramento racial em diferentes aspectos. Além de ensinar sobre como as relações inter-raciais modelaram o país e incentivar a percepção do que é equidade, é necessário desconstruir as formas de pensar e agir que foram consolidadas na sociedade.

“Toda criança passa por um processo de alfabetização e de letramento para saber fazer o uso das palavras. Com o racismo, acontece a mesma coisa. Acaba sendo reforçado por meio de leituras de ambiente e ações aprendidas ao longo da vida. Quando uma pessoa se desenvolve em um espaço em que há oportunidade para todos, passa a ter referências para reproduzir isso em suas atitudes e cobrar esse posicionamento da sociedade”, aponta Graziela. 

 

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