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O projeto Jornada de Aprendizagem da Heroína foi apresentado nesta quinta-feira (28), em Lisboa, durante o Girl Stem 2022, dentro da programação mundial do ICT Day. O evento foi realizado para comemorar o Dia Internacional das Meninas nas TIC: Tecnologias de Informação e Comunicação. A data foi criada pela agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU) voltada para as TIC, que é a International Telecommunication Union (ITU).

Executado por pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) e do Instituto Superior Técnico (IST) de Lisboa, o projeto é baseado em estudo de Luis Felipe Coimbra Costa, aluno de doutorado do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação (Pesc) da Coppe. Costa é também pesquisador visitante do IST, sob supervisão da professora Ana Moura Santos, do Departamento de Matemática do instituto português.

Ele disse à Agência Brasil que o objetivo do projeto é estimular estudantes do sexo feminino, na faixa dos 15 aos 21 anos, a ingressar nas ciências exatas, mais precisamente nas áreas de Stem, siga em inglês que significa ciência, tecnologia, engenharia e matemática. O projeto atuaria como um quadro motivador ajudando as meninas a superar desafios presentes em um curso de Stem, afirmou.

Jornadas heroicas

A pesquisa realizada para o projeto Jornada de Aprendizagem da Heroína baseia em jornadas heroicas, referentes a 12 estágios que funcionam como forma de demonstrar o que é preciso fazer e qual o nível de confiança que as meninas precisam ter para superar os desafios que constam na literatura. “Existe uma baixa participação das meninas. São muito baixos os números globais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sobre a entrada delas nessas áreas”, disse o pesquisador da Coppe.

Segundo Costa, um dos motivos é que existem barreiras e dificultadores, desde a questão patriarcal até a falta de confiança das meninas para fazer perguntas. “A jornada visa a passar para as meninas uma imagem positiva de que podem, sim, preencher essas lacunas, entrar nas áreas de tecnologia e aumentar a confiança no aprendizado dessas disciplinas.”

O pesquisador considera fundamental que qualquer curso voltado para a formação em tecnologia tenha um cuidado especial com a motivação de mulheres jovens, tanto para a entrada quanto para a permanência delas ao longo da formação.

Números

As áreas que integram o Stem (Ctem, na sigla em português) são consideradas fundamentais para o futuro e a pluralidade do mercado de trabalho. Conforme dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais de dezembro de 2018), mulheres representam 44% do total da força de trabalho no Brasil. Entre as ocupações não Stem, 45% são femininas. Quando se analisam as ocupações nesta área, a participação das mulheres cai para 31%. Em relação às 246 ocupações Stem, constata-se que 206 têm mais de 50% da força de trabalho composta por homens, contra somente 39 de maioria feminina.

O mesmo ocorre quando se observam os estudantes de nível superior no país. São 56% de mulheres e 44% de homens. Em cursos que não são considerados Stem, o número de mulheres sobe para 63%. Nos cursos desta área, a participação feminina cai para 30%. A análise dos 122 cursos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática revela que 96 têm mais de 50% de alunos do sexo masculino e 26 com maioria feminina.

O projeto Igualdade Stem, coordenado pelo pesquisador do Laboratório do Futuro, Yuri Lima, mostra que, em 2010, a presença feminina no total de alunos formados em cursos dessa área era de 29,5% e, em 2019, subiu para 33,7%, com alta de 4,2% em dez anos. “As mulheres estão sub-representadas nos cursos de ensino superior e, consequentemente, no mercado de trabalho das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Foi o desafio de reverter esse quadro em menos tempo do que o previsto, que motivou o desenvolvimento da Jornada de Aprendizagem da Heroína”, afirmou Lima.

Frutos

A Jornada de Aprendizagem da Heroína é executada na Coppe por pesquisadores do Laboratório do Futuro e do Laboratório de Ludologia, Engenharia e Simulação (Ludes), ligados ao Programa de Engenharia de Sistemas e Computação (Pesc), e já começou a render frutos. Mais de 300 meninas, de diferentes cidades do Brasil e de Portugal já ingressaram no curso online e gratuito de Aprendizado de Máquina (Machine Learning) que é a primeira aplicação do projeto na prática. Já passaram para a terceira etapa, ou já concluíram o curso, mais de 50% das meninas. O curso pode ser frequentado de forma individual ou em grupo, a exemplo de 14 jovens alunas de baixa renda que participam do projeto na Escola Estadual Olavo Bilac, na cidade de Recreio, em Minas Gerais.

“A participação destas meninas em uma capacitação desde nível é inédita em nossa cidade, que é bem pequena e fica no interior de Minas Gerais, tendo pouco mais de 10 mil habitantes. No curso, temos participantes que não têm computador em casa e outras que têm celulares, mas não conseguem navegar na internet. A Escola Olavo Bilac abriu as portas do seu laboratório de informática para que lá fizéssemos a capacitação nos computadores. As 14 jovens, incluindo algumas que moram na área rural, abraçaram a ideia e hoje estão animadíssimas com a possibilidade de ingressar na área de tecnologia”, informou o professor da Olavo Bilac Leonardo Ribeiro, responsável pelo projeto na cidade.

Foto: Léo Rodrigues/Agência Brasil