9 min de leitura

Os mundos da educação e da tecnologia já vêm se unindo há bastante tempo, e esse processo foi catalisado pela pandemia da Covid-19. Para atender as novas demandas, a necessidade de inovação das escolas passou a ser cada vez mais intensa.

Mas as possibilidades da tecnologia nesse contexto vão muito além do momento de crise, e se trabalhadas de maneira positiva podem mudar permanentemente o cenário da educação.

Carolina Gomes, Gerente de Desenvolvimento de Negócios para Educação da Lenovo desde 2019, reconhece o potencial da tecnologia como aliada da educação e da gestão escolar.

Segundo ela, não existe uma “receita de bolo” para essa questão, já que cada instituição escolar é única. Durante a pandemia, esse assunto ganhou ainda mais espaço devido à necessidade de educadores e alunos de se adaptarem a uma nova realidade. 

O conceito de “educação híbrida”, por exemplo, é muito amplo e trabalha com o ensino online e offline; esse modelo reflete a inevitável conectividade do mundo atual.

Como a inovação das escolas elimina as barreiras

Para a especialista, a junção da escola e da tecnologia é um “caminho sem volta”, e hoje em dia quem não investe nisso já se encontra “atrasado”. Isso envolve, é claro, ter uma nova visão sobre a escola em si. 

“Tudo está conectado”, diz Carolina, que também é professora. “Então, independente de wi-fi e de tudo mais, a escola hoje não tem paredes, ela não tem mais barreira”. 

Ou seja, atualmente a escola é mais do que simplesmente um espaço físico – ela se relaciona e se estende à família, e vice-versa. Isso ficou claro durante a pandemia, quando os pais e responsáveis precisaram lidar com a educação dos filhos em casa. 

Plataformas de ensino que forneçam ao aluno o material a ser trabalhado em aula – seja onde ele se encontrar fisicamente – são, portanto, essenciais. 

Ferramentas úteis para a inovação das escolas

Para ajudar na adaptação das escolas a este novo cenário, o Instituto Crescer – focado em Educação e implementação de projetos relacionados à formação de educadores, qualificação profissional e desenvolvimento comunitário – desenvolveu a avaliação APEI-50, também chamada de Avaliação das Práticas Educacionais Inovadoras. 

Luciana Allan, diretora do Instituto, explica que essa avaliação fornece a cada escola um índice que mostrará onde ela se encontra, no momento, em termos de inovação. 

O resultado é medido por meio de 50 indicadores, permitindo que a escola em questão desenvolva um plano de melhoria baseado em formação continuada de professores e investimentos em infraestrutura. 

A avaliação é feita on-line, e uma parte – focada na auto-avaliação da prática pedagógica da escola – é gratuita. É realizada uma avaliação sobre o dia a dia da escola, seu uso da tecnologia e metodologias ativas e seus resultados (tanto em questão de competências digitais quanto socioemocionais). 

Outro questionário da avaliação é voltado aos coordenadores pedagógicos, analisando a formação continuada dos professores. Por fim, existe o questionário voltado ao gestor de TI, focado na questão da infraestrutura. 

“Olhando para essas três frentes, a gente consegue identificar, então, o momento dessa instituição, e a partir desse resultado, desenhar um plano de ação para dar conta dos desafios que são prioritários a curto prazo e a médio e longo prazo”, explica Luciana. 

“Esperamos, com isso, criar um planejamento mais estratégico de adoção de tecnologia, de um processo de inovação que é contínuo”. É claro que esse resultado não se dá “do dia para a noite” – por isso mesmo, a presença da APEI-50 como um “norte” para guiar o caminho é tão valiosa. 

Responsabilidade e institucionalização da tecnologia

Ter esse auto conhecimento a respeito dos objetivos e desafios de sua escola também é importante para um uso consciente de aparelhos e recursos. 

Para Carolina, a compra de recursos sem o conhecimento específico de como e porque serão usados pode ser um problema. “Se a gente compra um device, mas a gente não tem um conteúdo, a gente não tem um sistema de segurança que vá te garantir que esse aluno não vá usar de forma indevida a informação (…) a gente tem um projeto falido já desde o começo”, reflete. 

Essa intencionalidade de uso, então, requer planejamento além do entusiasmo pelo novo. É essencial que a escola “institucionalize” sua tecnologia – ou seja, ela deve fornecer recursos tecnológicos aos alunos de forma segura e consciente. Esse cuidado é fundamental para mitigar os riscos do hibridismo, principalmente porque é impossível voltar atrás no uso da tecnologia. 

Desafios

O que precisa ser levado em conta, portanto, para fazer um melhor uso da tecnologia na educação? 

1. Adaptação

A adaptação deve incluir o sistema de ensino como um todo, incluindo família, funcionários, professores, alunos. Apesar de ser um processo por vezes frustrante, é também uma etapa imprescindível para chegar a uma nova realidade de forma saudável. 

2. Gerenciamento de sala de aula

Com cada aluno trabalhando em seu próprio computador, o gerenciamento de sala de aula pode se tornar ainda mais complicado para os professores. Por isso, ferramentas que facilitem essa tarefa são de grande ajuda. 

“O gerenciamento da sala de aula é um dos aspectos principais”, afirma Carolina. “Se já é difícil a gente fazer a gestão de uma sala com tecnologia, sem a tecnologia piorou, não é?”. 

3. Funcionamento do ambiente híbrido

“Será que o ambiente físico da escola que existia há dois anos atrás continua sendo atrativo para o aluno que viveu tudo o que a gente viveu durante a pandemia?”, questiona Carolina. 

“Será que a gente pode melhorar o espaço físico da escola para que o aluno se sinta interessado em voltar para a ela”. Apesar do desejo dos alunos de voltarem ao presencial pelas relações humanas, com essa volta de fato muitos passaram a sentir falta do ensino remoto – que pode ser realizado no conforto de suas casas. 

Por isso, hoje mais do que nunca é importante pensar se as escolas conseguirão manter o interesse dos estudantes no espaço físico limitado da sala de aula tradicional. 

Uma das soluções para esse problema seria o uso positivo do learning space, ou seja, espaço de aprendizado: segundo Danielle Andrada, diretora da EDUINFO (empresa focada no fornecimento de tecnologia aplicada à educação), a tradicional sala de aula enfileirada já não funciona mais; da mesma forma, o laboratório de informática convencional pode ser substituído por um laboratório móvel de tecnologia que roda pela escola. 

A mudança do espaço físico pode fornecer, além de conforto, um maior rendimento de aprendizado – para isso, é preciso entender cada aluno de forma única. “Cada um é diferente, cada um quer sentar de uma forma diferente e cada um quer aprender de forma diferente”, explica Danielle. “Então quando você entende isso, você consegue construir”.

O momento da mudança

Nesse caminho à uma nova educação, a tecnologia também pode ajudar os educadores na forma de softwares ou programas de apoio ao professor e à escola. 

As opções são inúmeras e já existem formas de tornar computadores educacionais muito acessíveis, como explica Vera Cabral, gerente de desenvolvimento de negócios de educação da Microsoft. As mesmas plataformas que são pagas com base no Office365, por exemplo, estão disponíveis gratuitamente online para instituições educacionais. 

O essencial para dar o tão desejado salto na educação é compreender e utilizar os recursos tecnológicos com propósito. “Porque quando a gente olha para a tecnologia em si e não olha para os processos que estão envolvidos ali, não vai acontecer, não vai mudar”, diz Vera. 

“Em todas as áreas que a gente tem tecnologia, ela só faz sentido se ela transformar os processos”. Assim, o uso da tecnologia na educação deve vir com a coragem de inovar e arriscar, fazendo o que sempre se sonhou – aproveitando para entender profundamente como cada aluno aprende, saber quais são suas forças e dificuldades, criar atividades diversas. 

E o momento nunca foi tão oportuno quanto agora. ”Se era para essa pandemia acontecer, foi até numa hora que a gente tinha condição de tomar uma chacoalhada e de entender que a gente tem recursos que estão aí e que a gente precisa usar esses recursos a favor da educação”, opina Vera. 

“A gente tem os equipamentos e, mais que isso, a gente tem todas as ferramentas, para que, tanto o ensino, quanto a aprendizagem, aconteçam da forma que a gente espera que aconteça”. 

O futuro é agora

A tecnologia já está intrínseca na educação, como afirma Carolina, e seu uso efetivo envolve o treinamento de pais, alunos, professores e funcionários. 

Hoje, há parcerias no mercado que fornecem às escolas muito mais que um device (dispositivo); investir na capacitação de professores, planos de marketing e soluções de softwares é atualmente uma necessidade além de um diferencial. 

A urgência da pandemia acelerou um processo que já vinha acontecendo, mas ainda há muito a se fazer. “Eu tenho certeza que a educação híbrida foi um ótimo aprendizado, um ótimo legado trazido pela pandemia”, diz Carolina. 

Para o aproveitamento máximo de todas as facetas não só deste, mas de todos os recursos tecnológicos da educação, no entanto, é preciso permitir que uma nova visão da escola se forme.

A hora é crítica para educadores e gestores escolares, e Carolina lembra: “vocês não estão sozinhos e vocês precisam cobrar isso da indústria de tecnologia e de todos que tem vendido ou ido visitar vocês para vender qualquer tipo de coisa”. 

Essa cobrança e interesse garantem que possamos fornecer, daqui para a frente, o melhor tanto para os alunos quanto para os professores e a gestão.