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“Houston, we’ve had a problem” (“Houston, tivemos um problema”). Você já deve ter ouvido a frase dita por um dos tripulantes da missão Apollo 13.

O ano era 1970 e a Nasa enviou um foguete tripulado em direção à Lua. No entanto, dois dias após a decolagem a situação fugiu do controle e os três astronautas precisaram lidar com problemas que mudaram completamente o objetivo da missão: era preciso garantir condições técnicas do foguete e de sobrevivência da equipe para retornar à Terra. 

Do mesmo modo, o Covid-19 mudou completamente a missão das escolas. “Nossa missão não é mais entregar o plano estratégico, o plano do ano e os resultados financeiros esperados. A missão agora é: como chegar no final do ano vivo (fisicamente e financeiramente) com tudo isso que está acontecendo?”, questiona Felipe Diesel, professor Inovador Empreendedor e fundador de empresas na área de educação.

 

Impacto profundo

Felipe, que também é Alumni da Singularity University e Delegado educação empreendedora G20 YEA, lembra que durante a missão Apollo 13 vários paradigmas tiveram que ser quebrados, coisas e funções foram ressignificadas para atender às novas – e urgentes – demandas.

Em sua experiência em escolas e com projetos de formação, ele conta que têm ouvido de alguns relatos de professores que eles não estão preparados para lidar com essa nova realidade. “Ninguém está preparado para uma pandemia”, lembra. No entanto, é preciso olhar para as ferramentas e condições existentes e adaptar para dar continuidade às atividades.

 

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Cisne Negro

O escritor Nassim Taleb, matemático de formação e analista de riscos, concebeu a “Teoria do Cisne Negro” a partir da relação com uma situação onde uma variável imprevisível pode mudar a forma como enxergamos os fatos – bem como nossa posição diante deles.

Mas, porque “Cisne Negro”? Antes do descobrimento da Austrália, acreditava-se que apenas cisnes brancos existiam, já que os negros nunca haviam sido vistos. Mas esse paradigma mudou quando a Austrália foi descoberta, e com ela, a existência dos cisnes negros. A novidade impactou a forma de pensar a biologia na época.

A pandemia é o nosso cisne negro atual. Acredita-se que a forma de viver estará completamente modificada após essa crise. Na educação, por exemplo, o ensino à distância virou item da cesta básica. “Muitas escolas terão que se reinventar e utilizar aquilo que estamos vivendo no dia a dia como experiência para repensar a maneira de existir nesse novo contexto”, fiz Felipe.

 

VUCA: volátil, incerto, complexo e ambíguo

Um mundo que muda rapidamente e onde lidar com o incerto é uma constante. Sem respostas, fáceis, rápidas ou pré-definidas, pois elas não dão conta da complexidade – o que funciona para um, pode não funcionar para o outro. Logo, a ambiguidade é um fio que alinhava essas facetas. Assim é definido o mundo VUCA, e essa complexidade é facilmente observada na história das escolas.

A primeira experiência mais semelhante ao sistema de ensino que conhecemos teve origem na Prússia em 1750, e seguia o modelo “espartano” – norteado por missões, tarefas e disciplina.

Esse modelo ainda é a base para pensar a educação na atualidade. O modelo prussiano focado em autoridade, hierarquia, tarefa e disciplina é ainda utilizado em muitas escolas”, pontua Felipe.

“A tecnologia cresce de maneira exponencial, enquanto crescemos de maneira linear. Enquanto andamos 30 metros a tecnologia dá 26 voltas na terra. Algumas projeções indicam que em 2045 um computador de 1000 dólares terá a capacidade computacional de toda humanidade. Imagina o que seremos capazes de fazer?”

Segundo Felipe, essa comparação serve para ilustrar que as mudanças acontecem de modo acelerado com o impulsionamento da tecnologia, e mesmo com resultados imprevisíveis, é importante considerar essas possibilidades para repensar o nosso cotidiano.

“Em um mundo digital, a escola também precisa ser digital. Mesmo que tenha um modelo tradicional, o mapa mental e modelo de negócios precisa ser digital”, pondera.

 

Modelo mental das startups nas escolas

Felipe lembra que o modelo tradicional de gestão escolar está baseado em previsão: projeções anuais, fluxo de caixa, quantidade de alunos e outras variáveis. Em contraponto, as startups trabalham considerando condições de incertezas e para isso usam o modelo de gestão ágil para oxigenar as tomadas de decisões.

As Startups têm como habitat um terreno de incertezas. Buscam criar produtos e soluções de forma inovadora em situações imprevisíveis. Portanto, ferramentas tradicionais não conseguem responder aos desafios desse modelo de negócios.

Na concepção de Eric Ries, autor do best seller “A Startup Enxuta”, os métodos de gerenciamento mais adequados para as startups são aqueles com foco em aprendizado e flexibilidade. Por isso, muitas já não usam o planejamento estratégico.

 

OKR e Scrum

No entanto, ter uma gestão enxuta e ágil não significa abandonar ferramentas. Um exemplo é o isso do modelo OKR, (Objetctives and Key Results). O OKR é famoso por ser amplamente utilizado por empresas do Vale do Silício, como Google, Microsoft e Twitter. Tem como essência o foco em metas e resultados e não utiliza plano de ação. Mas, para tornar isso praticável é preciso ter metas claras, métricas, avaliação.

Para implantar o OKR, algumas regras básicas são necessárias, como definir metas específicas, definir os objetivos em conjunto com a equipe para garantir um olhar diversificado, estabelecer prazos curtos com acompanhamento constante de resultados e processos, além de envolvimento intenso da equipe.

O processo ágil precisa fazer parte da cultura da empresa, ou seja, um interesse verdadeiro. Os objetivos devem estar articulados, quando alcançados de forma coletiva ou individual, eles contribuem para as metas macro da instituição.

O Scrum é outro exemplo de ferramenta utilizada por startups. Os projetos são divididos em ciclos que podem ser mensais ou semanais. Esses ciclos são chamados de sprints, onde é estabelecido um conjunto de atividades que devem ser realizadas, gerando etapas de início, meio e fim.

Depois de definir o resultado esperado o planejamento acontece durante a execução do projeto, otimizando o tempo com checagens rápidas, diferente do modelo tradicional onde a ação só é iniciada após a elaboração de um plano de ação.

 

Para ler

A Startup Enxuta (Eric Ries)

A Lógica do Cisne Negro – O impacto do altamente improvável (Nassim Taleb)

 

Para assistir

Apollo 13: do desastre ao triunfo