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Crescer de forma sustentável é um dos grandes desafios da gestão escolar. A criação de um ambiente produtivo envolve diversos fatores e conhecê-los bem pode impulsionar o desenvolvimento da instituição.

Sendo assim, quais são os principais pilares do crescimento de uma escola? Quem responde essa pergunta é Vahid Sherafat, CO-Fundador da ClassApp, segundo o especialista, o progresso de uma escola depende de quatro fatores principais:

Gestão de pessoas

Tudo que acontece (ou deixa de acontecer) em uma empresa depende dos seres humanos que a compõem, e com escolas não é diferente. Por isso, Vahid afirma que o primeiro passo para garantir um bom funcionamento é investir no bem estar das equipes administrativas e pedagógicas. Os desafios da gestão escolar em relação à equipe administrativa é encorajar a inovação e a melhoria constante, trazendo eficiência e qualidade para todos os processos – sejam eles financeiros, comerciais ou de marketing

Já no caso da equipe pedagógica, é necessário manter os profissionais empoderados: um educador que se sente bem e estimulado em seu local de trabalho tem mais motivação e condições para realizar sua parte na escola. O crescimento de uma instituição está diretamente ligado, então, com a valorização de seu time – Vahid aponta que isso inclui tanto compensação financeira quanto participação no negócio em si. 

“As pessoas que causam toda a transformação em uma escola”, reflete Vahid. “E o limite do que uma escola é capaz de fazer é definido pelo limite do que aquelas pessoas estão dispostas a fazer, ou o que elas são capazes de fazer”. O profissional compreende que, no cenário atual, as escolas têm em suas equipes pessoas capazes de muito – mas, por alguma razão, esses indivíduos não estão estimulados a concretizar essas possibilidades. 

O desafio da escola é, portanto, tirar o melhor de sua equipe e desafiá-la – assim como uma start up faria, comenta Vahid. Mas isso não significa exigir mais horas de trabalho; pelo contrário. O gestor escolar deve prezar por qualidade, e não quantidade. Isso envolve levar em conta e honrar a saúde mental desses profissionais, permitindo que entreguem seu melhor. 

Vahid também menciona a importância de valorizar pessoas acima da tecnologia. “Enquanto a gente coloca o professor como o valor dele sendo dado pelo quanto ele entende de tecnologia, a gente não entende de pessoas”, fala. “Um educador deve ser avaliado pela capacidade que ele tem de alavancar pessoas”. Para ele, o uso da tecnologia é apenas uma das ferramentas disponíveis aos professores para que atinjam seu objetivo de desenvolver o potencial de seus alunos. Assim, outros modos de chegar a esse propósito são igualmente válidos. 

Essa visão fortalece o valor de profissionais de todas as gerações, argumenta – todos os métodos são bem vindos e devem coexistir em um ambiente seguro e respeitoso. Um educador não deve se sentir em competição com outro, e sim em parceria. Devido a esse equilíbrio precioso, Vahid vê a criação de times colaborativos e unidos como um dos maiores desafios da gestão escolar nos dias de hoje. O uso da palavra “time”, em vez de “departamento”, é importante – enquanto um departamento é um “conjunto de pessoas entre quatro paredes”, o termo “time” engloba a ideia de um grupo com uma sinergia tão forte que resulta em algo maior do que a soma de suas partes.

“Enquanto a gente não tem uma escola onde o resultado é incrivelmente maior do que a soma dos talentos individuais, a gente não está sabendo gerir a equipe”, esclarece Vahid. 

Gestão financeira

Vahid chama atenção à importância dos indicadores para a gestão econômica de uma escola. Também conhecidos como KPIs (Key Performance Indicators), eles são parâmetros que ajudam a medir e analisar o desempenho de uma empresa. Fornecendo resultados qualitativos e quantitativos valiosos para que um gestor tenha noção da situação atual de seu negócio, os indicadores permitem que mudanças sejam feitas em prol do crescimento da instituição quando necessário. 

Os indicadores devem ser adequados, sugere Vahid, à uma instituição com o modelo de assinatura. O modelo de assinatura é um tipo de negócio baseado no pagamento recorrente pelo qual os clientes têm acesso a um benefício ou serviço, em contraste com o pagamento único tradicional. “Por muito tempo, a escola não tinha referências de uma análise financeira voltada para a assinatura, porque não existia um conhecimento sobre isso”, conta. “Empresas que têm um modelo de assinatura têm um modelo de gestão financeira diferente.” 

Essa nova forma de negócios foi desenvolvida no Vale do Silício, onde empresas de streaming, por exemplo – como a Netflix e o Spotify – começaram a perceber suas vantagens. Esse modelo se destaca, por exemplo, pela facilidade de vendas de planos e assinaturas online; pela crescente preferência por produtos digitais; pela escolha, cada vez maior, de “acesso a serviços” em vez de “consumo de produtos”; pela obsolescência de produtos que acontece gradualmente mais rápido. Com a concorrência cada vez mais desafiadora, essa novidade também ajuda na manutenção de clientes – que, por sua vez, têm acesso mais rápido ao que procura por preços menores.

De acordo com o relatório Subscription Economy Index 2019, publicado pela empresa de software Zuora, as empresas dessa “economia da recorrência” ou “economia de subscrição” cresceram mais de 350% entre 2012 e 2019 nos EUA. Enquanto isso, no Brasil, um estudo da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCOMM) revelou que serviços por assinatura cresceram 167% entre 2014 e 2018. É interessante lembrar que os produtos de empresas desse modelo não precisam, necessariamente, ser digitais: a TAG Livros, por exemplo, é um serviço que entrega livros físicos recorrentemente nos endereços de seus clientes.

“Esse conhecimento hoje muitas escolas não têm”, diz Vahid. “Ele é muito mais acessível do que a gente pode imaginar, e permitiria entender a escola de outra forma”. Apesar de sua efetividade e uso por grandes empresas ao redor do mundo, Vahid considera essa uma solução simples.

Branding e marketing

Uma dimensão importante para a captação de alunos envolve o branding – ou seja, a forma de moldar uma marca e atribuir valores à ela – e o marketing – conjunto de estratégias e ações para promover um produto ou serviço. Essa dupla, para Vahid, é uma “grande fortaleza” para a comunicação e percepção de marca de uma escola.

As formas de trabalhar esses aspectos de uma empresa são variadas. Branding pode incluir, entre outros elementos, logotipos, slogans, paletas de cores e até mesmo filosofias e ideias. Alguns exemplos são os arcos amarelos do McDonalds; a cor vermelha e o sentimento natalino nas propagandas da Coca-Cola; o slogan “Just do it” da Nike. Tudo isso ajuda uma marca a se estabelecer no mercado, construindo uma identidade única que se destaca no meio da infinidade de empresas ao nosso redor.

Vahid ainda menciona a arquitetura e o design como ferramentas de branding. “Muitas escolas recentes foram lançadas que têm pouquíssimo know how educacional de fato, mas usaram dessas estratégias de design e arquitetura para se posicionar rapidamente no mercado como instituições criativas e inovadoras”, explica. “Muitas escolas tradicionais precisam ter uma grande renovação do conhecimento dessa área, e o impacto pode ser profundo”. 

No livro Arquitetura Escolar: o projeto do ambiente de ensino, a arquiteta Doris Kowaltowski explica como esse impacto pode acontecer: é preciso que o projeto arquitetônico dialogue diretamente com o projeto pedagógico da instituição. Ou seja, os locais precisam ser adaptáveis e apropriados. Designs lúdicos ainda ajudariam no ensino de algumas disciplinas e serviriam como estimuladores da criatividade, tornando o espaço parte do processo de aprendizagem.

As pesquisas confirmam as vantagens dessa filosofia: o relatório Better spaces for learning, do Royal Institute of British Architects (Riba), apontou a relação entre escolas confortáveis e bem planejadas com um menor custo de manutenção e construção; além disso, a arquitetura escolar também estaria ligada à qualidade da educação, podendo afetar a produtividade e o ensino em até 15%. Professores entrevistados para o estudo ainda afirmaram que bons ambientes também contribuem para um melhor comportamento por parte dos alunos e uma diminuição no bullying. Segundo o RIBA, “bom design não é apenas sobre aparências; faz uma diferença notável nos resultados e economiza recursos” (tradução livre). 

Com suas diversas formas, é óbvio que o branding é um aspecto a não ser subestimado; sabemos por meio do relatório State of brand consistency, da Lucidpress, que a apresentação constante de uma marca gera aumento de 23% das receitas.

Da mesma forma, um marketing bem feito tem impacto profundo no crescimento de qualquer empresa. Dados de 2018 da Content Trends mostram que 73% das empresas brasileiras já adotam o Marketing de Conteúdo e 61,8% das que ainda não utilizam pretendem adotá-la em breve. 

Além dos diversos tipos de propagandas e anúncios, o marketing também pode ser feito de outros modos. A Nike, por exemplo, criou o Vem Junto – sistema online que, ao permitir que as pessoas conheçam, divulguem e participem de eventos esportivos, também promove a marca com todas as curtidas, hashtags e posts dos usuários. A Nike Brasil ainda tem canais no YouTube e páginas no Facebook focadas em diferentes assuntos, como futebol e corrida – o que permite que ela se conecte com os clientes e seus interesses.

Gestão orientada ao cliente

Vahid explica que “houve uma grande mudança nas grandes empresas do mundo nos últimos anos”; isso porque a maior parte delas criou uma abordagem orientada à experiência do cliente. Chamada de Customer Centric, essa forma de gestão foca em realizar os processos da empresa de modo a dar ao cliente a experiência desejada. 

O relatório Customers 2020: A Progress Report, publicado pela empresa Walker, mostrou que a experiência do cliente se mostrou, para uma marca, um diferencial ainda mais importante do que o preço e a qualidade do produto. Dessa forma, criar experiências customizadas se mostra cada vez mais essencial – um estudo da InfoSys, Rethinking Retail, também aponta que 86% dos consumidores consideram um atendimento diferenciado e exclusivo um dos principais fatores em suas decisões de compra.

Considerando que, de acordo com uma pesquisa da NewVoiceMedia, uma experiência negativa é suficiente para que mais de 58% das pessoas não desejem voltar a utilizar o serviço, fica clara a necessidade da abordagem Costumer Centric. Ela deve, é claro, ser personalizada para servir à realidade de cada empresa, levando em conta seu público alvo. Vahid lembra que, no caso da escola, essa atenção deve focar em duas dimensões – a experiência do aluno e a experiência da família. 

Um gestor escolar, diz Vahid, deve utilizar todo seu conhecimento de desenho de experiência para criar processos e metodologias que permitam a experiência ideal desses dois grupos. Desde a matrícula até as aulas e reuniões de pais, o foco deve ser sempre criar uma experiência positiva para os clientes – priorizando isso, inclusive, acima do planejamento inicial da empresa.

Focada na fidelização de clientes, a cultura Costumer Centric se mostra especialmente valiosa no meio de negócios que envolve um investimento tão importante quanto a educação. Para que seja realizada de forma produtiva, é essencial que a empresa conheça seus clientes e trabalhe com um bom monitoramento de percepção frequentemente.

Ao perceber e agir positivamente em relação a essas carências, é possível superá-las e ajudar sua escola a não apenas sobreviver, mas prosperar.

Vahid participará da 5ª edição do Conecta, onde irá palestrar sobre “Como a minha escola pode crescer exponencialmente?”. O Conecta Escolas Exponenciais, maior evento de inovação de crescimento escolar do Brasil, será realizado presencialmente no dia 13 de abril, das 8h às 18h, no Expo Center Norte, em São Paulo. Os ingressos já estão sendo vendidos, saiba mais aqui.

Para mais dicas de gestão escolar, confira o artigo:

Gestão escolar ágil: Como definir metas alinhadas a estratégias de crescimento