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Conforme os tempos mudam, os educadores também precisam se adaptar para acompanhar os estudantes. Métodos que já foram considerados suficientes, hoje não são mais. Justamente por isso, as metodologias ativas de aprendizagem tem ganho espaço e a atenção das equipes pedagógicas.

O que são as metodologias ativas de aprendizagem?

As metodologias ativas de aprendizagem são, basicamente, modos de ensinar que estabelecem o aluno como “personagem principal” do processo de aprendizagem. Ao contrário do modo “passivo” do ensino tradicional, essas estratégias incentivam os alunos a aprenderem de maneira participativa, desenvolvendo mais responsabilidade e permitindo que se conectem mais pessoalmente com aquilo que estejam estudando.

Nessa prática de ensino, o professor ajuda o aluno a trilhar seu próprio caminho de aprendizado, ao invés de, simplesmente, transmitir informações de um jeito pouco dinâmico. A experiência se torna, então, muito mais significativa.

O educador e pesquisador de projetos educacionais inovadores José Moran, referência no assunto, aponta caminhos possíveis para que a equipe pedagógica possa implementar essa metodologia com sucesso na escola.

Relação gestor x equipe pedagógica 

Uma boa equipe pedagógica é, obviamente, indispensável para que a implementação das metodologias ativas funcione: sem profissionais dedicados, apoiados e unidos, não existe educação efetiva. 

José Moran lembra, no entanto, que as metodologias ativas dependem também, em sua base, de uma “gestão ativa”. O educador explica que não basta incentivar o professor a trabalhar com metodologias ativas a gestão escolar precisa dar liberdade e apoio para que isso de fato seja feito.

A importância de arriscar

Segundo Moran, para desenvolver metodologias ativas como uma gestão é preciso reconhecer que não é possível agradar a todos sempre; devemos aceitar essa realidade assim como a necessidade de arriscar – afinal é só assim, tentando coisas novas e ousadas, que uma escola consegue inovar. 

Na visão do especialista, este processo envolve, inclusive, continuar apoiando o professor quando alguma de suas ideias dá errado: “Eles precisam ter suporte quando algo não funciona”

A falta desse suporte muitas vezes resulta no desencorajamento do professor, que pode parar de tentar ideias novas por medo ou insegurança. Olhem pelo ponto de vista do professor, sugere Moran. Ele lembra que, em uma época onde já é tão difícil manter seu emprego, assumir riscos pode ser assustador.

Desse modo, inovar, na prática, é um desafio para a maior parte das instituições. Para que tudo dê certo, de acordo com Moran, uma escola precisa ter condições tão excepcionais que poucas conseguem atingir esse patamar. 

“Você tem que ter gestores extremamente ousados, você tem que ter coordenadores abertos, você tem que ter professores alinhados, você tem que ter alunos que também entenderam o projeto”, conta. “Isso não é fácil”, completa.

Trabalho contínuo 

Para Moran, é interessante desenvolver um “ecossistema” onde a metodologia ativa  de aprendizagem faça parte da própria concepção da escola. Ou seja, apenas ensinar algumas metodologias ativas aos professores no começo do semestre não é suficiente – a escola deve manter uma cultura, continuamente, de apoio aos funcionários nesse sentido, nunca os deixando sozinhos. 

O educador reforça a importância de uma equipe de acompanhamento e mentoria para esse projeto – não para que a escola fiscalize os professores, mas para que possa ajudá-los e avaliar o que está dando certo ou não. 

Tempos pós-pandemia 

O delicado momento pós-pandemia que vivemos torna esses cuidados ainda mais cruciais: em um tempo cheio de incertezas, é cada vez mais importante decidir o que combinar do futuro e do presente para criar uma educação mais completa. 

Estamos em um momento de aprendizado e experimentação, afirma Moran, e devemos criar ambientes onde as pessoas se sintam à vontade para arriscar e falhar – não porque queremos que elas falhem, mas porque falhas vão acontecer de qualquer jeito, e uma atitude positiva é necessária para que essas situações se transformem em lições e não em perdas. 

E para que faça efeito, esse apoio não pode ser retirado diante do primeiro obstáculo: ele precisa se tornar parte da essência da escola, assim como a prática de aprender com erros. Aceitar nossas incertezas – tão normais nos tempos em que vivemos – é o primeiro passo para conseguir as respostas que precisamos. “Nós temos que conviver dentro desse período de reencontro, redefinição das estratégias”, afirma Moran. 

As várias facetas das metodologias ativas

Para que tudo isso funcione da melhor forma, a escola precisa envolver, além da equipe pedagógica, os alunos e suas famílias no projeto de metodologias ativas. Afinal, é para eles que esses esforços são dedicados. Esse foco na equipe pedagógica como uma frente ampla nos traz de volta a um dos principais objetivos das metodologias ativas: o protagonismo estudantil. 

Além disso, Moran lembra que a implementação das metodologias ativas vai além da formação do professor; a escola inteira deve estar pronta para receber esse novo modelo, o que exige trabalho e investimentos. 

Assim, para atingir os resultados desejados, a transição – principalmente quando uma escola vem de um ensino tradicional – pode levar um certo tempo. “Se você quer trabalhar com metodologias ativas, você tem que redesenhar os espaços, você tem que pensar em formas de integração”, avisa. “Tudo isso envolve planejamento, custos”

Mas o esforço vale a pena: o compromisso com a melhor educação possível, além de não ter preço na esfera de cada família, é a promessa de uma sociedade melhor. A ajuda das metodologias ativas, então, vai além da efetividade acadêmica – nos permite garantir que a escola seja formativa em sentidos universais.

É claro que algo tão importante nunca vem sem riscos; uma instituição de ensino que realmente almeja ser inovadora deve provocar e questionar além de explicar e acolher, pondera Moran, que ainda declara:

 

Se a escola não incomoda, não está alcançando todos os seus objetivos”

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