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Uma escola sem currículo definido, em que os alunos definem seu direcionamento de aprendizagem de acordo com suas paixões, capacidades e interesses. Nela, os alunos ajudam a gerenciar a instituição, definindo quais tecnologias e métodos serão usados. Esse cenário seria mera utopia ou representa uma perspectiva real para o futuro da educação? 

Para a pesquisadora americana e especialista em educação, Jennifer Groff, essa nova forma de pensar a escola é sim, apenas questão de tempo. “Os antigos modelos de ensinar e de aprender não podem continuar existindo. Eles já não atendem os alunos de hoje, de acordo com suas necessidades atuais. O mundo da inteligência artificial vai mudar o mundo em que a gente vive e vai mudar as competências que as crianças vão precisar no futuro.”

Jennifer Groff é designer de tecnologia e ensino, empreendedora, autora, palestrante e pesquisadora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Além disso, Jennifer faz parte de uma plataforma global chamada WISE (World Innovation Summit for Education), um hub de inovação que dá suporte para as escolas criarem seus próprios laboratórios de inovação e promoverem mudanças no ensino e no aprendizado. 

“Modernizar a forma de ensino e aprendizagem é a missão da WISE, um agente de mudanças que dá apoio a professores na testagem de novas formas de ensino e aprendizagem.” 

Segundo Jennifer, este momento oferece uma oportunidade para uma imensa transformação no mercado educacional, de forma rápida e em escala.

 

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Mas o que é exatamente um laboratório de inovação?

Os laboratórios de inovação são unidades de pesquisa e desenvolvimento dentro da escola para identificar problemas, criar rapidamente protótipos, ver o que está e não está funcionando e buscar ferramentas para implementar as mudanças necessárias. Segundo Jennifer, muitas empresas já trabalhavam com esse modelo, para manter competitividade e modernidade, mas, na educação, era diferente, pelo menos até agora, por envolver crianças e processos muito estruturados.

“A pandemia fez com que as pessoas ficassem mais à vontade em arriscar na educação. Cada escola teve que criar seu próprio centro de inovação, de uma hora para a outra.” 

Jennifer Groff dá o exemplo de uma escola com a qual está trabalhando no Qatar, onde não existe um currículo de base, nem tarefas definidas. O objetivo da escola é ajudar seus alunos a partir de suas paixões, dúvidas, interesses, dando auxílio em sua própria jornada de aprendizagem, muito fundamentada em relacionamentos individuais.

Para a pesquisadora, a grande pergunta no mercado educacional é como transformar o currículo tradicional, fazendo o melhor uso da tecnologia e focando cada vez mais em um aprendizado personalizado, apoiando cada aluno de forma individual.

“Não basta fazer o mesmo de antes, fazendo isso on-line. É preciso mudar de um modelo que pensa em matemática, ciências, … para algo mais amplo e com um ritmo que não é somente definido pelo professor, mas pelo aluno.”

“Nós falamos que queremos que crianças se tornem pessoas independentes, que pensem de forma crítica, independente e inovadora, mas seguimos usando modelos antigos.”

Como chegar lá?

Na palestra durante o evento Conecta Escolas Exponenciais Live, a especialista explicou sobre mecanismos da inovação e ferramentas que as escolas podem usar para alcançar essas transformações.

Jennifer apresentou casos que vêm dando certo e outros que não funcionam. Um Exemplo citado por ela foi o de uma escola pública e tradicional americana que investiu milhões de dólares na compra de uma imensa quantidade de Ipads, mas não preparou a sua equipe corretamente. Consequência: teve um resultado desastroso. 

“Não se trata apenas de usar Ipads e jogos. Trata-se de fazer uma mudança profunda na mentalidade educacional; e isso não pode ser um projeto paralelo de curto prazo, tem que ser um projeto central. Nós temos a oportunidade de repensar tudo o que sabemos sobre educação. Na maioria das vezes nós temos o modelo de cima para baixo, no qual os líderes mandam todos fazerem alguma coisa, mas é fundamental que alunos e professores participem de toda a jornada de transformação. Fazer um design coletivo, pensando de baixo para cima.” 

“No Wise fazemos um design compartilhado, coletivo, dando suporte às escolas em tempo real por meio de ciclos de inovação, buscando inspiração em outras instituições inovadoras. Criamos um espaço bastante inspirado na Apple, um espaço maker em que testamos novidades antes de levá-las para a sala de aula. Isso realmente é uma mudança inovadora de baixo para cima. Essa é a diferença entre o que chamamos de reforma escolar, que vem sendo buscada há muitos anos, é o redesign de toda a mentalidade. Precisamos pensar onde queremos chegar e não pensar somente no que não está funcionando.”

Segundo Jennifer, as escolas envolvidas neste processo de mudança acabam criando grupos de compartilhamento de experiências e pesquisas para se auto ajudar. 

“Nós fazemos coaching para que as escolas possam caminhar com as próprias pernas e escolher seus próprios modelos.” 

 

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10 dicas de como revolucionar sua escola:

  1. Tenha senso de aventura e ludicidade para conseguir inovação.
  2. Esteja aberto a ideias diferentes do que é educação, rompendo com velhos modelos mentais do que deve ser a escola.
  3. Questione, faça perguntas como: “o currículo tem que ser linear, pré-definido?
  4. Comece pelos pilares básicos da aprendizagem, com o aluno no centro e cada um com sua forma de crescer, aprender, sempre com foco em seu engajamento e crescimento socioemocional.
  5. Brinque com o modelo da sua escola, pensando que tudo pode ser ajustado e adaptado. Pense como designer.
  6. Desenvolva aulas com base em projetos, fomentando um aprendizado auto-guiado, para dar aos alunos mais controle sobre o que eles fazem. Empodere seus alunos para que eles sejam cada vez mais engajados (muito importante neste momento também é manter os pais engajados, fazê-los participarem mais do aprendizado dos filhos. Eles são uma parte muito importante dessa conversa sobre como deve ser o ensino e a aprendizagem).
  7.  Aproveitem a tecnologia com o melhor que ela tem a oferecer.
  8. Pense sob a perspectiva do aluno, levando em conta sua realidade, sua casa, sua família, seu repertório.
  9. Busque ferramentas de ajuda como pesquisas, livros, estudos…
  10. Ligue os motores e dê a partida para a transformação!

 

Para saber mais:

www.wise-qatar.org

oecd.org/education/2030

knowledgeworks.org

aurora-institute.org

 

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