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Não é de hoje que papel da escola na atualidade é questionado. Ela deve educar para a vida, formando cidadãos autônomos, protagonistas e que contribuem ativamente para uma sociedade melhor? Ou educar para o mercado, capacitando profissionais éticos, responsáveis e inovadores?

Não há uma resposta correta, nem certo ou errado, o equilíbrio é o melhor caminho. Mas o fato é que as escolas precisam estar atentas às transformações globais para formar jovens com novas habilidades, tanto profissionais quanto socioemocionais, e que saibam lidar com a complexidade do mundo pós-pandêmico.

De acordo com Douglas Giglioti, sócio-fundador e educador na Reconectta e conhecido como Global Shaper pelo seu trabalho na área pelo Fórum Econômico Mundial (FEM), é necessário abolir essa visão dualista, de formar para a vida ou para o mercado. 

Para validar o seu argumento, ele traz alguns dados do The Future of Jobs Report, um relatório que foi apresentado no FEM de 2018 e que lista as principais habilidades necessárias para o profissional do século XXI. No TOP 5 estão:

  1. Resolução de problemas complexos;
  2. Pensamento crítico;
  3. Criatividade;
  4. Gestão de pessoas; 
  5. Trabalho em equipe.

Segundo Douglas, a sustentabilidade é uma via que permite trabalhar de forma efetiva todas essas habilidades para formar os novos profissionais que estarão no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, educar pessoas para um mundo completamente diferente daquele de seis meses atrás.

“Se a gente pegar o problema do plástico […] pensando na ambiguidade, é a questão do meu conforto, estou usando um celular ou computador que tem plástico, como que eu vou eliminar o plástico? Ao mesmo tempo, a gente está causando uma poluição sem precedentes na utilização de terra, na contaminação de água, se a gente for substituir todas as sacolas plásticas por sacolas de algodão, teríamos um impacto ambiental, do ponto de vista hídrico, maior do que o plástico.”, exemplifica. 

Sustentabilidade além da questão ambiental

O conceito de sustentabilidade comumente é associado às questões ambientais, englobando ao tripé econômico, social e ambiental. Muitas escolas já incorporaram esse conceito em práticas internas e pedagógicas, como a coleta seletiva, a criação de hortas e as oficinas de reciclagem. 

O fundador da Reconectta vai além do conceito usual de sustentabilidade e reforça a importância do equilíbrio entre o indivíduo, entre os relacionamentos e entre o meio. “Geralmente, a gente só fica na questão ambiental, mas a base de transformação é quando a gente está falando das pessoas e dos seus relacionamentos”.

Ele ainda faz um questionamento: “A gente quer trabalhar a sustentabilidade de uma forma estratégica, mas de uma forma consistente, estou falando de trabalhar a sustentabilidade na formação de pessoas, e é por isso que a escola é o lugar para falar isso também, como fazer isso?”

A própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê que ao longo do Ensino Fundamental, a área de Ciências da Natureza venha a propiciar aos alunos uma nova perspectiva sobre o mundo que os cerca, bem como estimular a tomada de decisões conscientes e pautadas nos princípios da sustentabilidade.

A BNCC pode ser um bom guia para abordar a sustentabilidade em alinhamento ao desenvolvimento das competência profissionais do século XXI. Mas além disso, Douglas sugere adotar algumas estratégias de execução e níveis de engajamento para gerar comportamentos sustentáveis.

 

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Essas estratégias e níveis são abordadas no “Livro Educar para a Sustentabilidade: visões de presente e futuro”, cujo um dos autores é Edson Grandisoli, consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e diretor educacional da Reconectta.

O primeiro nível de engajamento já é o praticado por muitas escolas, e consiste na participação passiva do aluno, seja através de uma palestra ou fornecimento de materiais impressos. O segundo nível é a cocriação, isto é, o uso de metodologias ativas que estimulam a criação de materiais por parte dos alunos. O terceiro nível, que vai além da cocriação, está relacionado com o sentimento de corresponsabilização. 

 

Boas práticas para se inspirar

Segundo Douglas, da abordagem do nível de participação até corresponsabilização, o nível de envolvimento aumenta. Assim, os projetos devem ser pensado de acordo com a idade e a maturidade dos alunos e, sempre que possível, contextualizar os conceitos aprendidos em sala com comportamentos e situações do cotidiano.

“As escolas que não acompanharem esse movimento ficarão obsoletas. Se você quer ser uma escola inovadora, mas não tiver essa marca da sustentabilidade, com certeza você não estará acompanhando o que está acontecendo de inovador no mundo”.

A Reconectta tem várias soluções para a educação sustentável nas escolas. Os projetos vão desde cursos e palestras para educadores, líderes e equipe operacional das escolas até trilhas pedagógicas sobre coleta seletiva, compostagem e contato com a natureza. 

O sócio-fundador da empresa compartilhou conosco alguns projetos realizados, em diferentes níveis de ensino, que podem servir de inspiração para a sua escola. Veja abaixo:

Ensino Infantil – com uma das atividades do projeto sobre resíduos, as crianças entregam cartas de agradecimento aos garis que passavam pela rua. Além de aprenderam sobre o descarte correto do lixo, o senso de empatia também pôde ser desenvolvido.

Ensino fundamental – para tratar sobre a questão da água, as crianças montaram um trabalho de pesquisa para entender o conceito de pegada hídrica. Como produto do projeto, eles construíram um supermercado e mostraram o custo de cada produto em litros de água. 

Ensino médio – tomando como base a problemática do excesso de papel descartável na escola, os alunos criaram uma fábrica de papel reciclado a partir de um projeto de empreendedorismo. A “nova fábrica” é utilizada para abastecer a aula de artes.

 

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