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Já se passaram mais de seis meses desde que as aulas presenciais foram suspensas no Brasil, como uma medida para conter o avanço da pandemia. Apesar de algumas cidades e regiões já terem retomado o ensino presencial, a maioria dos municípios e estados brasileiros ainda estuda e prepara protocolos sanitários para que esse retorno seja seguro, tanto para as crianças e adolescentes, quanto para os profissionais da educação. E o ensino ao ar livre pode ser um grande aliado neste processo.

Devido esse cenário tão desafiador, o programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, com apoio e parceria de outras instituições, lançou um documento com sugestões e referências para contribuir na construção de protocolos que propõe o aprendizado ao ar livre como um aliado no retorno das aulas presenciais. O documento está disponível aqui.

“Fizemos alguns estudos de países que estão usando essa aprendizagem ao ar livre como recurso para a reabertura das escolas, porque em um ambiente ao ar livre, o risco de transmissão do vírus é menor. A transmissão tem a ver com a distância da pessoa infectada, mas também tem relação com o tempo de exposição que a carga viral permanece em ambientes fechados”, explica Paula Mendonça, assessora pedagógica do programa Criança e Natureza.

De acordo com Paula, contar com a natureza na volta às aulas é uma medida sanitária, pois permanecer com as crianças nos ambientes escolares abertos diminui o risco de transmitir e contrair a doença. Além disso, a natureza proporciona um desenvolvimento integral das crianças, trazendo benefícios físicos, cognitivos, emocionais, sociais e culturais. 

Como incluir os espaços abertos da escola no processo de aprendizado?

Até o momento, o que se sabe é que ambientes fechados e aglomerados são potenciais transmissores da doença. Por outro lado, pesquisas indicam que as crianças pequenas têm menos chances de contrair e transmitir o vírus. “Crianças são pouco transmissoras da doença e adoecem pouco, principalmente crianças menores, as da educação infantil, que corresponde de zero a cinco anos. As crianças de 6 a 9 anos transmitem de forma intermediária e, as acima de 11 anos, já transmitem praticamente como adultos”, disse o pediatra Daniel Becker no webinar “A aprendizagem ao ar livre no planejamento da reabertura escolar”, promovido pelo programa Criança e Natureza, que está disponível neste link.

Com este contexto, a assessora pedagógica Paula Mendonça afirma que os espaços abertos das instituições de ensino devem ser priorizados para as crianças menores, que têm maior necessidade de movimentação. “As crianças menores têm necessidade de correr e de se movimentar em espaços abertos. Já o ensino médio e fundamental 2 tem um pouco mais de controle do próprio corpo para seguir as medidas sanitárias, como o distanciamento físico entre uma pessoa e outra”, pontua.

 

Espaços e experiências interpessoais na escola: duas abordagens para se preparar para as aulas presenciais

 

Assim, as salas de aula, que costumam ser espaços mais fechados, podem ser reaproveitadas para dividir as turmas de outras séries. “Assim, aumentaria a capacidade de atendimento, priorizando os espaços abertos para as crianças pequenas e os espaços fechados para as crianças mais velhas, pois ao invés de uma turma usar uma sala, pode usar duas”, explica.

Os espaços abertos, por sua vez, podem se transformar em salas de aula temporária para as crianças do ensino infantil e fundamental 1. “Com recursos simples, como prancheta e flipchart, é possível o estudo em áreas externas”, afirma.

Porém, para elaborar um planejamento do retorno das aulas presenciais utilizando os espaços abertos, Paula acredita que é imprescindível que incluir na discussão profissionais das áreas da saúde, da assistência, do meio ambiente e urbanismo. “Com as podas das árvores, por exemplo, podemos utilizar os tocos para fazer semicírculos, já deixando com distanciamento seguro. Por isso, é importante a participação de um profissional da área do meio ambiente”, esclarece.

O documento disponibilizado pelo programa Criança e Natureza ainda sugere a utilização dos pátios escolares, com disponibilização de carteiras, para o desenvolvimento das aulas.

 

É possível usar recursos da própria natureza no processo de ensino? 

Os espaços naturais são uma oportunidade para as crianças brincarem e aprenderem com a natureza. “Há diversas possibilidades que a natureza oferece de aprendizado. Como exemplo, para aprender sobre a fisiologia de uma árvore e sobre ecossistema, ao invés de aprender em um livro, a criança aprende do lado de fora”, exemplifica a assessora pedagógica Paula Mendonça. 

Estudos que, anteriormente, eram trabalhados em sala de aula, podem ser feitos nos espaços abertos, aproveitando os recursos que a natureza oferece. “A natureza, principalmente, para as crianças, amplia a possibilidade do brincar. Entendemos que os materiais não estruturados que a natureza oferece aguçam a imaginação e criatividade da criança. Pode ser o momento de ampliar a utilização desses recursos, já que a natureza oferece esses materiais”, afirma.

 

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No surto da tuberculose, volta às aulas também foi com ensino ao ar livre

Essa não é a primeira vez na história da humanidade que o ensino ao ar livre é sugerido como uma medida sanitária. Em 1904, durante um surto de tuberculose, ocorreu na Alemanha a primeira experiência de escolas ao ar livre, como é denominada a medida de levar o ensino para os espaços abertos na tentativa de reduzir os riscos de transmissão da doença. “As referências históricas mostram que já teve, no exterior, o que eles chamam de escolas ao ar livre. Isso já foi utilizado como medida sanitária”, ressalta a assessora pedagógica Paula Mendonça.

No Brasil, entre os anos de 1935 a 1938, na gestão de Mário de Andrade na prefeitura de São Paulo, foram instituídos os parques infantis como uma proposta de educação fora da escola. “Quando Mário de Andrade participou da gestação da prefeitura, ele instituiu os parques infantis, que era justamente essa ideia do estudo e do aprendizado ao ar livre, os parques, contemplando o ensino integral da saúde do ser humano como inteiro”, explica. 

Neste sentido, Paula recomenda que escolas públicas e privadas façam parcerias com o poder público para a utilização de praças que ficam próximas das instituições, como uma alternativa para ensinar ao ar livre durante a atual pandemia.

 

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