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Uma pandemia de proporções nunca antes imaginadas exigiu que escolas de todo o Brasil e de grande parte do mundo suspendessem suas aulas presenciais. Uma decisão amarga, porém necessária. Isso aconteceu em meados de março e agora, meses depois, nos preparamos para a volta às aulas presenciais, ainda em meio à pandemia. 

Como define Viviane Mosé, psicóloga, educadora e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, somos uma “sociedade pandêmica”. O que implica em dizer que a educação não pode parar e precisa se adaptar a uma nova realidade que inclui, por exemplo, a adoção do ensino híbrido – não mais como uma alternativa – e a formação de novos profissionais.

Para reforçar a importância dessa nova formação profissional, ela traz como exemplo três profissionais que precisaram se reinventar na pandemia: economistas, médicos e sociólogos. 

 “Eles têm diante deles um problema inédito, que eles não encontram nos livros. Então, esse profissional que a gente precisa formar é o profissional para ler o estado de transição que vivemos para poder atuar nesse processo. Não é só um profissional versátil, capaz de lidar com isso, mas principalmente […] que acredite no mundo”, comenta.

Nesse contexto, faz-se necessário que a escola ajude os alunos a desenvolverem algumas habilidades específicas, como liderança, autogestão e empatia. Mas será mesmo que sua escola já está atenta e preparada para esses desafios contemporâneos? Como ela vai preparar os alunos para essa nova sociedade?

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Vivemos em uma sociedade em exaustão

Vivemos também em uma sociedade em exaustão. Ela também é caracterizada pelo abismo das grandes desigualdades sociais, problemas ambientais e desvalorização da vida – o que faz do suicídio a segunda causa de morte entre jovens no mundo. 

Essa sociedade exaurida e pandêmica, quando cruza com tecnologia, expõe a fragilidade humana. “Chegamos em um ponto que nós, humanos, nos tornamos impotentes para lidar com a vida. E aí, postamos na rede social, fotos de uma vida que não vivemos”, alerta a filósofa.

Talvez, nesse momento, a escola deva priorizar uma formação para vida, e não somente para o mercado. Para Viviane, essa é uma das principais reflexões que líderes escolares devem fazer, afinal, não há como negar que aconteceram grandes transformações no mercado de trabalho durante a pandemia.

 

Precisamos repensar nossos modelos pedagógicos

Como educadora, Viviane idealiza um modelo metodológico de uma escola voltada para valorização da vida. De modo que o projeto de vida estaria no centro, como agregador dos demais projetos da escola, e alinhado às expectativas individuais de cada aluno.

“Se as Fake News são a maior ferramenta de dominação de uns sobre outros, nós precisamos de uma educação para projeto de pesquisa, porque o aluno tem que ser capaz de diferenciar uma coisa da outra. Alunos autônomos, inteligentes, que possam interpretar. Isso vai gerar uma nova sociedade, onde a Fake News já não nos levará”, comenta.

Nesse contexto, é eminente o desenvolvimento de uma educação problematizadora, que desperte o senso crítico dos estudantes. Como uma atividade prática, o professor pode fazer uma pergunta que articule várias informações, estimulando o aluno a pensar em um curto período de tempo.

“Eu tenho que fazer perguntas e eles trazerem a resposta, essa resposta virá torta e eu vou acertando essa resposta até chegar no conteúdo. Não é aula, é pesquisa”, explica Viviane que ainda sugere outras metodologias, como respostas discursivas longas, respostas construídas individualmente, em grupos ou integrando várias matérias.

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Professores também precisam de atenção

O ensino a distância, a sociedade digitalizada e a educação problematizadora exigem também do professor o aperfeiçoamento sobre as novas tecnologias de comunicação e informação e, consequentemente, o desenvolvimento de novas habilidades. 

Para ilustrar essa necessidade, Viviane faz um questionamento: “Mas tem como saber se os nossos professores sabem identificar uma Fake News?”

Para ela, o problema não está na formação dos professores, e sim no modelo de formação.“O que nós precisamos com os professores é um tipo de formação ativa, viva. Se o foco da educação é o aluno, eu só tenho que aprender a modéstia”, justifica a educadora.

E isso pode ser modificado através de um caminho não tão óbvio, que é através da interdisciplinaridade. Essa prática consiste, basicamente, no compartilhamento de conhecimento e metodologias entre os próprios professores da escola, de forma que um agregue na formação do outro.

Neste caso, os professores, e mais ainda os gestores, é que são estimulados a pensar em soluções não tão convencionais para resolver problemas internos. Agora mais do que nunca, sinergia entre esses dois atores é fundamental para o bom desenvolvimento do ambiente escolar.

Trazendo mais uma reflexão filosófica e moral, Viviane afirma que a ética se faz presente no ambiente escolar quando há respeito entre todos ali envolvidos. “A escola ética é onde o gestor respeita o professor, onde o professor respeita o aluno, onde o aluno respeita o gestor, onde o aluno, o gestor e o professor respeitam o funcionário”.

 

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