Controlar as finanças é um desafio para 45% dos brasileiros, de acordo com pesquisa realizada pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas). O estudo revela ainda que 31% dos consumidores são inseguros para lidar com o dinheiro. Uma alternativa para modificar esse cenário é trabalhar a chamada educação financeira: um processo em que se aprende a desenvolver uma relação saudável com o dinheiro.
“O maior problema em não controlar as finanças é correr o risco de cair no descontrole financeiro e não conseguir conquistar seus sonhos no curto, médio e longo prazos. O medo de olhar para os próprios números vem da falta de hábito, ou seja, é preciso mudar o comportamento e adotar um novo estilo de vida”, ressalta Reinaldo Domingos, presidente da Abefin (Associação Brasileira de Educadores Financeiros).
“A OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico) define a educação financeira como um processo em que o indivíduo faz escolhas conscientes e se mantém bem informado a respeito da economia para, assim, elaborar a melhor forma de lidar com seu dinheiro”, explica a economista Myrna Silveira de Souza Vasconcelos, que atua como consultora e educadora financeira.
Embora a especialista alerte que colocar todas as despesas na ponta do lápis é importante, o conceito de educação financeira é mais abrangente do que apenas inserir os dados orçamentários em uma planilha. “Estamos falando de comportamento. Ou seja, é preciso desenvolver novos hábitos que façam os gastos se encaixarem no orçamento e, ainda, que permitam realizações de sonhos e objetivos”, destaca.
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Qual a importância da educação financeira para crianças e adolescentes?
Para Carolina Ligocki, que é autora e diretora da Oficina das Finanças, uma empresa de impacto social que trabalha com educação financeira, é por meio desse aprendizado que se desenvolve padrões comportamentais de autocontrole, disciplina, organização, planejamento, perspectiva temporal e autoconhecimento.
“A educação financeira deve ir muito além de informações sobre o sistema monetário, investimentos e matemática financeira, pois já foi constatado que as pessoas, mesmo com acesso à informação e boa renda, podem enfrentar sérios desafios financeiros”, ressalta.
A afirmação da profissional lembra o terceiro capítulo do livro “Pai rico, pai pobre”, em que o autor Robert Kiyosaki explica que dinheiro não garante estabilidade, mas, sim, a inteligência financeira. Para isso, é necessário que crianças e jovens aprendam desde cedo sobre finanças. E a educação financeira nas escolas pode ser a solução para uma sociedade que, no futuro, saiba controlar seu orçamento.
“Introduzir educação financeira desde a infância pode contribuir para que tenhamos menos pessoas endividadas, sem reservas para imprevistos, angustiadas, com desafios familiares e conflitos, aposentadoria insuficiente e com problemas de saúde. Além disso, é capaz de reduzir a desigualdade social, a violência, contribuir para a erradicação da pobreza, aumentar saúde e bem-estar, contribuir para a preservação ambiental, para o crescimento econômico sustentável e melhorar a estabilidade do sistema financeiro”, lista Carolina.
De acordo com a consultora e educadora financeira Myrna Silveira de Souza Vasconcelos, quanto mais cedo as crianças e os adolescentes são educados financeiramente, há mais chances de se formar adultos maduros e equilibrados com o uso de seus recursos.
“Em uma realidade de consumismo é preciso alertar as crianças para a administração do próprio dinheiro com consciência, impedindo um possível endividamento ou consumismo exagerado na fase adulta, para que tenham um futuro positivo e atinjam seus objetivos financeiros”, completa.
E para contextualizar os fatos no momento em que vivemos, o Escolas Exponenciais entrevistou mais de 10 mil pais de alunos de escolas particulares de todo o Brasil e obteve que 71% das famílias entrevistadas tiveram alguma redução de renda devido a pandemia.
Neste cenário, eis que surge uma grande dúvida entre os pais: envolver as crianças no momento financeiro da família ou poupá-las?
Para responder a essa questão, Bianca Zimmer, empresária e consultora financeira, estará ao vivo na próxima quarta-feira (02/09) às 13h, no Instagram do Family Center – blog parceiro do EX.
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Como aplicar gestão financeira nas escolas?
Para Carolina Ligocki, um caminho para começar um trabalho de educação financeira na escola é utilizar livros de história que trabalhem questões comportamentais como paciência, persistência, trabalho em equipe, divisão de tarefas e planejamentos.
Na educação infantil, por exemplo, a dica da profissional é para que os planos de ensino de gestão financeira apostem em materiais e atividades que gerem estímulos empreendedores e que contribuam para a autonomia das crianças.
“Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a partir dos 6 anos, os alunos começam a compreender melhor as quantidades e podem ser introduzidos, aos poucos, ao conhecimento das cédulas e moedas e conceitos como caro e barato. Mas é muito importante buscar metodologias de ensino que tragam os conteúdos de forma estruturada e isenta de preconceitos, do tipo rico X pobre. É necessário o acompanhamento dos resultados do trabalho ao longo do tempo e que evite trabalhar somente com foco no consumo, o que é muito comum em alguns projetos em que os estudantes acabam apenas juntando dinheiro para consumir coisas”, pondera Carolina.
O Colégio Portinari, localizado em Limeira, interior de São Paulo, é um exemplo onde a educação financeira começa a ser abordada em sala de aula já na Educação Infantil. “Acreditamos que a alfabetização/educação financeira precisa ser iniciada nesta faixa etária em virtude das crianças já estarem inseridas em um contexto social consumista, pois são abordadas constantemente pelas mídias que lhe oferecem os mais diferentes produtos”, afirmam as diretoras pedagógicas Marli Ap. Billato de Oliveira e Margareth C. C. S. Ruberto.
Para as crianças que estão nesse ciclo educacional, a escola criou o projeto “Ateliê da Vida Prática”, onde os alunos vivenciam situações reais do cotidiano social e familiar, como a realização de compras e vendas, além de fazerem comparações entre valores financeiros e sentimentais dos objetos e produtos.
“Através da culinária elas constroem conhecimentos práticos quando escolhem os alimentos que utilizarão. Aprendem que comer frutas, verduras e legumes da estação, além dos benefícios orgânicos, também significa economizar dinheiro, já que tais produtos têm um custo menor que outros”, pontuam.
Já no ensino fundamental, o plano de aula de educação financeira traz conceitos de empreendedorismo, em que os estudantes têm a oportunidade de criar e construir objetos que são comercializados. Para isso, apreendem desde o levantamento de custos e até o balanço financeiro.
“O projeto favorece uma reflexão prática sobre a conscientização do consumismo desnecessário que acontece nos dias atuais e a valorização do trabalho realizado por cada um deles. Durante a vivência de compra e venda dos produtos, os alunos desenvolvem o cooperativismo, a criticidade, a responsabilidade e o respeito mútuo”, explicam as diretoras Marli e Margareth.
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Ainda entre as propostas de atividades de educação financeira para o ensino fundamental está a abordagem do consumo consciente, onde os alunos são convidados a preparar um “cofrinho” em suas casas e, na escola, desenvolvem exercícios de matemática utilizando o sistema monetário e a resolução de situações problemas, além visitas virtuais ao comércio online, utilizando folhetos para comparar promoções e, ainda, simulam compras e vendas.
“O resultado deste trabalho é contemplado com a ida ao supermercado com uma lista de produtos feita em família para efetivar a compra real. Todo este projeto é apresentado na produção de um livro de textos e depoimentos produzidos por alunos e familiares”, contam.
Ainda sobre o tema financeiro, no ClassUP – Escolas Exponenciais 2018, chamamos Gustavo Fuga para falar sobre ‘Investimento inteligente: como fazer mais com menos?’.
Nessa palestra, ele nos conta como realizar uma expansão sustentável da sua instituição de ensino, assim como identificar quais áreas são estratégicas e merecem mais investimentos e quais podem estar minando seu orçamento. Assista preenchendo o formulário abaixo: