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O empreendedorismo é o que move a economia de qualquer país. Segundo o Data Sebrae, existem hoje 12 milhões de empreendimentos no Brasil, destes, 98,5% compreendem as micro e pequenas empresas, que geram 55% dos empregos com carteira assinada no setor privado da economia. Investir em empreendedorismo na escola é garantir às crianças e jovens da nova geração não apenas a inserção produtiva no mercado de trabalho, como também o desenvolvimento de competências que valem para a vida toda.

Incluir o empreendedorismo na escola vem ao encontro à necessidade de preparar crianças e jovens aos novos desafios do século XXI, em um cenário em que o mercado de trabalho exige profissionais com competências múltiplas, que tenham capacidade de aprender, de adaptar-se a situações novas e de promover transformações.

Empreender é mais do que abrir o próprio negócio ou desenvolver habilidades de gestão de empresas; a educação empreendedora incentiva o autoconhecimento e a busca pelo entendimento do outro, dos problemas sociais, com o objetivo de criar soluções que impactem e transformem a vida das pessoas e da comunidade. É o que vamos abordar neste artigo. Acompanhe!

O que é educação empreendedora?

O conceito da educação empreendedora está intimamente ligado ao das metodologias ativas, em que o aluno está no centro do processo de aprendizagem, construindo o conhecimento de forma autônoma, participativa e sendo “provocado” a absorver os conteúdos através de desafios, ações, projetos e resoluções de problemas reais. O objetivo é desenvolver pessoas para o empoderamento, atitudes e mentalidade empreendedoras, para que possam encontrar soluções para os mais diversos problemas.

“A educação empreendedora visa estimular o desenvolvimento de competências para que crianças e jovens cresçam empoderadas, autoconfiantes e certas de que são capazes de realizar seus sonhos e projetos de vida”, define Nilma Pereira, especialista em Cultura Empreendedora do Sebrae.

Com jornadas de aprendizado mais personalizadas, estímulo ao trabalho em equipe e ao protagonismo nos estudos, a educação empreendedora estimula competências socioemocionais que não são, necessariamente, desenvolvidas nos modelos tradicionais de ensino.

Essas competências contribuem para formar alunos mais proativos, com habilidades de autogestão e senso de responsabilidade. “Os benefícios dessa formação extrapola os impactos positivos nos negócios, se for este o seu ‘sonho’, seu projeto de vida, e no mundo do trabalho como um todo”, afirma Nilma.

Na educação empreendedora, o aluno é desafiado e estimulado a aprender a desenvolver qualidades e habilidades inerentes ao empreendedor, como a capacidade de enxergar oportunidades, a proatividade e a autoconfiança, a fim de que identifique e seja bem-sucedido em projetos relacionados aos seus temas de interesse.

Qual a importância do empreendedorismo na escola?

Ensinar sobre empreendedorismo desde cedo desperta nos jovens iniciativa e atitude empreendedora, independentemente de qual o seja o seu projeto de vida. “Nesse sentido, destaca-se que desenvolver competências empreendedoras é fazer com que o jovem se coloque como o grande protagonista de sua história, conhecendo suas potencialidades para buscar ou criar oportunidades e com o senso de pertencimento e de responsabilidade, para que atue procurando resolver os problemas comuns e desta forma seja um agente de transformação. Além de desenvolver habilidades socioemocionais – as chamadas soft skills – altamente necessárias para a formação de um profissional”, complementa Nilma Pereira, especialista em Cultura Empreendedora do Sebrae.

O empreendedorismo também ajuda os alunos a se comunicarem melhor, a persistirem diante de uma falha e a se tornarem mais flexíveis e adaptáveis para enfrentar obstáculos – habilidades que fazem com que sejam maiores as chances de se tornarem felizes e bem sucedidos em suas futuras carreiras.

Além disso, segundo Nilma, o empreendedorismo desenvolve competências como: busca de oportunidades e iniciativas; correr riscos calculados; exigência de qualidade e eficiência; comprometimento; busca de informações; estabelecimento de metas; planejamento e monitoramento sistemáticos; persuasão e rede de contatos; independência e autoconfiança.

O norte-americano Tony Wagner, especialista em educação de Harvard, autor do livro “Creating Innovators: The Making of Young People Who Will Change the World” (“Criando Inovadores: A Criação de Jovens que Mudarão o Mundo”), disse, em entrevista ao jornalista Thomas Loren Friedman, em 2013, que a capacidade de inovar – a capacidade de resolver problemas criativamente ou trazer novas possibilidades à vida – e habilidades como pensamento crítico, comunicação e colaboração são muito mais importantes do que o conhecimento acadêmico.

“Como um executivo me disse: ‘Podemos ensinar aos novos contratados o conteúdo, e teremos que fazê-lo porque ele continua mudando, mas não podemos ensiná-los a pensar – a fazer as perguntas certas – e a tomar a iniciativa’”, afirmou Wagner. Nos EUA, em 2009, 19 Estados incluíam matérias de empreendedorismo no ensino básico. Em 2015, esse número subiu para 42, de 50 estados no total. Em 18, cursos de empreendedorismo são obrigatórios.

 

Empreendedorismo na grade escolar

Pesquisa realizada pela Agência Executiva de Educação, Audiovisual e Cultura da União Europeia sobre o cenário da educação empreendedora nas escolas, divulgada pelo Sebrae em 2013, mostrou que o empreendedorismo integra as disciplinas obrigatórias do Ensino Médio de 50% dos países pesquisados. Em países como a Lituânia e a Romênia, o empreendedorismo é disciplina específica no currículo.

Muitos dos países europeus que participaram da pesquisa alegaram acreditar no empreendedorismo, na inovação e na boa educação como o caminho para driblar problemas sociais, razão pela qual nesses países os governos apoiam fortemente iniciativas de fomento ao empreendedorismo, como a cooperação entre escolas e empresas e a criação de pequenos negócios por estudantes.

 

Como ensinar empreendedorismo nas escolas?

Com a recém-aprovada BNCC (Base Nacional Comum Curricular), o ensino do empreendedorismo na escola tende a ser ainda mais disseminado por contribuir de forma direta ou indireta com todas as 10 competências gerais que são diretrizes e devem ser desenvolvidas ao longo da educação básica, ou seja, do Ensino Fundamental ao Ensino Médio. Nesse sentido, destaca-se a convergência direta com a competência 6 – Trabalho e Projeto de Vida -, que tem como objetivo “valorizar e apropriar-se de conhecimentos e experiências para entender o mundo do trabalho para fazer escolhas alinhadas à cidadania e ao seu projeto de vida com liberdade, autonomia, criticidade e responsabilidade”.

No entanto, segundo Nilma Pereira, a educação empreendedora tem convergência e colabora com o propósito de praticamente todas, como a competência 2 – que visa estimular a curiosidade investigativa para elaborar e testar hipóteses, resolver e criar soluções -, a competência 9 – que tem o propósito de promover o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade sem preconceitos de qualquer natureza -, e a competência 10 – que visa desenvolver a capacidade de tomar decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. As instituições de ensino têm até 2021 para adequarem seus projetos pedagógicos às diretrizes da BNCC e podem contemplar de forma ampla o ensino do empreendedorismo.

A educação empreendedora pode ser aplicada em diferentes níveis de ensino, desde os primeiros anos do Ensino Fundamental, porque um dos seus principais objetivos é influenciar os alunos a tomarem decisões sozinhos e serem responsáveis por suas ações. As metodologias ativas de aprendizagem, como o Flipped Classroom (Sala de Aula Invertida), Project Based Learning (Aprendizado Baseado em Projetos) e o e o Design Thinking (pensar através do design), entre outras, favorecem o ensino do empreendedorismo.

Para desenvolverem seus projetos pedagógicos, as escolas podem contar com apoio de ONGs (Organizações Não Governamentais) e entidades que desenvolvem projetos voltados ao empreendedorismo, como o Pense Grande, iniciativa da Fundação Telefônica Vivo que tem como missão difundir a cultura do empreendedorismo de impacto social com o uso de tecnologia para jovens das periferias brasileiras, de 15 a 29 anos, e o próprio Sebrae.

Desde 2013 o Sebrae ampliou esforços para disseminar e fortalecer a cultura e educação empreendedora e atua em todo Brasil disponibilizando conteúdos de empreendedorismo e capacitando professores para atuarem com os estudantes, tendo propostas para atender todos os níveis de ensino. Por meio de parcerias com as Secretarias de Educação e com as instituições de ensino públicas e privadas, os professores são capacitados e, de acordo com o projeto pedagógico, o contexto e a necessidade de cada instituição, realiza-se a implementação das propostas seja em projetos específicos ou de forma transversal e interdisciplinar.

 

Confira o papel do professor diante das novas tecnologias no processo educativo

 

Ações práticas de empreendedorismo na escola

Os EUA têm grande tradição do ensino do empreendedorismo, especialmente, no empreendedorismo de startups e de alto impacto. Na Europa, Reino Unido, Luxemburgo, Portugal, Finlândia, entre outros, possuem iniciativas de educação empreendedora, considerando ser o ensino do empreendedorismo uma das principais diretrizes da União Europeia para a educação, incentivando a implementação de diversas estratégias para promover a capacitação dos professores, a adequação dos currículos e o envolvimento dos estudantes em projetos que simulem a prática empreendedora.

No Brasil, iniciativas em empreendedorismo nas escolas começam a ganhar corpo como espaços em que os alunos possam pensar com criatividade e em colaboração, impactando seu meio. É o caso do Projeto Empresa Jovem do Colégio Parthenon, de Guarulhos (SP), que tem por finalidade criar condições necessárias para que os alunos desenvolvam o espírito empreendedor, bem como outras competências relacionais muito valorizadas no mercado de trabalho, como a capacidade de trabalhar em grupo e de resolver problemas, a resiliência, a sociabilidade, a comunicação, entre outras.

Enéias de Almeida Prado, coordenador do Ensino Médio, conta que a Empresa Jovem concilia a vivência prática do mercado de trabalho com o repertório acadêmico. O projeto foi aberto no ano passado para os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental ao 2º ano do Ensino Médio. Os 200 alunos que se interessaram em participar da empresa montaram seus currículos, os que tinham 16 anos usando, inclusive, o LinkedIn, e os 25 participantes foram selecionados através de uma dinâmica.

A equipe foi dividida entre as áreas de Marketing, Socioambiental, Tecnologia Educacional e Acadêmica. No primeiro trimestre de trabalho a empresa ficou no campo das ideias, atualmente os projetos para a principal cliente – a própria escola – estão sendo materializados: substituição de copos descartáveis pelos reutilizáveis, criação de um novo site para o colégio e capacitação de professores na ferramenta Google for Education. Colaboração, liderança, organização e aquisição de conhecimento em novas tecnologias são as principais habilidades desenvolvidas pelos alunos nessa primeira fase do projeto, na visão do coordenador.

 

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Os alunos trabalham na empresa no contraturno das aulas e não têm horário fixo. Processos seletivos são realizados a cada seis meses para novas equipes. Os ganhos mensurados com o projeto são elencados por Enéias: a participação deles no projeto fez com que o laço com a escola se estreitasse e há também um engajamento maior nas atividades em sala de aula, fora o ganho de conteúdos eu não seriam estudados se não houvesse a empresa.

“Nosso currículo é muito voltado ao campo acadêmico. Esse jovem passa um período muito grande dentro da escola, com uma base conceitual focando muitas vezes no vestibular, que é também uma responsabilidade nossa, mas muitas vezes a escolha deles quando saem do Ensino Médio não é a universidade. Eles precisariam ter alguns insights desse universo do empreendedorismo para ampliar o leque de experiências e oportunidades”, comenta Enéias.

Luan Fernandes de Oliveira, 16, é aluno do 3º ano do Ensino Médio e ainda participa da Empresa Jovem. “Participar da Empresa Jovem foi uma coisa que me motivou muito, porque me deu noção de importância no ambiente escolar e no âmbito regional da cidade em que vivo, além de ajudar bastante na escolha da minha carreira. A Empresa Jovem foge do padrão vertical que conhecemos, em que o professor entra na sala de aula, fala, a gente anota, decora pra tirar nota e passar no vestibular. Com essa metodologia todos temos muito mais vontade de aprender”, afirma.  

“Acredito que quanto antes eu tivesse essa noção de como funciona o mundo empresarial, mais preparada eu estaria para quando eu realmente fosse  ingressar nele. E agora que estou mais perto disso, porque já estou no 3º ano do Ensino Médio, vejo que algumas competências como trabalhar em grupo, alguns aspectos de liderança, responsabilidade, visão de unidade, de criatividade, de inovação, pré-requisitos valorizados no mercado de trabalho, eu já estou tendo a oportunidade de desenvolver”, salienta Fernanda de Souza Brito, 16, que também começou na primeira equipe da Empresa Jovem e se mantém nela até hoje.

Veja a palestra que inspirou a criação da Empresa Jovem, onde Fabrício Bloisi, CEO da Movile, startup brasileira criadora do iFood, PlayKids, Leiturinha entre outros, defende que as mudanças que despertem para a inovação precisam acontecer agora.

E a sua escola já ensina empreendedorismo? Conte pra gente nos comentários! Se você gostou, compartilhe esse artigo com seus amigos! E, além disso, você pode ver mais sobre o case de sucesso da Empresa Jovem para aprender com ele.