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Como na brincadeira infantil do telefone sem fio, as escolas têm enfrentado atualmente o desafio de se comunicar com as famílias sem ruídos e de forma efetiva. 

As redes sociais e, principalmente os grupos de WhatsApp de pais, tornaram recorrentes os desentendimentos na relação escola-família. Essas confusões geralmente surgem de situações em sala de aula ou um comunicado escolar que chegam aos responsáveis pelos alunos por esses espaços, com informações incorretas e interpretações equivocadas.

Esse foi o tema da palestra das educadoras Taís e Roberta Bento, fundadoras da SOS Educação e especialistas na relação família e escola, no Conecta Escolas Exponenciais, evento voltado para educadores e gestores escolares, no último dia 13 de abril.

Segundo as educadoras, as redes sociais criaram novos desafios para a comunicação com os pais, ainda que muitas escolas já utilizem essas plataformas para falar com as famílias. Para elas, o problema é que o formato para o diálogo segue o mesmo.

Perfil das famílias

Taís disse que, assim como estudos da neurociência cognitiva mostram que hoje só 10% dos alunos entendem o conteúdo de uma aula sem precisar de adaptações e intervenções especializadas, o mesmo ocorre com a família. 

“90% das famílias de uma escola vão precisar de alguma intervenção ou alguma comunicação diferenciada para conseguir assimilar, aplicar, ler e colocar em prática aquilo que está no comunicado”, disse a educadora.

Segundo elas, isso ocorre porque há diferentes perfis de pais e cada um deles demanda um tipo de comunicação diferente. Elas apresentaram o livro “Compreendendo a Mente e o Coração da Geração Z”, do pesquisador americano Ernest Zarra, no qual são descritos três tipos de pais. 

Pai trator

O primeiro perfil é o do “pai bulldozer”, um trator do tipo retroescavadeira. Ou seja, é o pai que se envolve em tudo o que acontece na vida do filho, quer fazer parte e resolver as dificuldades para evitar frustrações e decepções para a criança. 

As educadoras explicam que esse é o tipo de pai que quer saber tudo o que acontece na vida escolar do filho e resolver rapidamente qualquer situação que pareça trazer algum inconveniente para a criança. “É o pai que quer saber o que vai cair na prova, que questão tem ou não risco de cair na prova”, exemplificou Roberta. 

“Ele nem quer falar com a professora, quer falar com a diretora direto”, acrescentou Taís. Por ter esse perfil de quem quer logo resolver as situações para o filho, esse é o pai que recorre aos grupos de WhatsApp para se inteirar sobre a escola ou reclamar de algo que não conseguiu esclarecer.

Pai pêndulo

O segundo tipo de pai descrito pelas educadoras é o “pai pêndulo”, aquele que não tem uma interação constante com a escola e só fica sabendo da vida escolar do filho quando algo está errado. 

“Ele tem o lema do ‘no news is good news’, que significa se não tem notícia vindo é porque está tudo bem. Até ele de repente descobrir que o filho está quase repetindo de ano”, explicou Taís. 

“Aí ele chega muito bravo na escola, querendo tirar satisfação. Então, ele tem picos que variam entre não saber de nada e querer saber tudo para cobrar satisfação com a escola”, contou a educadora.

Pai marinheiro

Por fim, o terceiro perfil descrito pelas educadoras é o do “pai marinheiro”, aquele que entende ser necessário ajustar seu papel e comunicação com a escola de acordo com a situação. 

“Ele ajusta as velas conforme a maré. Ele sabe que educar não é fácil. Ele sabe os defeitos, as qualidades e os desafios que ensinar e educar o filho dele representam, então é o pai que acompanha, que estimula, ajuda na lição, confere se o filho fez”, explicou Roberta. 

Ajuste de comunicação na relação escola-família

Para as educadoras, os problemas de comunicação ocorrem porque as escolas, em geral, dialogam com as famílias pensando que todas têm o mesmo perfil, o do “pai marinheiro”. 

“Enquanto a escola está se comunicando, mandando bilhete, avisando de evento, falando que tem prova, avisando que tem reforço, conversando com os pais, montando as turmas de rodízio, com quem é que você se comunica quando você vai no formato padrão das mensagens que você faz? Sempre com o pai e mãe marinheiro”, disse Roberta. 

Sem conseguir se comunicar com os outros dois tipos de pais, as escolas caem na armadilha que fortalece as confusões em grupos de WhatsApp. Por que os “pais bulldozer”, ao não conseguir resolver algum problema direto com a escola, levam a situação para os grupos. E os “pais pêndulos”, que não acompanham a rotina escolar, acabam se informando de forma equivocada.

“Quantas vezes a equipe de gestão, de coordenação, de orientação de uma escola passa um dia inteiro, uma semana inteira, tentando resolver questões que, na verdade, não eram um problema, mas se tornaram uma coisa gigantesca”, contou Roberta.

Comunicação constante e contínua

Para as educadoras, essas situações podem ser evitadas se as escolas entenderem os diferentes tipos de famílias e encontrarem formas mais adequadas de dialogar com cada uma delas. E a partir desse ponto, estabelecer uma comunicação constante e contínua com todos eles. 

Elas explicam que, em geral, as escolas só procuram as famílias para transmitir comunicados institucionais ou para falar sobre problemas escolares dos alunos. Para elas, as unidades deveriam buscar um diálogo contínuo com os pais para falar sobre a rotina das crianças e o que estão desenvolvendo

“O diálogo constante e contínuo significa não esperar acontecer alguma coisa ruim. Os pais adoram ouvir sobre o que seu filho fez, por exemplo, contar que a criança ajudou um colega na aula. A gente precisa também comunicar as coisas boas”, disse Roberta. 

Segundo as educadoras, esse diálogo constante ajuda as famílias a se sentirem mais próximas das escolas e terem um sentimento de que pertencem àquela comunidade. Dessa forma, não verão mais necessidade em recorrer aos grupos de WhatsApp para reclamar de alguma situação, porque terão um canal de comunicação bem estabelecido com o colégio.

Adaptação ao novo contexto

As educadoras também explicaram que a comunicação institucional precisa se adaptar à nova realidade das redes sociais e excesso de informação. Ou seja, os comunicados e bilhetes escolares precisam ser mais concisos e diretos para atingir o maior número de famílias. 

“Não estamos falando que a escola tem que ter esse papel de instagramer, youtuber ou tiktoker, mas, assim como a gente fala sobre as adaptações para usar a tecnologia na educação, é preciso mudar a comunicação”, disse Taís.

“Assim como não basta o professor pegar a mesma aula que ele dava há 10 anos e só passar para uma lousa digital ou powerpoint, o mesmo vale para a comunicação com as famílias. Não adianta pegar aquele bilhete de antigamente que ia na agenda, passar para o meio digital e achar que você está se comunicando com todas as famílias de hoje nesse formato.”

Elas destacaram que as escolas podem e devem recorrer a parcerias com empresas especializadas em comunicação escolar para encontrar o melhor formato de diálogo com as famílias, contribuindo para impulsionar a relação escola-família.

“Vocês não precisam fazer isso sozinhos. O caminho é a parceria. Parceria com empresas que respeitam, que conhecem a escola e vão ajudar a vencer esse desafio da educação”, disse Roberta aos educadores.