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Uma das principais lições aprendidas desde início da pandemia é que o ensino remoto, em sua essência, não é igual ao ensino à distância (EaD). O primeiro é considerado uma modalidade recente, adotada em caráter emergencial, e o segundo ganhou reconhecimento e credibilidade em 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Como a notícia do fechamento das escolas em função da pandemia pegou a todos de surpresa, as instituições tiveram que tomar decisões rápidas sobre a continuidade das aulas. Assim, por limitação de recursos financeiros, questões estratégicas ou até mesmo falta de referências metodológicas, o ensino remoto foi implantado de forma variável.

O Escolas Exponenciais conversou com gestores de três escolas particulares de São Paulo para saber como foi o processo de adaptação ao ensino remoto e a preparação para a retomada das aulas presenciais. Já adiantamos: se reinventar foi e ainda é muito necessário! 

O Colégio Anglo de Araras desenvolveu um planejamento metodológico-estratégico de quatro fases, contemplando momentos de ensino remoto e híbrido: 1ª) remoto emergencial; 2ª) remoto intencional; 3ª) ensino híbrido emergencial e 4ª)  híbrido intencional. O gestor da instituição, Cássio Mori, explica como essas fases se sucederam:

“Em uma semana a gente tinha que colocar tudo no ar. Uma segunda fase, em que o ensino remoto se transformaria em intencional, ou seja, ele já passou daquela fase experimental e ele teria que partir para excelência. Uma terceira fase, nós aprendemos a essa escola híbrida emergencial, e por último, uma escola híbrida intencional, que a gente acredita que é um futuro próximo”.

 

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Cada uma das fases, segundo ele, gerou aprendizados para construção de metodologias mais assertivas e adequadas para a realidade dos estudantes e situação do país. Na fase que antecedeu o retorno presencial, no remoto intencional, a dinâmica das aulas precisou ser alterada para manter os alunos engajados e motivados.

“A gente mudou o estilo de aula, fizemos com que o aluno participasse mais durante as aulas, criamos podcast, produções de vídeos, redações, a sala de aula invertida, enfim. Para quê? Para que aquilo que era uma rotina apenas, se tornasse algo diferente e aproveitasse especificamente a tecnologia, o que a tecnologia tinha de bom para aquele momento”, comenta.

O Colégio Notre Dame de Campinas também viu a necessidade de adaptar suas metodologias. Como explica Tânya Monteiro, professora e coordenadora de tecnologia da instituição, três fases foram idealizadas: 1ª)  aulas ao vivo não obrigatórias; 2ª) aulas integralmente ao vivo e 3ª) aulas ao vivo e simultâneas na modalidade híbrida. 

“Em meados de abril, nós resolvemos tirar férias, 25 dias de férias, e nesse período a equipe diretiva trabalhou muito pensando como voltar na segunda fase para que a gente consiga atingir os alunos. Ter formato só de videoaula, a gente não estava conseguindo saber o que o aluno estava aprendendo, o que ele estava assistindo, se estava assistindo, ficou muito cansativo. E a gente tomou a decisão que na segunda fase, todas as aulas estivessem em formato ao vivo”, relembra.

 

Luzes para o ensino híbrido 

Apesar de parecidas, o ensino remoto e o ensino à distância são metodologias que possuem algumas diferenças, principalmente em relação à dinâmica das aulas. Enquanto no ensino remoto, as aulas geralmente acontecem através transmissões ao vivo e/ou gravadas, no EaD são priorizadas videoaulas gravadas. 

Na opinião do gestor do colégio Anglo, no cenário atual, a adoção de uma modalidade ou outra influencia no aprendizado dos alunos. “A gente não pode, nesse momento, fazer um EaD […] eu estou desse lado e você só está escutando do outro lado, nós realmente temos que praticar o ensino remoto. E o ensino remoto, entende-se que o aluno é protagonista, e o aluno sendo protagonista do seu conhecimento, ele precisa participar do processo, ele não pode ser um telespectador, precisa ser ativo durante o processo”, declara. 

Agora que alguns estados anunciaram a retomada das aulas presenciais, como previsto, o ensino remoto deu espaço para o ensino híbrido. E apesar das aulas mistas não serem novidade, a sua implantação, em um cenário pandêmico, exige dos gestores escolares um planejamento mais estratégico que antes.

 

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“É importante ter a ideia que o hibridismo implica em combinar ou misturar, em doses variadas, cada ingrediente de metodologias ativas, recursos digitais, ensino presencial e remoto, com foco em uma aprendizagem mais efetiva e significativa”, explica Erik Hörner, vice-diretor pedagógico do Colégio Humboldt. 

Ele ainda alerta que quem fez menos investimentos em metodologias ativas e recursos digitais, talvez, tenha um pouco mais de dificuldade em se adaptar ao ensino híbrido. Para exemplificar sua fala, ele traz o caso de sucesso do Humboldt, que adotou tais recursos previamente e já vinha capacitando seu corpo docente de forma contínua.

Um projeto de 2019, em especial, foi muito importante para a performance positiva do colégio durante o ensino remoto. Inicialmente, os alunos do 9º ano do fundamental II e 1º ano do médio foram contemplados com um Chromebook cada. Depois, o projeto se estendeu aos alunos do 8° ano até atingir 44% do ensino fundamental II e 68% do médio. 

Com isso, a escola solucionou parcialmente um dos grandes problemas do ensino remoto, que é a ausência ou o uso compartilhado de equipamentos para acompanhar as aulas. “De certa forma, nós começamos a ver os acertos não imaginados, não previstos”, comenta o vice-diretor pedagógico.  

Agora, com a retomada das aulas presenciais, o colégio pretende manter um plano de estudos semanal, distribuído em 2/3 assíncrono, com apoio docente, 1/3 síncrono com videoconferências. De acordo com Erik, o objetivo é estimular a autonomia dos estudantes, mas, ao mesmo tempo, evitar um cansaço mental pela exposição excessiva às telas. 

“O remoto seguirá predominante, porque presencialmente nós teremos o momento da colhida emocional, na orientação de estudo, dos protocolos sanitários e da prática esportiva – alongamento, relaxamento e ioga – para conectar novamente esse aluno com a escola”, finaliza.

 

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