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Capacitar professores, lidar com a inadimplência dos pais, preparar aulas atrativas, engajar alunos, etc. A lista de desafios enfrentados pelas escolas brasileiras durante a pandemia é grande, o que fez com que diretores, coordenadores e professores se reinventarem para garantir, na medida do possível, o aprendizado das crianças e adolescentes em casa.

Mas, sem dúvidas, todas as experiências vividas até aqui trouxeram bons aprendizados e insights para uma nova educação com o pós-pandemia. Exemplos de boas práticas não faltam! Por isso, o Escolas Exponenciais conversou com três escolas para saber como equalizaram positivamente os desafios e as oportunidades do momento.

 

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Colégio Conde Domingos

Em março, quando foi decretado o fechamentos das escolas no país, o Colégio Conde Domingos, que faz parte do Sistema Anglo de Ensino, se aproximava da realização de uma das principais atividades pedagógicas, as avaliações bimestrais. Manter ou não manter as atividades? Essas foi uma das primeiras decisões importantes a ser tomada na pandemia.

A direção da escola optou pela realização das avaliações, mas no formato online, sem que causasse prejuízos aos alunos, e sim estimulasse a autonomia e o protagonismo deles. Uma decisão acertada e com resultados frutíferos, explica Michel de Moura, coordenador de línguas do instituição.

”Não deixamos de ter nada, mandamos questões alternativas para eles, foi perfeito, e com isso, nós tivemos como avaliar o aprendizado deles, tivemos essa ideia e não deixamos de aplicar nada.[…] O nosso processo foi tão bem visto, que os pais começaram a recomendar para pais de outros estados, nós tivemos solicitação de matrícula para os alunos assistirem as aulas conosco”.

 

Tecnologia a favor da educação 

Pelo fato de a tecnologia ser uma das bases operacionais e pedagógicas da instituição, o uso de redes sociais, emails, plataformas online e aplicativos já faziam parte da rotina escolar. Contudo, duas ferramentas, segundo Michel, fizeram toda a diferença durante o ensino remoto: o Plurall (plataforma do Sistema Anglo) e o ClassApp.

O Plurall é uma ferramenta de ensino e estudo online para alunos, pais, professores e coordenadores, que permite acessar os conteúdos escolares em dispositivos eletrônicos. Foi por lá que o Colégio Conde realizou suas aulas e atividades, contemplando todas as disciplinas, exceto educação física, que foi dada em outro formato.

Já o ClassApp, que é muito mais do que um aplicativo de comunicação escolar, permite estreitar a relação entre as famílias e a escola, além de fornecer dados estratégicos para a instituição. Em função da pandemia, o aplicativo ganhou novas funcionalidades para ajudar as escolas a lidarem com essa nova realidade, como o Monitor do Bem-estar e o Sistema de Matrícula Digital.

 

Saiba mais sobre o ClassApp, um aliado escolhido pelas escolas em tempos de crise

 

De acordo com o coordenador de línguas do colégio, o ClassApp foi fundamental para organizar processos internos e interagir com os pais. O aplicativo ainda pôde ser utilizado para ouvir os próprios alunos. “Nós fizemos muitas atividades para poder trazer o aluno para perto da gente através de redes sociais, através do próprio ClassApp, nos ajudou muito a fazer pesquisa do que eles queriam”, relata.

As redes sociais também foram utilizadas como ferramentas metodológicas. Através de lives, concursos culturais e desafios os alunos mostraram seus talentos e aquelas datas que fazem parte do calendário de festas tradicionais, como São João, Dia das Mães e Dia dos Pais, foram comemoradas online.

O Colégio São Domingos abusou da criatividade para manter seus alunos atentos e engajados. Agora, com a volta das aulas, Michel afirma que o foco está na construção de um projeto de saúde mental: “Nós vamos colocar na escola esgrima, yoga e robótica, para desenvolver, para trabalhar o foco, o medo e a ansiedade que os alunos possivelmente possam ter desenvolvido durante essa quarentena em casa”.

 

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Colégio Bandeirantes

O Colégio Bandeirantes é outra instituição que tem a tecnologia dentro da sua proposta pedagógica. A própria gestão educacional é totalmente digital e, por meio de aplicativos, alunos e responsáveis têm acesso a todo tipo de informação acadêmica, incluindo horário de aulas, histórico e provas.

Mesmo dispondo de uma cultura digital, a instituição também foi desafiada pelo ensino remoto emergencial. “A gente acabou entrando online da noite para o dia, no Bandeirantes a gente já usa bastante tecnologia, mas era apoio, não era a fonte principal da nossa aula”, relata Mayra Ivanoff Lora, ex-aluna e diretora pedagógica do colégio.

Dessa forma, não houve alternativa, foi necessário arriscar e reinventar. O colégio então optou por aulas assíncronas, mas também se apropriou de outras metodologias para tornar a experiência remota mais atrativa, por exemplo, lives musicais, simuladores, fóruns e clube de debates.

 

Interdisciplinaridade em tempos de pandemia

No Bandeirantes, alunos do ensino médio têm no seu currículo o STEAM (Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics), uma abordagem educacional voltada para o desenvolvimento de projetos relacionados às áreas. Durante a pandemia, a diretora pedagógica destaca uma atividade promoveu a integração também com o inglês.

“O STEAM se uniu com o inglês e alguns projetos do 1°, 2°, e 3° anos do ensino médio, foram discutidos com um professor da High Tech High […] Então, os alunos tiveram essa oportunidade de fazer perguntas e discutir ao vivo com esse especialista, isso é uma coisa que sem dúvida vai ficar, mesmo em sala de aula, mesmo que seja feita no ambiente presencial”.

Além de videoconferências, Mayra ainda comenta que recursos que não podiam ser utilizados no ensino presencial, ganharam a chance de ser bem aproveitados no ensino remoto. O uso de recursos gráficos, como simuladores, proporcionou um aprendizado mais concreto em disciplinas que fazem parte das ciências da natureza.

“Física sempre é um grande ponto de dificuldade dos alunos, de uma forma geral, a química é a mesma coisa, O aluno vai estudar alguma coisa, no presencial ele montava uma molécula com o material, à distância como é que você faz isso? Vamos ao simulador, ao aplicativo que dê conta de fazer tudo isso”. 

Os bons resultados obtidos pelo Bandeirantes são resultado de um esforço conjunto, mas os professores, em especial, merecem destaque. Para a maioria desses profissionais, a pandemia foi sinônimo de aprendizado, as novas experiências também os transformaram em aprendizes. “Os professores foram guerreiros, abraçaram a causa e colocaram o online do dia para a noite, literalmente”, ressalta Mayra.

 

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Colégio Santo Américo

Não é à toa que dizem por aí que a crise impulsiona mudanças. Em meio aos desafios do ensino remoto, professores do Colégio Santo Américo, deram início a um projeto de compartilhamento de boas práticas para ajudar a outros profissionais a utilizarem a tecnologia de forma criativa em sala de aula.

Elaine Conceição Marquezini, coordenadora do Ensino Fundamental II da instituição, explica como surgiu essa iniciativa inovadora, feita por educadores para educadores:

“Nós demos continuidade à formação de professores nessa perspectiva das metodologias ativas, e neste momento, os professores que tinham mais experiência com a tecnologia tornaram-se formadores de professores. E aí nasceu o “e-socialize”, um espaço online de formação que, primeiramente, foi feito entre os professores da nossa instituição, mas aos poucos nós fomos abrindo e atingimos outros tantos professores”.

O e-Socialize é um projeto alinhado aos dois principais valores do Colégio Santo Américo: escuta e acolhimento. Foram eles que guiaram as ações e projetos realizados durante o ensino remoto e, posteriormente, estão presentes na retomada das aulas, agora híbridas.  

 

Cuidados com a saúde mental

Para garantir um retorno seguro e confortável para alunos, professores e demais colaboradores, o colégio, em parceria com o Hospital Sírio-libanês, construiu um robusto plano de retorno das aulas. Além do uso obrigatório de máscara e distanciamento social, todos receberam cartilhas informativas e contam com assistência de profissionais de saúde.  

Como afirma a coordenadora do colégio, a preocupação, neste momento, não é somente com o ensino-aprendizado dos alunos, mas, também, com a saúde mental e bem-estar daqueles que fazem parte da comunidade escolar. 

“Nós temos uma equipe de orientadores educacionais, composta por pedagogos e psicólogos […] Eles estão organizando momentos de acolhida, de como promover isso para aqueles que vierem para a escola, mas, também, para aqueles que estiverem em casa. Enfim, a escola precisa continuar preservando esse espaço de convívio social, de grandes aprendizagens socioemocionais, mas tudo isso, obviamente, garantindo segurança”.

Com o lema “Ser Santo Américo é ser humano”, Elaine deixa uma mensagem para gestores, professores, coordenadores e todos aqueles que enxergam na educação a chance de transformar o mundo:

“Nós temos que assumir um compromisso, como educadores de todo o Brasil, de aproveitar essa pandemia para reestruturar a escola na sua forma de ensinar. Nós precisamos pensar, efetivamente, em todos esses problemas que foram escancarados e que merecem uma atenção especial de nós, educadores, porque, afinal de contas, mostra como estamos formando as crianças para o futuro de amanhã”.

 

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