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A pandemia trouxe incertezas econômicas em vários setores do mercado – e na educação não foi diferente. Famílias acabaram tendo a renda afetada, fazendo com que as escolas tivessem que lidar com a inadimplência ou adotassem medidas para seguirem parceiras dos pais e alunos. Essa não é a primeira e nem será a última crise vivida pelo mercado. Assim, a pandemia também serve de alerta para a importância de adotar novos modelos de educação financeira para superar crises.

Mas qual modelo é o melhor para isso? Aquele que torne seu negócio sustentável para que continue prosperando. A explicação é do educador e terapeuta financeiro Reinaldo Domingos, criador da DSOP Educação Financeira – uma organização dedicada à disseminação da educação financeira no Brasil por meio da aplicação da metodologia DSOP (Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar).

Segundo ele, é preciso encarar o empreendedorismo e a educação financeira de formas diferentes dos conceitos atuais. Com isso, Reinaldo Domingos sugere a adoção de um modo de “empreender vitorioso”, que pode ser a chave para superar eventuais problemas financeiros nas escolas.

PhD em educação financeira pela Flórida Christian University, Reinaldo Domingos ainda é presidente do grupo Confirp Contabilidade e da Abefin (Associação Brasileira de Educadores Financeiros).

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A sustentabilidade financeira no ato de empreender

O empreendedorismo começa no escambo: é uma troca de um tempo seu para transformá-lo em recursos financeiros. Segundo Domingos, é possível afirmar que o empreendedorismo existe desde os tempos das cavernas e o dinheiro vem como uma forma de alinhar o valor dos produtos e serviços oferecidos. A partir do momento em que existe o dinheiro, vem a necessidade da educação e do controle financeiro.

Reinaldo Domingos, no entanto, chama atenção para o fato de encararmos o empreender por meio de uma visão simplista que se resume a ter uma ideia inovadora. O desejo e o sonho são importantes, mas não geram a sustentabilidade do negócio.

“Nosso conceito de empreendedorismo não trouxe para uma relação de sustentabilidade. Ele não traz, em nenhum momento, reservas e lucro, ele traz a oportunidade”, ressaltou.

Foi por isso que o especialista criou a versão de empreender para triunfar aliado à missão de cada um, com fundamentos e estruturado na busca contínua de resultados.

No momento de pandemia, tanto as nossas famílias como o universo educacional, não tiveram sustentabilidade para sobreviver mais de 1, 2 ou 3 meses, ou seja, tudo que ela recebia, praticamente, consumia nos próximos 1 ou 2 meses. 

Quando teve toda essa paralisação, nós ficamos sem sustentabilidade. Então, temos que entender que a educação financeira traz a sustentabilidade, não são os números e finanças, mas sim criar hábitos saudáveis tanto no universo profissional, como pessoal”, disse.

Educação financeira x Finanças pessoais

Outro ponto destacado por Reinaldo Domingos é o conceito de educação financeira proposto pela OECD (sigla em inglês para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), de 2005, que acaba focando muito mais na finança pessoal como forma de proteger os clientes das instituições financeiras.

“A OECD foca em conceitos de riscos financeiros, consciência de riscos, oportunidades financeiras para fazer escolhas informadas, para melhorar seu bem-estar financeiro, etc. Se você olhar direitinho, percebe que este conceito vem para proteger os clientes no mundo financeiro, os consumidores em relação aos seus contratos, e está muito conectado às finanças exatas”, explicou. 

Por isso, Domingos, como presidente da Abefin, disse que estava protocolando um ofício junto à organização propondo que a educação financeira fosse tratada como uma ciência humana, justificando que os hábitos vão sendo construídos no cognitivo das pessoas.

“O que a gente acredita é que quanto mais cedo uma criança aprende esse conceito [de educação financeira], comportamentalmente falando, mais fácil será para construir uma vida saudável e sustentável financeiramente”, argumentou.

O especialista ressalta a importância de entender o comportamento para a nova metodologia da educação financeira, que coloca o ser humano no centro do estudo.

Empreender vitorioso

Partindo do ponto em que o ato de empreender precisa ser sustentável e que a educação financeira deve ser encarada como construção de hábitos por meio do comportamento, Reinaldo Domingos sugere a metodologia do “empreender vitorioso”.

  1. O primeiro questionamento deve ser qual o propósito de todos que trabalham na sua organização. Essas pessoas sabem o que estão fazendo lá, a missão da escola, os resultados que se buscam? Se não, como é que eu posso exigir dela melhor qualidade de trabalho? 
  2. O segundo ponto é o tempo. Ele é um agente não renovável, por isso é preciso planejar para executar. Você também precisa saber esperar e saber respeitar como usar seu tempo com a vida, família e negócio. 
  3. A saúde é imprescindível, principalmente na crise sanitária em que vivemos. É importante olhar para a saúde física, mental, espiritual e Reinaldo propõe que seja olhado também para a saúde financeira da sua família e do seu negócio. 
  4. A educação é peça-chave. “Não existe como eu estruturar a base dessas duas frentes, família e negócio, se eu não tiver educação. Quando começou a pandemia, muita gente mudou de profissão e muitas atividades derreteram e outras nasceram. Eu preciso estar atento e só a educação pode isso, preservar a educação é a chave”, explicou Reinaldo. 
  5. Outra coisa importante são as relações humanas. É preciso estar bem conectado com todos que estão ao entorno, sejam os pais, sejam os alunos, seus professores ou as parcerias. 

Esse ecossistema, explica Reinaldo Domingos, sustenta duas bases: a empresa-família e o capital. Independentemente de ser o dono ou funcionário, você está empreendendo por estar trocando o seu tempo por dinheiro. 

“É importante que esse recurso financeiro volte para a família e faça o ciclo, por isso que é um ecossistema e não podemos esquecer disso”, ressaltou. 

Modelo mental 

O criador da DSOP Educação financeira questiona: então qual seria o modelo mental para mudar o meu negócio? 

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Desenvolvido pelo especialista e publicado pela primeira vez no livro Terapia Financeira, em 2007, o modelo mental proposto foi o que proporcionou a sustentabilidade para Reinaldo, que há mais de 20 anos não precisa trabalhar por necessidade, só por prazer. 

No orçamento familiar temos os seguintes pontos:

  • ganhos;
  • longevidade,pensando em uma aposentadoria sustentável;
  • sonhos de curto, médio e longo prazo;
  • prestação de dívidas;
  • reserva financeira;
  • gastos.

Já o orçamento dos negócios proposto por Reinaldo segue o DLRE – demonstração do lucro e resultado do exercício:

  • faturamento;
  • lucro;
  • custos;
  • pró-labore;
  • reserva financeira.

A reserva ou capital de giro é uma novidade proposta por Domingos. “Esse recurso deveria existir por pelo menos 12 meses na sua escola. Nós precisamos fazer esse exercício. Perceba que o lucro é nossa chave número um, seja você um empreendedor pequeno, médio ou grande, não importa”, destacou.

Ter um negócio é assumir um compromisso de alto risco, por isso é de fundamental importância olhar para isso de uma forma um pouco mais profissionalizada. “Para que você abriu a sua escola? É um sonho? Legal, mas quando você abre o seu negócio, você é um empreendedor do seu próprio negócio, se não existir lucro dentro dessa composição, nós já estamos com problema”, alertou o profissional.

Ele cita que vê muitas escolas no Brasil “vendendo o almoço para comer a janta” e que esse tipo de modelo precisa acabar. É necessário que haja a reserva financeira para sustentar momentos difíceis.

“Se hoje eu faturo 10 e estou gastando 10, eu já estou totalmente errado. Você vai ter que se reinventar e fazer um trabalho diagnóstico, quase que uma ‘faxina’ no seu negócio. Você precisa ter uma lucratividade de pelo menos 25% a 30% do seu negócio”, explicou.

Para isso, ele sugere aplicar metodologia de empreendedorismo em que as habilidades e competências sejam priorizadas. Depois, descobrir qual é o seu perfil de empreendedor. “Às vezes ele é um grande professor e pedagogo, mas não é um bom administrador financeiro e não tem conhecimento de marketing”, lembra o especialista.

Com esse modelo mental de empreendedorismo proposto por Reinaldo Domingos, é preciso ir além da preocupação de apenas receber as mensalidades. O trabalho precisa focar em ter um lucro e uma reserva que garanta momentos de tranquilidade para o futuro. “Essa não é a última crise que nós teremos, por isso temos que mudar o modelo mental e priorizar o lucro. Não podemos ter reserva para menos de 12 meses, tem que ser no mínimo 12 meses para ter um ano letivo inteiro de sustentabilidade”, disse. “Não é difícil se você fizer a lição de casa”, finalizou.

 

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