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A pandemia trouxe consigo uma série de impactos econômicos, sociais e emocionais, afetando de forma indiscriminada pessoas de todo o mundo. Nesse sentido, um dos grandes desafios das escolas para o pós-pandemia será, justamente, ajudar aos alunos a desenvolverem uma perspectiva mais positiva em relação ao mundo e ao seu futuro.

Mas antes de qualquer coisa, Pejman Samoori, mestre em Ciências Biológicas e doutor em Educação, acredita que a própria escola precisa repensar no seu papel social. “A educação pode oferecer muito mais do que ela oferece atualmente. Muitas vezes, a mensagem que a atual educação oferece está muito voltada a preparar pessoas para o mercado de trabalho”.

Ainda segundo o educador, o atual modelo de educação é falho, não é inspirador e muito menos motivador. São “alunos que fingem que aprendem e professores que fingem que ensinam. Quem realmente acredita na educação?”, questiona. 

 

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É preciso reconhecer a crise que afeta o setor – que vai além da financeira – e desenvolver um modelo educacional sustentado em metodologias ativas e que valorize o bem-estar e o desenvolvimento sustentável. Um dos caminhos para isso é através da educação de valores, especificamente valores sociais e morais.

Muito antes da pandemia, a própria UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em seu Relatório Educação para a Cidadania Global 2015, já indicava a importância dos valores para a formação cidadã dos estudantes.

“O papel da educação deve ir além do desenvolvimento do conhecimento e de habilidades cognitivas e passar a construir valores, habilidades socioemocionais (soft skills) e atitudes entre alunos que possam facilitar a cooperação internacional e promover a transformação social”.

Em seu relatório, agência ainda sugere como trabalhar valores universais como justiça, igualdade, dignidade e respeito no currículo. Esse trabalho inicia-se, na verdade, no seio familiar e estende-se para a escola com a capacitação dos professores para depois abordar o tema em disciplinas de esportes e artes, por exemplo.

 

A tríade do “bom, belo e verdadeiro”

Fazendo uma referência à psicologia integral, Pejman traz um pouco da ideia do filósofo ateniense Sócrates, que falava sobre “o bom, o belo e o verdadeiro”. Mas o que seria isso? Em síntese, o bom se enquadra como o ético e o moral; o belo como a consciência subjetiva e o verdadeiro seria a ciência. 

Com o passar dos anos, ele sugere que houve uma fragmentação dessa tríade; deixamos de lado a ética e a moral e já não damos muita importância ao belo. Como consequência, os sistemas educacionais, econômicos e políticos se desajustaram e a sociedade passou a se basear em valores gananciosos e autocentrados.

“Pense no valor que a sociedade dá ao filósofo, ao artista e ao engenheiro civil. Qual desses três você desejaria que seu filho ou sua filha se formasse? Se você está inserido no sistema desse mundo, e nos valores que essa sociedade traz, obviamente vai dizer “não quero que minha filha seja artista, nem filósofa, para poder sobreviver, tem quer ser engenheira civil”, exemplifica.

 

Carecemos de um novo modelo de educação

Ainda que a mudança seja um processo inato ao ser humano e, ao mesmo tempo, também provoque transformações na natureza, na economia e nas relações sociais. Pejman acredita que a humanidade caminha rumo à “desumanização” e a educação tem contribuído com isso por não gerar a motivação necessária para que os estudantes desenvolvam valores sociais.

O novo modelo de educação sugerido por ele estabelece a capacidade de servir, no sentido de contribuir com o desenvolvimento do outro, como um eixo principal. De modo que o bem coletivo sobreponha o bem-estar individual e, consequentemente, a tolerância, a empatia e a paciência prevaleçam. 

“Essa capacidade de servir é uma fonte extremamente importante de motivação, por isso que algumas escolas começam com certos projetos que visam estender a outras escolas algum tipo de benefício, ou que seus alunos interajam com outras crianças, ou outra realidade, para poderem se sensibilizar e se sentirem úteis […] isso requer um grupo de pessoas dentro da instituição que pensem sobre a sua própria realidade […] e dentro dessa interação, consigam identificar maneiras que melhor possam contribuir àquela população”, finaliza.

 

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