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Quando se fala em liderança, qual a primeira profissão que vem na sua cabeça? No contexto educacional, diretores e coordenadores, geralmente, são enxergados como as únicas figuras de liderança por executarem atividades de planejamento e gestão. 

Mas dentro da escola também há outro profissional que diariamente lida e gerencia dezenas de pessoas. São os professores. Eles exercem um papel que vai além da mediação do conhecimento, contribuindo ativamente no desenvolvimento global dos alunos. 

Por que os professores ainda não são vistos como exemplos de liderança? Os motivos são vários, desde a ausência de cultura organizacional até mesmo a falta de identificação. No entanto, com a transição do ensino presencial para o remoto, esses profissionais foram desafiados e convocados a assumir uma postura mais atuante.

Agora, com a extensão do ensino híbrido para 2021, a tecnologia promete ser um grande aliado dos professores. Mas será que dominar as principais ferramentas tecnológicas será o suficiente? Para Flávio Marini, coach de Inteligência Emocional e sócio palestrante da Improve, é preciso muito mais que isso.

“De nada adianta todas as tecnologias e técnicas, plataformas ou livros, enfim, a parte técnica a gente tem, vai evoluir, mas o que mais precisa é o professor se ver como líder […] E nesse processo dentro da pandemia, principalmente no pós, a gente precisa ainda mais do professor liderando, mostrando que é um líder, ter essa confiança nele mesmo”

Professores com inteligência emocional são líderes bem-sucedidos

Ainda segundo Flávio, o empoderamento desses professores pode ser estimulado através da inteligência emocional, que é dividida em quatro pilares: empatia, comunicação interpessoal, autoliderança e autoconhecimento. Ele destaca que o autoconhecimento, em especial, é imprescindível para lidar e gerir pessoas. 

“Nós, educadores, temos que estar o tempo inteiro com autoconhecimento, investir em nosso conhecimento, não dá para liderar, gerir, seja uma sala de aula ou uma equipe, se não tiver autoconhecimento”.

Fernanda Nyari, pedagoga e sócia fundadora da Kinder Kampus School, ainda completa: “O ato de liderar não é um ato de liderar somente outras pessoas, é liderar a si mesmo […] Ter esse empoderamento é fundamental para você conseguir lidar com suas aulas, com os alunos, com os pais e lidar até com a gestão da escola”.

De acordo com Fernanda, o empoderamento pode e deve se estender aos demais colaboradores da instituição. Afinal, a escola é um sistema complexo, e quando cada um reconhece sua importância, os resultados alcançados com mais facilidade.

“A escola não funciona se não estiver limpa, se a secretaria não estiver girando bem, se a portaria não estiver com funcionamento adequado. Então, todo mundo precisa estar muito bem empoderado […] isso é fundamental para o trabalho girar”.

 

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Como exercer a liderança no contexto do ensino híbrido digital

Pensar na escola como um lugar que forma apenas para o mercado de trabalho é até um pensamento arcaico. Segundo Ismael Rocha, especialista em educação e Diretor Acadêmico do Institute of Technology and Education, a escola do século XXI precisa impactar na vida do estudante de forma ampla e o professor é fundamental nesse processo.

Então qual seria o perfil do professor líder no pós-pandemia? Não existe um padrão, mas, de modo geral, esse profissional deve sempre estar sempre atento e buscar identificar os pontos fortes e os pontos de melhoria dos seus alunos, preparando-os para o mercado e a vida em sociedade.

“O desafio da escola e do educador é preparar o estudante, em qualquer nível, que dê significado a todas as coisas que estão a sua volta, perceba o seu sentido e descreva o seu contexto, permitindo uma interpretação ampla e única. Ou seja, nós temos claro qual é o papel que a escola deve ter, o seu papel é transformador”.

Ismael afirma que a otimização do ensino híbrido digital é o que vai facilitar o trabalho do professor no pós-pandemia. Nesse sentido, capacitar esses profissionais é o básico, mas outros fatores são cruciais para o novo normal:

  1. Preparar aulas com a melhor qualidade possível;
  2. Fazer uso de dados obtidos digitalmente para elaborar um plano de ensino-aprendizado individualizado;
  3. Promover o aprendizado coletivo, fazendo uso das ferramentas digitais; 
  4. Gamificar a dinâmica do ensino-aprendizado;
  5. Aproveitar melhor o tempo livre em sala de aula para aprofundar conhecimentos e/ou fazer o uso de novas metodologias ativas;
  6. Aumentar a autonomia do estudante;
  7. Permitir que o estudante percorra o caminho de ensino-aprendizagem a partir do seu repertório;
  8. Valorizar a aprendizagem significativa.

Os oito itens sugeridos pelo especialista levam em consideração, principalmente, o perfil dos alunos, chamados por ele de “nativos digitais”. O celular, considerado como uma barreira por muitos professores, é um item essencial para crianças e jovens e também uma grande ferramenta para o ensino digital. Mas o problema, talvez, é que muitas escolas ainda não sabem como tirar proveito disso. 

“A quantidade de pessoas que possuem celulares no Brasil é imensa. Então, trabalhar com celular não é uma grande barreira para quaisquer crianças, adolescentes, jovens, eles estão acostumados com o padrão de entrega, com o TikTok ao Netflix […] é importante que as aulas sejam entregues no padrão que eles estão acostumados, porque senão eles vão virar as costas e sair, porque eles já têm um repertório, não podemos esquecer que eles são nativos digitais, e nós professores não somos”.

O ensino digital também fornece mais informações aos professores. É possível saber, por exemplo, o momento que o aluno entrou e saiu da sala virtual e quais atividades ele tem maior assertividade. Essas informações, quando convertidas em dados, podem ser usadas estrategicamente na construção de planos de ensino-aprendizagem individualizados. 

Mas retomando a pergunta do título do texto: qual o papel do educador no novo contexto escolar pós-pandemia? Até aqui percebemos que são vários! Mas o professor líder, sem dúvidas, é o mais necessário para o novo normal e que ajudará a promover uma aprendizagem mais significativa, contrária à aprendizagem tradicional e mecânica.

 

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