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Desde que teve início no Brasil, os cuidados indispensáveis para se proteger contra a pandemia foram amplamente divulgados e, após sete meses de convivência com o vírus no país, já estão incorporados no cotidiano da maioria das pessoas. Afinal, é mundialmente conhecido que o distanciamento social, evitar aglomerações, utilizar máscaras e higienizar as mãos são as principais formas de prevenção da doença, que já soma milhões de infectados em todo o mundo, com mais de 1 milhão de mortos. 

Entretanto, a necessidade de não ter contato físico é, ainda, um obstáculo no retorno das aulas presenciais, principalmente na educação infantil. Afinal, como acolher as crianças sem abraçar? Já reparou que quando uma criança se machuca, é para os braços de um cuidador, que ela admira e confia, que ela corre? Quando alegre, é também esse adulto que ela procura, muitas vezes corporalmente, com a intenção de compartilhar sua felicidade. 

Surge, então, um novo desafio aos educadores: promover o acolhimento dos alunos e alunas sem tocar. Os abraços precisam ser substituídos por olhares, gestos e palavras. Mas como colocar tudo isso em prática?

Para a pedagoga e psicopedagoga Kamilla Stati, o primeiro passo é trabalhar a comunicação com as crianças para conseguir estabelecer limites e regras sobre o que é permitido neste novo cenário. Depois, buscar alternativas para demonstrar aos pequenos o quanto eles são importantes. “Os professores podem demonstrar através de músicas, olhares, gestos e rodas de conversa, lembrando sempre as crianças que tudo isso é uma necessidade, que o amor e o carinho são uma das bases essenciais  para formação do ser humano e desenvolvimento das crianças e jovens”, recomenda.

 

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Comunicação e empatia

Kamilla acredita que, desde antes da pandemia, o tom da voz utilizado na comunicação é de extrema importância na formação contínua das crianças. Porém, o momento pede uma atenção ainda maior. “A volta às aulas terá que ter uma doçura a mais na voz dos professores. Os alunos e nós tivemos um ano difícil, portanto falar com empatia será um dos pontos mais importantes dentro de sala de aula”, pondera.

De acordo com a professora de educação infantil Taisy Rosa Delgado, o retorno das aulas presenciais devem ser amplamente planejando, incluindo a demanda que as crianças menores exigem, inclusive a necessidade de afeto. “Acolher as crianças sem esse contato, ainda mais na educação infantil que tudo gira no afeto, no abraço, no beijo, é algo complicado. Como fazer o momento da troca de fralda? Como consolar uma criança após uma queda? E os momentos da roda de conversa e história? Todos estamos sensíveis. Precisamos nos sentir acolhidos para acolher”, destaca.

Nesse sentido, Taisy acredita que é necessário os professores e professoras terem apoio e acolhida em relação aos seus próprios sentimentos. “Como professores, necessitamos trabalhar nossas emoções e acolher as emoções das crianças, seus sentimentos, seus medos e suas angústias”, afirma. Taisy também vê na comunicação verbal uma das saídas para perceber as necessidades dos alunos. 

A pedagoga Débora de Almeida Mello lembra ainda que as crianças são movidas pelas emoções e que, após tanto tempo longe da escola e dos amigos, sentirão vontade de abraçar os colegas e professores. “Os professores precisarão ter muito jogo de cintura para demonstrar o afeto e saudade sem ter o contato físico, principalmente em mostrar para as crianças que isso é necessário para a volta com segurança”, ressalta. E, para a profissional, isso deve ser feito com muita conversa e carinho. “Precisamos explicar o momento que estamos vivendo com palavras de carinho, com atenção ao que eles querem falar, com paciência e muito amor, que aliás, já temos de sobra”, acrescenta.

Débora também enfatiza que será importante incentivar as crianças a verbalizarem suas ideias e sentimentos. “Mais do que nunca, precisaremos nos comunicar mais com as crianças e estimular que elas também se comuniquem, pois sem o contato físico, a oralidade se torna muito mais importante”, orienta.

 

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A criança não se aguentou e compartilhou seu lanche. E agora?

Apesar de ser uma cena que não deveria acontecer, as crianças pequenas podem ter dificuldade em cumprir os protocolos de segurança. Como a escola deve agir quando notar que alguns alunos compartilharam os lanches ou até mesmo os copos, por exemplo?

Para a pedagoga e psicopedagoga Kamilla Stati, será necessário manter um diálogo diariamente para que essas situações não ocorram. “Trabalhar formas que possibilitem as crianças entenderem a necessidade de manter a distância um do outro e não compartilhar objetivos será de extrema importância, tanto dentro da escola como com a conscientização dos pais em casa”, sugere.

Segundo a professora de educação infantil Taisy Rosa Delgado, é necessário que a família também seja parceira da escola para instruir e orientar os filhos e/ou filhas sobre os cuidados que precisam ser seguidos na instituição de ensino. Agora, caso seja preciso um educador intermediar alguma situação, é preciso ser firme e gentil. “A intervenção frente alguma atitude incorreta quanto à prevenção deve ser feita de maneira tranquila, afetuosa e com clareza”, explica.

Já para a pedagoga Débora De Almeida Mello, essa é uma situação que pode ocorrer mais de uma vez, exigindo muita paciência e carinho dos professores. “Intervir de forma calma e com muito diálogo será a melhor opção. Aos poucos eles vão acostumando e aprendendo. Nas escolas e creches, tudo funciona na base da rotina. Será um desafio, mas os profissionais da educação são excelentes em aceitar e superar os desafios”, finaliza.

 

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