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Nos últimos anos, os distúrbios de aprendizagem, que afetam as habilidades formativas, cognitivas e socioemocionais, passaram a ser frequentemente discutidos no contexto da educação.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, cerca de 15% das crianças em idade escolar enfrentam dificuldades educacionais. No Brasil, há quase 300 mil alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) matriculados nos ensinos infantil, fundamental e médio, de acordo com o Censo Escolar de 2021.

Esses dados representam apenas uma pequena parcela de uma condição específica que pode se tornar um obstáculo no processo de ensino.

Para tornar o ambiente educacional mais inclusivo e acolhedor, é importante que pais, professores e educadores compreendam melhor os distúrbios de aprendizagem existentes.

“Além disso, é imprescindível conhecer estratégias que podem ser utilizadas para trabalhar, em sala de aula, com as crianças que enfrentam essas dificuldades”, aponta Samea Cristina Macrini, especialista em distúrbios de aprendizagem e consultora pedagógica da Conquista Solução Educacional.

A profissional elenca alguns dos principais distúrbios e dá dicas de como abordá-los em sala de aula. Confira:

Distúrbios de aprendizagem: dislexia e discalculia

A dislexia é um distúrbio genético que dificulta o aprendizado e a realização da leitura e da escrita, podendo estar relacionada à disortografia (comprometimento somente na escrita) e à discalculia (comprometimento na matemática).

“Entre os sintomas da dislexia na infância destacam-se a dispersão, a falta de atenção, a dificuldade em aprender rimas e canções, e o atraso na coordenação motora. Já a discalculia é caracterizada pela dificuldade no aprendizado dos números, com desafios em contagens, sequências e operações aritméticas”, detalha Samea. Para estimular essas crianças, a especialista sugere atividades que incluam música, rima, ritmo, palmas e percepção visual.

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

O TDAH é uma condição neurobiológica de causas genéticas, apresentando sintomas como falta de atenção, inquietação e impulsividade, que aparecem na infância e podem acompanhar a pessoa por toda a vida.

“Normalmente, os sintomas incluem falta de atenção em detalhes, dificuldade em manter a atenção em tarefas, conversas e leituras, dificuldade em organizar compromissos, perder itens necessários e ser facilmente distraído por estímulos externos ou pensamentos”, revela a especialista.

Ela indica estabelecer rotinas, criar regras claras, fazer pausas regulares, ensinar técnicas de organização e utilizar incentivos e elogios para estimular essas crianças em sala de aula.

Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O TEA é o resultado de alterações físicas e funcionais do cérebro, afetando o desenvolvimento motor, da linguagem e comportamental. Esse distúrbio afeta o comportamento da criança e os primeiros sinais podem ser notados nos primeiros meses de vida.

Segundo Samea, os sintomas incluem atraso no desenvolvimento da fala, dificuldade em manter contato visual, pouca interação social, sensibilidade extrema a estímulos e repetições de comportamentos.

“Para trabalhar com crianças com TEA na escola, é crucial um diagnóstico precoce. Estabelecer uma rotina previsível, oferecer apoio na comunicação e suporte para habilidades sociais são as principais indicações”, recomenda.

Transtorno Opositivo Desafiador (TOD)

Entre os distúrbios de aprendizagem está o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), que geralmente se manifesta durante a infância. Ele também é caracterizado por comportamentos como agressividade, raiva, desobediência, provocação e ressentimento.

“Comumente, os sintomas são: desobediência, irritabilidade, agitação, culpabilização dos outros, raiva constante, vingança, crueldade e agressividade”, detalha a especialista.

Nestes casos, para um melhor aprendizado, ela aconselha clareza com as regras, elogios, compreensão dos gostos da criança e liderança pelo exemplo.

Deficiência Intelectual também é um dos distúrbios de aprendizagem

Na deficiência intelectual, a pessoa apresenta um atraso no desenvolvimento, dificuldade para aprender e realizar tarefas do dia a dia, bem como para interagir com o meio em que vive. Há um comprometimento cognitivo, que acontece antes dos 18 anos, prejudicando as habilidades adaptativas.

Samea explica que os sintomas incluem atraso no desenvolvimento, falta de interesse, isolamento familiar, problemas de aprendizado, queixas somáticas, medo excessivo, irritabilidade, alteração de apetite, regressão de habilidades já adquiridas e fadiga.

“Os familiares e educadores devem conversar muito e sobretudo com a criança, estimulá-la a expressar suas necessidades, utilizar figuras para aumentar o vocabulário, priorizar qualidade acima da quantidade de atividades, dar poucas ordens de cada vez e usar diferentes estratégias e materiais para alcançar os mesmos objetivos,” orienta.

A especialista ressalta ainda que cada criança é única e individual, podendo apresentar comportamentos diferentes que não necessariamente estejam relacionados a distúrbios de aprendizagem.

“Além disso, o diagnóstico e tratamento de qualquer distúrbio da aprendizagem devem ser realizados por profissionais qualificados, com o acompanhamento de médicos e psicólogos. Para auxiliar no diagnóstico, avaliações educacionais e recursos da neuropedagogia podem ser aplicados, permitindo a intervenção adequada dos educadores e profissionais da pedagogia”, finaliza.

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