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Repensar a educação para trazê-la, de fato, ao século 21 significa também questionar o processo de avaliação dos alunos. Será mesmo que as provas dissertativas ainda são a melhor saída para medir o desenvolvimento dos alunos? Ou é mais do que hora de trazer formas alternativas e eficientes de avaliação para a sua escola?

Mais uma coisa é certa, na avaliação do sociólogo e consultor educacional Cesar Callegari: independentemente de qual seja a forma, a escola deve começar a pensar em trocar a avaliação da aprendizagem para uma avaliação PARA a aprendizagem. Segundo o especialista, que também é presidente do Instituto Brasileiro de Sociologia Aplicada, a educação precisa estar mais preocupada em entender como o aluno evolui e como a avaliação é um instrumento para ajustar a aprendizagem dentro da sala de aula.

O especialista chama a atenção para que as escolas tenham uma profunda compreensão sobre os direitos de aprendizagem e de desenvolvimento dos estudantes, dos menores até aqueles que já estão no Ensino Médio. Para propor novos métodos de avaliação, é imprescindível que as instituições não violem esses direitos.

“É preciso investir em formação e atualização das equipes, e é fundamental que a gestão prepare os professores. A partir daí, pensar em quais as estratégias que devem ser mobilizadas para que esses direitos educacionais sejam preservados”, explica. 

Seria o fim das provas tradicionais?

Segundo Cesar Callegari, as provas tradicionais são uma alternativa de avaliação, mas não devem ser a única opção do professor. Testes objetivos e provas de dissertação podem ser importantes, mas é preciso que haja uma avaliação que entenda o desenvolvimento dos estudantes.

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“Nesse instante, as escolas devem ter intencionalidade pedagógica dentro do processo de acolhida das aulas presenciais e todo processo de avaliação tradicional deve procurar agora se adaptar no sentido de poder compreender melhor o conjunto de experiências que o estudante teve no processo de afastamento do ensino presencial”, explica.

Segundo ele, as escolas não devem ter interesse em apenas entender a absorção de conteúdo, mas verificar outras experiências vividas e aprendizagem que os alunos tiveram, desde o uso de tecnologia até o desenvolvimento de capacidades socioemocionais por meio de atividades colaborativas com outros estudantes e sua própria família.

“Essas aprendizagens são muito significativas e não podem ser ignoradas. As escolas devem se adaptar para permitir que essa estrutura educacional conte com detalhes o desenvolvimento e dificuldade”, diz.

Diretor acadêmico do Iteduc e diretor pedagógico do Educa Week 2021, o doutor em educação Ismael Rocha também concorda sobre a questão das provas tradicionais. Para ele, as escolas precisam entender que os estudantes aprendem de forma diferente e as avaliações precisam levar isso em consideração.

“Uns têm habilidade auditiva, outros aprendem lendo, ou desenvolvendo atividade ou trabalho. O professor não pode ser restritivo, pois se os estudantes aprendem de forma diferentes, os processos de avaliações precisam ser diferentes”, argumenta.

Atualmente, a internet permite amplo acesso à informação, mas essas informações não são conhecimento e precisam ser processadas em elementos conceituais e teóricos, mesmo nos níveis mais simples. “As avaliações que pretendem obter devolutivas de informação são insuficientes para apurar o conhecimento e o processamento dos conteúdos”, diz César Callegari.

Como fazer os pais entenderem essas mudanças

Um possível obstáculo que a escola, ao decidir aplicar métodos alternativos de avaliação, pode enfrentar é a resistência dos pais. Afinal, eles foram educados em um modelo onde as provas tradicionais eram as únicas que existiam.

Para o diretor acadêmico do Iteduc, a escola tem que construir uma parceria com os pais como nunca construiu antes, principalmente após todas as mudanças que a pandemia trouxe para as relações pessoais e profissionais. 

“Sem a parceria entre pais, escola e alunos não faremos com que a educação chegue ao século 21. Estamos no 1º quarto deste século e nossa educação está praticamente igual à do século passado”, avalia Ismael Rocha.

Ele sugere promover um encontro com os pais e mostrar essa nova realidade. “É uma mudança muito grande que precisa envolver a todos. Se vamos continuar fazendo avaliações do século passado, não vamos conhecer os potenciais dos alunos. Vamos continuar observando não o que eles retiveram, mas o que eles decoraram das matérias. Mudar a avaliação é essencial para entender o potencial dos alunos. A decoreba não tem importância nenhuma, porque todo conteúdo, atualmente, está disponível na internet”, disse.

O sociólogo César Callegari diz que todo o sistema educacional precisa compreender que as avaliações, de toda natureza, devem estar preocupadas em perceber o que o estudante sabe, e não aquilo que ele não sabe. 

“Essa mudança deve necessariamente envolver as famílias e isso se faz pelo diálogo. E não somente para cumprir a tabela das reuniões e o cronograma anual, mas sim elaborar estratégias especiais para apresentar esse assunto para as famílias, mobilizar formas inovadoras de diálogo”, diz. 

Ele ainda sugere que quando necessário, a ida da equipe escolar para a casa das famílias pode também ter efeito positivo para conseguir construir esse diálogo.

Três formas alternativas para avaliação de aprendizagem

Para Ismael Rocha, a avaliação não deve se construir somente por dinâmicas objetivas, como a prova teste, pois se o aluno não conseguiu absorver ou decorar o conteúdo, ele não vai bem na prova. 

Confira três sugestões de avaliação alternativa para aplicar na sua escola:

  1. Avaliar processos: sugira o desenvolvimento de um projeto que tenha várias etapas. Com isso, o professor consegue ir avaliando o aluno conforme cada entrega, podendo entender as dificuldades e acertos e, consequentemente, ir adaptando o ensino para a sala de aula. Nesse tipo de avaliação, cada aluno consegue expressar individualmente o que está aprendendo, podendo representar de forma mais clara seu desenvolvimento.
  2. TikTok: e porque não? Rede social do momento, o TikTok é muito utilizado pelos jovens e essa tecnologia pode ser introduzida na sala de aula. A sugestão é dar uma temática para a sala, como a história da proclamação da República do Brasil. Cada aluno ou grupo é responsável por criar um vídeo curto sobre um fato dentro do tema proposto. Toda a sala aprende junto e com uma ferramenta que retém atenção por fazer parte da realidade do estudante.
  3. Gamificação: outra sugestão é trazer elementos dos games para dentro da sala de aula. Usando dessa técnica, o professor consegue engajar os alunos por trazer o elemento da criatividade para dentro da classe. 

Para Ismael, independentemente da forma escolhida, o que vai exigir do professor é que ele realmente conheça as ferramentas disponíveis e consigam aplicar para a avaliação, sem perder de vista os objetivos daquela atividade.

“Os alunos são nativos digitais, fazem tudo pelo computador e pelo celular. E é errado a gente não usufruir dessa realidade para o processo de ensino e de avaliação, pois estamos perdendo um potencial”, avalia o doutor em educação.

E a BNCC?

A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) não traz definições sobre a avaliação a ser utilizada dentro das escolas, mas é muito clara sobre os direitos de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes. Sendo assim, a BNCC serve para inspirar as propostas e projetos políticos pedagógicos da escola.

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Sociologia Aplicada, César Callegari, as escolas devem conhecer o documento em profundidade para preparar sua equipe escolar e determinar as estratégias da instituição.

“Seguindo a BNCC, a escola pode aplicar avaliações para replanejar seu ensino pós-pandemia e repensar a ocupação de espaços, principalmente pois não dá para recomeçar de onde paramos, em março de 2020”, afirma.

Tudo deve partir da avaliação e não uma tradicional, que apura aquilo que o estudante não sabe. A avaliação deve ser alternativa para entender aquilo que os estudantes sabem e desenvolveram, usando os dados para fins de planejamento.

“Uma avaliação correta deve se preocupar em não segregar os alunos dentro de uma sala de aula, dividindo a sala em grupos por nível de aprendizagem. Os estudantes que tiveram melhores oportunidades são vitais para aqueles que tiveram mais dificuldade”, argumenta o sociólogo César Callegari. “É na cooperação entre estudantes que você pode permitir que todos avancem”.

No dia 10/11 às 14h acontece o evento Conecta onde vamos falar sobre formas alternativas (e eficientes) de avaliar o aprendizado!
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