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A existência de diversos tabus, preconceitos e a falta de diálogo contribuem para que crianças e adolescentes fiquem vulneráveis sobre o seu corpo e sua sexualidade. Para mudar esse cenário, especialistas na área são enfáticos ao defender a educação sexual na escola como uma ferramenta para possibilitar que os jovens conheçam o próprio corpo, promovendo orientação e proteção. E é possível abordar o tema desde a educação infantil, como explicamos por aqui.

A educação sexual para criança e adolescente não é ensinar fazer sexo.  A sexualidade da criança é diferente da do adulto e o foco é o conhecimento do próprio corpo. Muitos associam a sexualidade como sinônimos de relação sexual. Conversar com a criança sobre a sexualidade não estimula a prática sexual precoce, muito pelo contrário”, afirma a psicopedagoga Miriam de Oliveira Dias, que é especialista em violência doméstica e fundadora do projeto “Protegendo com Amor”.

Para a profissional, trazer essas orientações para as crianças significa explicar sobre privacidade, autoproteção, sentimentos e consentimentos. “É ajudar a criança a entender a diferença entre toques que são permitidos, agradáveis e toques que não são permitidos e desconfortáveis, que as pessoas não podem tocar no corpo delas se elas não quiserem, e que elas podem dizer não. A ideia também é trabalhar noções de conhecimento do corpo, mudanças pelas quais o corpo passa e de higiene”, pontua.

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2018, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 76% dos casos de estupro de vulnerável (quando a vítima tem menos de 14 anos), o agressor é um parente ou amigo próximo da família da criança e/ou adolescente, e na maioria das vezes o crime é cometido em ambiente familiar.

Segundo a professora doutora Vilena Silva, que leciona biologia e meio ambiente, a escola pode ser uma rede de proteção e de ajuda das crianças. “É importante tratar esse tema na escola, porque a maior parte dos abusos sexuais que ocorrem em nosso país são praticados por entes da própria família. Dessa forma, na escola a criança pode entender o que está acontecendo, aprender a se proteger, além de ser um canal seguro para denunciar o abuso”, pontua.

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A importância da educação sexual na escola

Apesar de muitos professores não se sentirem confortáveis para abordar sobre sexualidade, seja por motivos religiosos ou falta de formação específica, é de extrema importância levar a educação sexual para a sala de aula.

“É importante conhecer a sexualidade e entendê-la em uma linguagem adequada à idade e de acordo com o desenvolvimento dela. A criança informada terá mais chances de discernir os limites de contato adulto e de denunciar o agressor, expondo aos pais ou algum adulto de confiança o problema que esteja ocorrendo”, ressalta a psicopedagoga Miriam de Oliveira Dias.

A educadora em sexualidade Lena Vilela destaca ainda que é na instituição de ensino que as crianças e adolescentes passam a maior parte do dia e é o local em que ampliam o aprendizado sobre se relacionar com o próximo. “A escola precisa participar dessa educação sobre sexualidade, porque a criança está um bom tempo do dia dela na escola. A sexualidade tem a ver com os relacionamentos da criança, tanto a relação dela com ela mesma como a relação dela com as outras pessoas. Na escola, ela está aprendendo a respeitar o corpo dela e o corpo do outro”, explica Lena.

A partir de qual série a temática pode ser abordada?

De acordo com a psicopedagoga Miriam de Oliveira Dias, as escolas precisam respeitar cada faixa etária e o estágio de desenvolvimento das crianças. Entretanto, ela cita que a partir dos 4 anos, ainda na educação infantil, começam a surgir curiosidades sobre o corpo. A partir disso, a profissional recomenda que os educadores aproveitem a oportunidade para ensinar o nome correto dos órgãos genitais e os conceitos de privacidade.

“Explicar por que cobrimos as partes íntimas e porque não devemos deixar ninguém nos tocar ou tocar nas partes íntimas dos colegas. Também devem ensinar sobre cuidados de higiene com o corpo. Já no ensino fundamental podemos reforçar todos esses conceitos”, esclarece Miriam.

Para saber mais para abordar a educação sexual na escola com crianças menores, confira essa matéria: O que é educação sexual na escola e como abordar na Ed Infantil?

Qual o papel da escola na prevenção do abuso sexual infantil?

Todo gestor e gestora precisa ter em mente que a escola tem um papel protetivo na vida da criança e do adolescente. No ambiente escolar, os educadores precisam estar atentos a quaisquer mudanças de comportamento dos alunos. De acordo com a psicopedagoga Miriam de Oliveira Dias, na maioria das vezes a criança não fala que está sofrendo abuso, porém ela pode sinalizar a violência sexual por meio de sinais e alguns sintomas.

“Estar sempre atento ao comportamento da criança, que pode demonstrar comportamento isolado ou dificuldade de se relacionar com o colega. Outro comportamento muito frequente nas escolas é a queda de rendimento escolar, falta de concentração e desatenção. Ansiedade, raiva e tristeza podem ser sentimentos comuns”, exemplifica.

Miriam ainda reforça que não é necessário que o professor seja especialista em educação sexual, mas é fundamental que seja um profissional informado sobre o assunto. “Quando a escola desenvolve e fala sobre esse assunto, muitos casos de violência vêm à tona e o aluno percebe que o que está acontecendo. O professor deve estar atento aos alunos e disposto a escutar as crianças, tendo cuidado e sensibilidade”, destaca.

Por isso, a educadora em sexualidade Lena Vilela recomenda que professores e professoras participem de capacitações. “Educadores e educadoras precisam estar preparados para saber como se dá o desenvolvimento da sexualidade na infância para que possam orientar de forma adequada, sem criar traumas ou complicações para a vida dessa criança. Daí a importância de orientar e capacitar esses professores para que eles estejam preparados para lidar sobre sexualidade de forma positiva”, destaca a educadora.

Vale lembrar que, segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), não é necessário ter certeza para fazer uma denúncia. Qualquer suspeita deve ser encaminhada ao Conselho Tutelar.

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Como abordar a educação sexual em sala de aula?

Além de proteger contra abuso sexual, a educação sexual na escola ajuda a evitar casos de gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis. Para isso, é recomendado planejar um aprendizado que tenha conteúdo significativo para os estudantes, com o intuito que eles possam aplicar o que aprenderam.

“Podemos trabalhar de forma eficiente e intencional com atividades lúdicas, possibilitando diálogo entre professor e aluno. O uso de jogos, dinâmicas, debates, vídeos, projetos, atividades em grupo, fantoches, livros de histórias, bonecos sexuados e massa de modelar para modelar as partes do corpo”, sugere a psicopedagoga Miriam de Oliveira Dias.

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