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Linguagem e tecnologia são coisas que atualmente não podem mais ser olhadas de forma separada. Nesse sentido, é papel também da escola trabalhar com o digital dentro da sala de aula e, assim, estimular o letramento digital. 

O letramento é quando se adquire competências necessárias para interagir com uma informação de forma crítica e estratégica, aplicando as técnicas da escrita e leitura levando em consideração a cultura e as práticas sociais. O letramento digital, portanto, é empregar essas competências usando um dispositivo tecnológico e tendo um pensamento crítico sobre o conteúdo que se acessa.

É preciso lembrar que as crianças e jovens são nativos digitais e estão acostumados a manusear aparatos tecnológicos desde pequenos. Nesse sentido, eles já possuem um grau de alfabetização digital, mas não necessariamente um letramento digital.

Propiciar o letramento digital aos estudantes pode reforçar e desenvolver habilidades, uma vez que ela prevê a interação entre palavras e códigos, como símbolos e imagens. Sendo assim, o aluno precisa apurar seu raciocínio para conseguir compreender a mensagem e interagir com aquele conteúdo.

O letramento digital está muito próximo de uma aprendizagem ubíqua – que é aquela que acontece em qualquer lugar, seja de forma síncrona ou assíncrona, e apropria-se dos de dispositivos móveis para a produção e a transmissão de conhecimento. Quer entender mais sobre o conceito da aprendizagem ubíqua e o futuro da educação? Clique aqui e leia a reportagem!

Alfabetização X Letramento

O conceito de letramento surge no Brasil em meados da década de 1980 e passa a ser diferenciado da alfabetização por estar ligado à aquisição do sistema da escrita e às práticas sócio-culturais de leitura e de escrita. Ou seja, o aluno não sabe apenas ler e escrever, mas consegue exercer essas técnicas dentro da cultura e das práticas sociais de um local.

Já a alfabetização é o processo pelo qual a pessoa adquire o domínio de um código e a habilidade de escrever e ler esse código. Ou seja, é um processo técnico de codificação e decodificação de uma linguagem.

Entende-se por letramento digital a apropriação da técnica de ler e escrever em meios digitais, assim como o uso social e crítico dessas práticas mediadas por computadores e outros dispositivos eletrônicos.

Letramento digital na escola

O primeiro passo é justamente a escola entender o conceito do letramento digital. Depois que o estudante é alfabetizado digitalmente, sabendo o “beabá” do mundo digital e tendo autonomia, é quando o letramento deve começar a ser trabalhado. É nesse momento que é necessário ensinar e educar as crianças e adolescentes a ter um uso crítico das ferramentas e do seu conteúdo.

“Entendido isso, a escola precisa entender onde implementar. Vai ser em qual fase? Na educação infantil, no fundamental ou no médio? Na minha opinião cabe em todos os segmentos, especialmente porque o mal do século XXI é justamente o excesso de informações. É importante que a escola faça esse debate”, sugeriu Guilherme Camargo, que é CEO do Sejunta – empresa de consultoria em tecnologia educacional.

Ele sugere, por exemplo, que o assunto seja abordado nas disciplinas de Sociologia ou Ética e Cidadania, uma vez que são matérias que já discutem o papel do estudante na sociedade. Dentro disso, o professor pode sugerir a investigação de como o aluno recebe as informações, o que pensa e as ações que adota no mundo digital. E também propor o debate de como o comportamento digital do aluno afeta a sociedade.

Na educação infantil, Camargo sugere que o letramento digital seja usado de maneira preventiva. “A criança já está no digital em casa e lá ela tem acesso a vários conteúdos. Então é preciso ensinar para ela o que é nocivo”, disse.

Para o CEO do Sejunta, trabalhar o letramento digital dentro de sala de aula ajuda a desenvolver o pensamento crítico, que o estudante encontre soluções de problemas complexos e também possibilita autonomia para o aluno.

Guilherme compartilhou dois exercícios que já foram realizados por escolas parceiras do Sejunta. Confira:

  • Uma das ideias é pedir para os alunos criarem um conteúdo (em vídeo, foto ou áudio) e discutir com eles onde ele pode ser compartilhado online e para quem esse conteúdo pode ser enviado. Isso pode ajudar a desenvolver um pensamento crítico sobre o compartilhamento de conteúdos;
  • A outra é escolher um funcionário da escola e dar o nome dele para os alunos. Em seguida, peça para que eles descubram o maior número de informações sobre aquela pessoa sem perguntas para ela. Sabemos que muitas de nossas informações estão disponíveis online e isso pode ajudar a acender um alerta nas crianças sobre a importância do sigilo de dados.

Letramento digital na retomada presencial das aulas

Para além do uso no dia a dia, para que o letramento digital seja uma realidade na vida da criança é preciso que escola e famílias sejam parceiras. Psicanalista, educador e ex-coordenador do Programa um Computador por Aluno, Geraldo Peçanha de Almeida trabalha desde a década de 1990 pela inclusão digital pedagógica na educação brasileira.

Segundo o especialista, desde o milênio passado até o ano de 2020 a família não investiu em tecnologia como recurso didático e pedagógico para a formação dos filhos. Desse modo, se tornou cada vez mais comum o fato dos pais ligarem para escola informando que possuíam notebooks apenas para o home office dos adultos, não restando nenhum equipamento para as crianças assistirem às aulas e/ou fazerem suas atividades.

Além das famílias,  que não investiram na tecnologia como uma ferramenta de aprendizagem, muitas escolas também não fizeram isso, afirma ele. “As escolas começaram a investir em plataformas, em sites, portais, em ferramentas quando já estavam online”. Como consequência, a educação brasileira esbarrou em mais um problema, que é a resistência dos professores às novas tecnologias.

Confira a palestra completa do Dr. Geraldo Peçanha de Almeida e saiba mais sobre “os enredos do ensino híbrido” na educação brasileira:

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No ensino, o modelo híbrido, que foi amplamente adotado pelas escolas durante a pandemia, é uma saída para continuar estimulando o letramento digital dos alunos. Aliado a novas práticas da pedagogia, principalmente as que estimulam o protagonismo do estudante, é possível que a escola ajude ainda mais no desenvolvimento de habilidades e skills tão importantes para o crescimento do estudante.

Na visão de Guilherme Camargo, o ideal é tratar o letramento digital já com a tecnologia. “É possível ensinar sem, mas corre um risco de não preparar 100% os estudantes. É como se eu contasse como se joga bola, sem dar uma bola para eles aprenderem”, disse o CEO do Sejunta.

No momento de retomada do ensino presencial, trabalhar o letramento digital ainda pode ser uma ferramenta para discutir questões sensíveis. “As crianças ficaram isoladas e agora estão tendo novamente a oportunidade de socializar e estão expostas a uma convivência maior com outras crianças. Sabemos que no digital muita coisa ruim acontece, com exposição de conteúdo íntimo, bullying e discurso de ódio. Então a escola precisa adotar, com responsabilidade, a discussão da tecnologia em sala de aula”, avaliou Guilherme Camargo.

Saiba mais!

O professor Dr. Geraldo Peçanha volta a palestrar dentro do evento Conecta, que terá sua edição presencial em 13 de abril. No evento, o especialista vai nos mostrar os caminhos para o futuro da educação, cada vez mais conectada e ilimitada. Confira a programação e garanta já o seu ingresso!

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