7 min de leitura

*Matéria atualizada em 28/07/2022, às 15:00pm

As escolas terminaram o primeiro semestre letivo de 2022 em meio a mais uma alta de casos de Covid-19 no país. Depois de tantas adaptações às atividades presenciais, os colégios voltam a se questionar se novas mudanças são necessárias para uma volta às aulas segura após as férias de julho. 

Para especialistas, a segurança depende apenas da implementação rígida de protocolos já cientificamente comprovados como eficazes para conter a transmissão do vírus. Ou seja, garantir que as salas de aula e espaços escolares sejam bem ventilados, uso de máscaras, monitoramento de casos positivos e suspeitos e boa comunicação com as famílias. 

“Depois de mais de dois anos de pandemia, nós já sabemos quais são as medidas que funcionam para conter o vírus. O problema é que muitas dessas medidas foram relaxadas e flexibilizadas. Se as escolas querem ser ambientes seguros, elas devem seguir de forma rígida o que já sabemos funcionar”, diz a cientista política Lorena Barberia, da USP (Universidade de São Paulo). 

Ela coordena a Rede de Pesquisa Solidária, grupo formado por pesquisadores de diversas instituições acadêmicas do país para monitorar ações de combate à Covid-19 no país. 

Para a volta às aulas com segurança, máscaras ajudam na prevenção

A última nota técnica divulgada pelo grupo identificou que a maioria dos estados e municípios do país relaxou as regras de prevenção à transmissão dos vírus nas escolas. 

Em São Paulo, por exemplo, desde março não é mais obrigatório o uso de máscaras em ambientes fechados, o que inclui as salas de aula. 

Mesmo com o aumento de casos de Covid-19 nas escolas públicas e particulares, o que levou muitas unidades a suspenderam aulas presenciais em algumas turmas ou todo o colégio, o governo manteve apenas a “recomendação” pelo uso das máscaras. 

“Ainda que o uso das máscaras não seja mais exigido pela lei, as escolas devem incentivar que seus alunos continuem usando. Professores e funcionários também devem usar a proteção. Sabemos que essa é a melhor forma de prevenir a circulação do vírus”, diz Lorena.

Recentemente, a Prefeitura de São Paulo publicou uma portaria estabelecendo que as aulas não precisam mais ser suspensas após a confirmação de casos de coronavírus. Por sua vez, a Fiocruz divulgou uma nota reforçando a importância de manter as aulas presenciais, mesmo diante do cenário que ainda é pandêmico.

Como construir um ambiente escolar de cuidado e reparação

Ambientes bem ventilados e áreas externas são mais seguras

Ela também destaca que, para a volta às aulas com segurança, as escolas podem continuar com estratégias que adotaram logo após o retorno presencial das aulas, com atividades em ambientes externos e abertos para garantir maior distanciamento entre os alunos. 

Doutora em saúde coletiva, Alexandra Boing, especialista em epidemiologia, lembra que as escolas devem continuar priorizando a ventilação natural dentro das salas de aula ao invés do uso de ar condicionado. Ela diz que medidores de CO2 (gás carbônico) podem auxiliar as unidades a identificar ambientes em que a circulação de ar não está adequada. 

Esses medidores se tornaram obrigatórios em escolas de diversos países, como nos Estados Unidos, Alemanha e Bélgica. O aparelho ajuda a calcular a  quantidade de CO2 em um ambiente fechado vindo da exalação das pessoas que estão lá dentro. Um ambiente com um nível de gás carbônico acima de 1.000 ppm seria considerado de maior risco.

Incentivo à vacinação contribuiu para a volta às aulas com segurança

As pesquisadoras destacam também que, quanto maior a cobertura vacinal entre a comunidade escolar, mais seguro aquele ambiente se torna. Por isso, recomendam que as escolas incentivem e tenham um controle de quantos dos seus alunos e funcionários estão com as vacinas contra a Covid-19 em dia. 

“Ainda que a maioria dos estados não tenha leis para que o comprovante de vacina seja exigido nas escolas, as unidades podem e devem pedir para que os pais o apresente. A vacina não é só uma proteção individual, mas garante a segurança coletiva”, diz Lorena.

Elas dizem que, ao pedir a apresentação do comprovante de vacina, as escolas poderão identificar quais famílias ainda não vacinaram seus filhos. Assim, podem fazer conversas e ações de conscientização sobre a importância da imunização.

Monitoramento e rastreamento

Para as especialistas, é importante que as escolas continuem atentas e com monitoramento contínuo de casos positivos de Covid-19 entre os seus alunos e funcionários para evitar surtos e deixar segura a volta às aulas.

“Mesmo com todos os protocolos de segurança, as escolas devem manter um plano de monitoramento e rastreamento quando houver o registro de casos positivos. É importante, por exemplo, identificar quantas pessoas tiveram contato com alguém que se infectou. Também é importante saber qual foi a circunstância desse contato, se elas estavam de máscara, por quanto tempo, etc”, diz Alexandra.

Segundo ela, o rastreamento vai evitar que as escolas tenham que tomar a difícil decisão de interromper aulas presenciais para uma turma ou todo o colégio. “Ao identificar rapidamente quem teve contato e testar, vai garantir a segurança de toda a comunidade escolar.”

Comunicação com as famílias

Elas ressaltam a importância de manter um diálogo próximo e constante com as famílias para lembrá-las sobre os protocolos de segurança e a importância de que não mandem os filhos para a escola quando estiverem com sintomas de doenças respiratórias.

“A segurança depende também da parceria e responsabilidade dos pais. Os sintomas não podem ser ignorados para não colocar os demais em risco. Uma criança com febre, coriza e outros sintomas deve ficar em casa”, diz Alexandra. 

A transparência também é importante para que os pais confiem na escola. As especialistas dizem que não se deve esconder casos positivos e suspeitos das famílias. 

“Os casos vão acontecer. Isso não necessariamente significa que o protocolo não é seguro. Esconder informações pode ser pior porque cria um clima de desconfiança. O melhor é manter todos informados”, diz Lorena.

6 orientações oficiais para a volta às aulas 2022 com segurança

Ainda que as orientações de órgãos oficiais nacionais tenham se tornado mais flexíveis nos últimos meses, as especialistas destacam que as escolas podem se guiar por documentos de órgãos internacionais, como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). 

As orientações da Unicef, por exemplo, ressaltam como ações importantes de prevenção:

  1. Transferir as aulas para o ar livre ou ventilar as salas o máximo possível;
  2. Ao menos uma vez por dia, limpar e desinfetar as instalações da instituição;
  3. Estudantes e funcionários doentes ou com sintomas não devem ir à escola;
  4. Atualize ou elabore planos de contingência e emergência para a escola;
  5. Busque integrar a prevenção e o controle da doença a atividades diárias e a disciplinas;
  6. Trabalhe com as equipes de saúde para tomar decisões quando houver casos positivos ou surtos de Covid na escola;

 

Confira também:
Saiba 3 atitudes fundamentais para a educação pós-pandemia