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“A ida à escola é um processo de crescimento da criança, de ampliação psíquica, de abertura, de convívio com a pluralidade”. Foi com essa frase que Viviane Mosé, doutora em filosofia, especialista em políticas públicas, poeta e psicanalista, deu início a entrevista exclusiva ao Escolas Exponenciais, afirmando ser contra a regulamentação do ensino domiciliar.

Também conhecido como homeschooling, o projeto de lei que autoriza a educação domiciliar foi aprovado pela Câmara dos Deputados e, agora, a proposta ainda precisa ser analisada pelo Senado. Atualmente, a prática não é permitida no país.

“As crianças nascem em um ambiente familiar em valores específicos dos seus pais, da sua casa. Mas é importante que essa criança conheça outros mundos, para que ela possa relativizar a perspectiva que ela tem em casa”, afirma.

Viviane Mosé destaca que, nem todo ambiente de valores em que nasce uma criança é um local benéfico para ela. “A gente conhece casos, que não são poucos, de crianças que são humilhadas em suas famílias, moralmente, sexualmente, exploradas comercialmente, especialmente em um país com uma desigualdade social como tem o Brasil”, pontua.

Frequentar uma escola, desde a educação infantil, é importante para a manutenção da saúde física e psíquica das crianças, conforme afirma a profissional.

 

“A ida à escola é um processo de crescimento da criança”, afirma Viviane Mosé
“A ida à escola é um processo de crescimento da criança”, afirma Viviane Mosé

Casos de exceção para o ensino domiciliar

 

Segundo Viviane Mosé, alguns casos familiares são uma exceção e, então, a educação domiciliar poderia ser uma alternativa nessas situações.

Um exemplo são os pais que trabalham em situação de mobilidade e os filhos acabam perdendo a continuidade da educação na instituição de ensino.

“Nesses casos, seria necessário um monitoramento das famílias para garantir que essa educação esteja sendo dada, já que a educação é um direito da criança”, reforça.

 

Drauzio Varella também reprovação regulamentação

 

Para que deixar a criança na sua casa? Sem convívio com as outras crianças, o que é absolutamente fundamental”, questiona o médico Drauzio Varella.

Ao Escolas Exponenciais, Drauzio afirmou acreditar que o homeschooling pode prejudicar ainda mais a saúde emocional das crianças e adolescentes. “Eu não consigo entender esse tipo de ensino, para mim é um equívoco grave”, ressalta.

O médico elogia a diversidade de profissionais de uma instituição de ensino e, para ele, essa variedade contribui para um melhor processo de ensino e aprendizagem.

 “Você pode ser professor de física e dar aulas de física maravilhosas, mas não vai ter o contato com a diversidade de professores, com um dá aula de química, outro de português, outro artes. Como você vai fazer isso em casa? Encontrar alguém que tenha todo esse preparo?”, reflete.

Drauzio também destaca a importância do convívio social, proporcionado pelas escolas. “Isso é uma forma de tirar a liberdade da criança. Manter em casa um filho, o tempo inteiro, sem conviver com outras crianças, não vai dar coisa boa isso”, afirma.

Quem também defende esse argumento é a Fenep (Federação Nacional das Escolas Particulares).

“Lugar de criança é na escola, pois é lá que se aprende a conviver e está entre seus iguais. Aprende que existem crianças diferentes, com outros valores, com outra formação, e isto ajuda em seu crescimento enquanto indivíduo. Na escola, as crianças aprendem que existe a diversidade, que o mundo não se resume à sua família. Tirar a escola da criança é privá-la de uma formação completa”, traz a nota divulgada pela entidade.