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Conforme apontam notas técnicas da Rede de Pesquisa Solidária (RPS), a educação foi uma das áreas mais afetadas pelas políticas de contenção da pandemia entre 2020 e 2022. Segundo os pesquisadores, faltou coordenação do Governo Federal para Estados e municípios em relação à condução das políticas para minorar os efeitos da pandemia. 

Causas

O doutorando do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e pesquisador da RPS, Luiz Guilherme Cantarelli, afirma, em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, que a qualidade dos protocolos de ensino remoto e retorno presencial variou muito entre Estados e capitais.

Isso é resultado da falta de coordenação do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde em fornecer recursos e ferramentas para que essa qualidade pudesse ser oferecida da melhor forma, além de estabelecer padrões mínimos e fiscalizar a garantia do crescimento de uma educação de qualidade em um contexto de pandemia. 

“Os estados tinham condições de fazer investimentos para manter no mesmo patamar os gastos em educação anteriores à pandemia, e não foi o que se observou. Teve muito corte na educação, ela não foi uma prioridade”, expõe Cantarelli. 

A professora Alexandra Boing, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), também pesquisadora da RPS, destaca ainda as diferenças referentes às medidas sanitárias na educação: “As capitais apresentaram uma maior flexibilização, por exemplo, em medida de testagem. Em relação ao uso das máscaras, o número de municípios que estavam utilizando e indicando modelos, por exemplo, o da Pff2, continua ainda em um nível muito baixo”.  Ela também cita o monitoramento da qualidade do ar, o qual não foi adotado em nenhuma das 26 cidades analisadas. 

A professora frisa a importância da Política Nacional de Vigilância, a qual orienta o modelo de atenção em saúde é de responsabilidade exclusiva do poder público: “Pela falta de uma coordenação nacional, não tem dados, por exemplo, dos surtos nas escolas, a gente não sabe qual é esse impacto”.  

Ela complementa: “Tinha uma disseminação no início da pandemia de que as crianças dificilmente eram infectadas pelo SARS-Cov-2. Depois, os estudos começaram a mostrar que as crianças e os adolescentes eram, sim, susceptíveis a infecção e que também transmitiam. Mas, mesmo assim, isso tudo foi minimizado”. 

Contenção do risco na educação

“Os surtos são uma evidência de que as escolas ainda são um local de muito risco, muitos lugares acabam tendo que cessar as aulas. Caberia uma preocupação, até mesmo para poder garantir a continuidade das aulas e normalidade”, opina Cantarelli.

Para o pesquisador, a atuação do Governo Federal ainda se faz necessária para definir patamares mínimos de cuidado com a garantia da saúde e da educação no ambiente escolar. A preocupação com as máscaras também deve ser retomada. 

Alexandra enxerga que as atividades ao ar livre devem ser priorizadas nos espaços escolares, além do monitoramento da qualidade do ar: “A gente entra em um ambiente achando que uma janela e uma porta aberta é suficiente, já se considera um ambiente arejado, ventilado. E, muitas vezes, a abertura de uma janela ou de uma porta não faz trocas de ar suficientes para que o ambiente seja realmente seguro”. 

Fonte: Jornal da USP