Em 2022, as escolas do País têm o desafio de implantar o Novo Ensino Médio, que amplia o tempo mínimo do estudante na escola e pretende tornar o ensino médio mais flexível. A partir de agora, o aluno terá um aumento do tempo mínimo de permanência na escola: de 800 horas para mil horas anuais até 2022. Outra grande mudança é que além da formação comum, uma parcela do currículo será flexível, os chamados itinerários formativos.
Diante das mudanças propostas na formação desses estudantes, previstas por lei, é comum que os gestores ainda tenham dúvidas de como o Novo Ensino Médio vai afetar a rotina das escolas.
“São mudanças mais estruturais que afetam tanto o plano dos custos como no plano da própria organização pedagógica”, resume a diretora pedagógica da Somos Educação, Tania Fontolan.
Entenda o “espírito da lei”
Para a especialista, o gestor precisa entender o “espírito da lei” que instituiu as mudanças no Ensino Médio, que vem ao encontro de compreender que o que era oferecido até então era desestimulante para boa parte dos alunos. “O aluno ficava os três anos na escola e fim, numa formação que não o preparava para o mercado de trabalho e não digo isso sob o aspecto técnico. Mas sim em fazer com que o aluno construa pontes entre aquilo que aprendeu para como ele vai aplicar”, explica.
Dentre as 3 mil horas obrigatórias, 60% devem ser dedicadas à formação comum e as demais 1,2 mil horas são parcela flexível do currículo. A formação geral básica obrigatória é essencial para dar um “background” de cultura geral para o estudante. “Se você também não tem uma base de conhecimento, você não consegue entender e interpretar o mundo”, diz. “Precisamos entender as coisas para não repetir o senso comum”.
O gestor tem que levar em consideração que não pode oferecer “mais do mesmo” e Tania Fontolan afirma que as disciplinas eletivas devem permitir um aprofundamento numa determinada área de interesse, criando engajamento desses alunos.
“A matéria deve ter vinculações com a vida real, ou seja, não é a matemática pela matemática. Mas é a matemática às vezes vista num curso articulado com a matemática financeira”, exemplifica.
Equilibrando os Custos do Novo Ensino Médio
O Ensino Médio oficializou um aumento de carga horária, de 2.400 para, no mínimo, 3.000 horas. Parte das aulas será comum a todos os estudantes do país, direcionada pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
Na outra parte da formação, os próprios alunos poderão escolher um itinerário para aprofundar o aprendizado. Entre as opções está dar ênfase, por exemplo, às áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ao ensino técnico. A oferta de itinerários vai depender da capacidade das redes de ensino e das escolas.
“Então escolas que trabalhavam, porventura, com 4 horas diárias tem que migrar para 5 horas para conseguir cumprir as 3 mil horas ao longo de três anos, e isso significa um aumento de custo importante”, ressaltou Tania.
Outro ponto que vai gerar custo é os itinerários formativos, já que a escola tem que desenhar um currículo com no mínimo duas opções. “Quando você divide a turma em dois, vai ter um aumento de custo, porque é como se você oferecesse duas opções simultâneas, ainda que você possa ter alunos do primeiro e do segundo ano na mesma turma”, disse.
Uma das soluções que pode aliviar custos é oferecer parte da grade a distância, aliando com a ideia de preparar o aluno para a vida real. “Hoje temos que resolver várias coisas online, então utilizar ferramentas digitais como meio e também como conteúdo é preparar esses alunos para vida real. Já fazíamos muitas coisas online, mas a pandemia fez isso crescer. Vai ser maior a quantidade de vezes onde teremos reuniões online e outras atividades”, disse.
Tania ressalta que é de extrema importância que o gestor avalie esses custos na ponta do lápis e, se necessário, faça os ajustes na mensalidade para a próxima campanha de matrícula.
Atualização metodológica dos professores
Outra questão que precisa ser levada em consideração pelo gestor escolar para a aplicação do Novo Ensino Médio é deixar para trás o viés academicista e burocrático, abraçando uma formação humana e engajadora.
O gestor precisa abandonar a visão de que o ensino é formado por “caixinhas de conhecimento”, alerta a diretora pedagógica da Somos Educação. “O aluno não pode ter o conhecimento acondicionado em caixas, onde uma é para escola, outra para as provas e outra para a vida”, disse.
Por isso, ela explica, que o Novo Ensino Médio necessariamente vai implicar numa atualização metodológica do professor.
“De nada adiantará um itinerário formativo cujo eixo é super interessante se ele for trabalhado numa perspectiva de aula expositiva, porque aí eu só tô trocando a Revolução Francesa por um por algo que só aparente ser mais ‘sexy’”, brincou. “Não podemos ter um professor que só vai expondo o conteúdo. O itinerário formativo requer essa ponte com o mundo real e uma metodologia que estimula a autonomia dos alunos. Ele precisa ser capaz de investigar e fazer conexões e descobertas por si próprio”, diz.
E nesse quesito, também é papel do gestor fornecer essa atualização para o professor, por meio da formação continuada desses profissionais. “O gestor tem que oferecer condições e cobrar a atualização dos docentes.
“Apesar de ter que cobrar, o gestor também tem que entender que essa atualização não se faz do dia para noite. Posso ter um professor que é ‘o rei’ das aulas expositivas e eu não posso esperar que ele vá conseguir mudar rapidamente sua metodologia”, avalia a especialista.
O gestor precisa ser um operador da transição, avaliando o corpo docente e entendendo qual profissional pode se dar melhor em cada posição. Uma das dicas de Tania Fontolan é que o gestor, ao fim do primeiro semestre, sente com todos seus profissionais, discuta e reavalie o que seja necessário sempre levando em consideração o “espírito da lei”. “O itinerário formativo precisa articular essa ponte com o mundo real e ter uma metodologia atualizada para que o aluno atue com protagonismo“, resume Tania.
Com isso, a avaliação também precisa passar por mudanças e ser qualitativa. “O professor tem que considerar o processo de atuação dos alunos na avaliação. Às vezes foi um trabalho colaborativo, então ele precisa entender como foi a atuação desse menino, ele não fez por preguiça ou porque dois alunos do grupo chamaram a responsabilidade para si?”, disse a especialista.
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