O que os pais esperam da escola: qual a expectativa dessa parceria?
Em busca de atender às expectativas de seus clientes de forma mais assertiva, há dois anos a Escola Projeto Vida, de São Paulo, deu voz ativa aos pais dos alunos em posições centrais do colégio: na comunicação e no atendimento às novas famílias. Desde o início de 2018, a apresentação do colégio aos visitantes interessados em matricular seus filhos, por exemplo, passou a ser feita pela mãe de um dos estudantes, que tem a oportunidade de conversar diretamente com eles e apontar sua própria percepção acerca do trabalho desempenhado pela escola.
O planejamento de conteúdo do site da instituição também foi protagonizado pelos pais. Foram eles que elegeram quais informações consideram mais relevantes e que elencaram as principais perguntas que gostariam que fossem respondidas pela escola.
“Foi uma oportunidade sensacional de olhar com outros olhos. De olhar efetivamente o que o nosso cliente quer”, avalia a diretora Monica Padroni. Como reflexo, o colégio está conseguindo criar relações mais próximas e afetivas com pais e alunos e assegurando uma comunicação mais eficiente e bem direcionada.
As iniciativas adotadas pelo Projeto Vida nasceram da necessidade de mostrar às famílias que a escola está disposta a ouvir e a buscar alternativas para responder suas demandas sem deixar de lado, porém, os valores que a rege. Em uma era de pais e alunos cada vez mais exigentes e conectados, considerar o que eles buscam em uma escola e balizar essas expectativas com o DNA da instituição é um dos caminhos mais eficientes para conquistar um crescimento exponencial. Mas, como descobrir o que as famílias esperam das escolas?
[rock-convert-pdf id=”1009″]Pesquisa
Para ajudar os colégios privados a responderem essa pergunta, a ClassApp realizou uma pesquisa inédita, no ano passado, envolvendo 27 mil pais de unidades educacionais de todo país. Os resultados mostraram que o cuidado e atenção pessoal com o filho é o quesito mais valorizado pelas famílias quando buscam uma escola. Por outro lado, ter professores desqualificados e dar tratamento impessoal para os alunos são os principais pontos de desgaste na relação família-escola.
O estudo serviu de base para uma das discussões no “ClassUP – Escolas Exponenciais”, que trouxe à tona exemplos de como alguns colégios trabalham as respostas às necessidades elencadas pelas famílias. Na opinião de Monica, os resultados da pesquisa apontam para um debate pertinente à gestão escolar hoje, que é encontrar o ponto de equilíbrio entre o pedido de atenção personalizada por parte das famílias e o caráter coletivo inerente à essência da escola.
“Dos cinco principais motivos apontados pela pesquisa como referências para os pais escolherem um colégio, três falam da relação interpessoal. Então, acho que fica evidente que o fator humano ainda é aquele que pesa fundamentalmente numa escola. Para superar isso, precisamos entender o que é verdadeiramente importante para esse público que nos procura. Identificar quem são essas pessoas e o que elas pensam para, assim, ter a oportunidade de partilhar nossas convicções e valores. Uma coisa é atraí-los, outra é mantê-los”, destacou Monica.
Mais tempo na escola
Na opinião de Samerson Marques, mantenedor e diretor geral do Colégio Canello Marques (SP), a maior austeridade dos pais frente à escola na atualidade pode ser explicada pelo aumento de horas que os filhos permanecem na instituição.
“As famílias de hoje, com pais e mães no mercado de trabalho, às vezes com dois empregos para complementar a renda, tem expedientes de trabalho mais desgastantes. Isso gera a necessidade de manter os filhos em escolas de período integral, o que tornam essas famílias mais rigorosas quanto à atuação da escola”, availa.
Para ele, a exigência de que a instituição acompanhe de forma direta o cotidiano dos estudantes é tão grande que uma simples lição ou atividade que os alunos levam para casa viram motivos para questionamentos quanto ao que esperar da escola .“Nas classes de período integral, o aluno pode fazer a lição de casa com o acompanhamento do professor, mas, vez ou outra, acontece alguma coisa e eles acabam indo para casa sem que a tarefa tenha sido finalizada. Aí vem aqueles questionamentos dos pais dizendo que a escola havia dito que ele teria um espaço para fazer a lição lá e tal. Ou seja, vemos que, às vezes, existe essa questão dos pais acabarem deixando para a escola toda aquela carga, já que eles passam o dia trabalhando e quando chegam em casa querem ter tudo concluído”, apontou.
Em casos como esse, Samerson defende que a escola deve estar vigilante para que as cobranças dos pais não se excedam e ela acabe assumindo papéis que não estão em sua competência.
“A participação da família é necessária. Por mais que o aluno passe oito horas dentro da escola, em alguns casos até mais, é fundamental esse contato e esse trabalho por parte da família também em casa. Afinal, ela é a responsável final pela educação daquela criança”, ressaltou.
Na avaliação de Monica, uma forma de evoluir nesse impasse é investir em um trabalho de formação também dos pais reforçando, sempre que possível, a proposta de formação e o modelo de condução da instituição. “Em uma cidade em que as coisas são muito rápidas, como em São Paulo, por exemplo, e que tudo tem que ser rápido, a escola é aquela instituição que fala: calma, a gente precisa de tempo. Precisa escutar as pessoas. Então, a escola vai um pouco na contramão desse movimento intenso onde o pai quer aquela resposta “na hora”, senão ele vai tirar da escola. Por isso, é preciso ensinar para aquela família como é que a escola lida com as questões, alinhar com a equipe essa visão institucional e ter coerência de ação em todas as áreas do colégio”, explanou.
Quer saber todos os diferenciais que os pais mais valorizam em uma escola? Confira a nossa pesquisa completa.
Comunicação como estratégia
Creditar à comunicação uma posição estratégia e central no processo de harmonizar a expectativa dos pais versus o projeto da instituição tem sido um dos segredos do sucesso das experiências do Projeto Vida, segundo sua diretora. Ela conta que, quando a escola fazia um trabalho externo de comunicação, a sensação das famílias e da própria equipe era de um diálogo truncado e até mesmo falso. Para reverter esse quadro, o colégio decidiu investir em uma gestão mais democrática, dando maior abertura para participação dos pais e alunos. E daí, vieram as ideias para colocar as famílias à frente da apresentação da escola e como curadoras de conteúdo do site, citadas no início da reportagem.
“E sou de uma geração, onde a gente tinha um certo receio e pensava: isso aqui é da escola e não dos pais. E tentávamos manter essas distâncias. Mas, conforme a gente estuda as influências de uma pedagogia mais participativa da comunidade, a gente vê que pode haver uma maleabilidade maior no sentido de mostrar às famílias que, quando a gente faz uma escola bacana, a gente não tem o que esconder. Muito pelo contrário! E, avante nesse sentido, percebemos que quem tem que falar é quem realmente vive o coração da escola e, por isso, decidimos criar um grupo com a participação de pais – o que mudou completamente a nossa relação com a comunicação”, relatou.
Outra medida em prol da fidelização e aproximação com os pais, que surtiu efeito no Projeto Vida, foi deixar os professores semanalmente à disposição para conversar sobre o desempenho dos alunos – eliminando, assim, a necessidade deles aguardarem a reunião oficial para tirar dúvidas.
“Desta forma, você cria efetivamente um canal de comunicação e formação, Mas para fazer isso, é preciso ter professores afinados com a sua proposta pedagógica. Aí entramos no quarto ponto apresentado pela Pesquisa da ClassApp, que é exigência da qualificação dos professores, que, com certeza, é um fator extremamente estratégico dentro de qualquer escola”, afirmou.
Pesquisas de opinião
No caminho de aproximar e de melhor compreender como pensam os pais, o Colégio Canello Marques aposta na aplicação de pesquisas de opinião. Feitas anualmente, o estudo serve como base não apenas para medir a satisfação das famílias, mas também para ajustar permanentemente as rotas de atuação da instituição. Contendo aproximadamente 50 perguntas, o questionário é aplicado sempre no segundo semestre e enviado tanto para os pais e como para a equipe interna.
Segundo Marques, é a partir dos resultados da pesquisa que a direção começa a definir quais serão as estratégias para o próximo ano, que vão desde possíveis mudanças ou reformas em sua infraestrutura, até à necessidade de novas contratações. Além disso, o colégio também realiza pesquisas menores, após a realização de cada evento, para analisar o que pode ser melhorado nas edições seguintes.
“Entendemos que esta é uma forma muito interessante porque a gente vai conseguindo fechar esses pequenos gargalos e pontos de explosão nos quais a gente pode ter problemas no futuro. E ouvindo os pais pelas pesquisas, vamos resolvendo durante a jornada e, desta forma, atenuando os pontos mais críticos”, comentou Marques. Para a diretora do Projeto Vida – que também é adepto do uso de pesquisas de opinião- o mais importante é justamente querer escutar e gerar um plano de ação ou uma intervenção prática, a partir do que foi averiguado no questionário.
Confira também todos os pontos que geram desgaste na relação escola-família na visão dos pais.
Reuniões presencial de pais: alternativas inspiradoras
Um dos pontos levantados por ambos diretores durante o ClassUP foi a dificuldade de adaptar a clássica reunião presencial de pais – fundamental para consolidar a parceria escola-família -, à realidade contemporânea. Enquanto no passado esses encontros conseguiam uma audiência e participação efetiva, hoje as reuniões não conseguem ter o mesmo êxito. Como forma de trazer alternativas à resolução deste desafio, alguns colégios que estavam no evento compartilharam suas estratégias. Confira:
Vídeo como alternativa:
No Canello Marques, desde o ano passado, a direção está testando um sistema de vídeo com o conteúdo das reuniões mais genéricas como forma de fazer as informações chegarem aos pais. “Transformamos toda a reunião inicial de ano, feita depois da primeira semana de aula, em vídeo. Filmamos vários pontos dentro da escola, o que, inclusive, foi até melhor para exemplificar alguns acontecimentos, e colocamos no nosso canal do YouTube. Fizemos um disparo do link do vídeo, por meio do ClassApp, e a recepção dos pais foi muito boa. Eles agradeceram essa preocupação que tivemos com o tempo deles. E já estamos planejando fazer o mesmo para os conteúdos mais gerais das próximas reuniões”, contou.
Alunos protagonistas:
No Colégio Fernão Gaivota – Maple Bear Alphaville, em Santana de Parnaíba (SP), bimestralmente, são os alunos que tomam a frente das atividades e assumem a função de protagonistas na hora de apresentarem um balanço do que foi realizado no período. Eles organizam o material e fazem o acolhimento dos pais, que são convidados previamente a permanecerem no colégio uma hora a mais após a entrada dos estudantes para conhecerem de perto os principais resultados obtidos pelos filhos. Maior adesão e engajamento são alguns dos legados da ação, realizada há três anos na unidade.
Pais imersos nas atividades:
No Sesi de Porto Alegre (RS), que possui 800 alunos, dinamismo é palavra de ordem. Com uma proposta imersiva, na qual os pais tornam-se um pouco alunos, a escola antecipa o cronograma a ser explorado pelos estudantes naquele mês e pede que os pais elaborem atividades de forma prática já durante a reunião, utilizando os recursos disponíveis nas salas ambientes da escola. Se o tema futuro será robótica, por exemplo, eles são os primeiros a trabalharem com ela. Se as obras literárias de Shakespeare ganharão destaque, eles são instigados a ler sobre o autor e a interagir com o filho, e assim por diante. Segundo a direção, a didática trouxe resultados animadores: a escola conseguiu alcançar a tão desejada adesão de 100% de mães – e até aumentar a presença dos pais – nas reuniões de classe.
Flexibilidade de horários:
Já no Colégio Renovação, de São Paulo, que mantém ao todo 1.400 alunos, o desafio era construir uma estratégia eficaz para atrair a participação de pais de alunos do Ensino Médio às reuniões. Ao notar que a frequência era quase nula, a escola decidiu apostar no método “Líder em mim”, de Stephen Covey, para conduzir as atividades, propondo reuniões individuais, por ordem de chegada, e em horário noturno, das 18h às 20h30, oferecendo maior flexibilidade à concorrida agenda dos pais e conquistando a marca de 90% de adesão.
Bônus:
Confira mais 6 dicas para tornar a reunião de pais um sucesso
E no seu colégio, quais têm sido as experiências mais interessantes para aproximar os pais e atender suas expectativas? Deixe seu comentário abaixo. Sua história pode inspirar outras escolas a melhorarem sua relação com a comunidade escolar!