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Muito especula-se sobre o “novo normal”, ou seja, sobre como será o mundo em um cenário pós-pandemia. Mas, qualquer tentativa de prever o futuro é tão incerta quanto o momento que estamos vivendo agora. Porém, das poucas coisas que podemos afirmar que serão diferentes daqui em diante é que, as escolas que conhecíamos ano passado, já não são mais as mesmas em 2020 e estarão ainda mais diferentes em 2021. 

“O fato é que está todo mundo nesse barco, está todo mundo nessa história, nesse grande experimento, nessa grande bagunça chamada 2020”, diz Arthur Igreja, palestrante e co-fundador da plataforma AAA. Embora, à primeira vista, essa frase soe com um forte tom de desalento, Arthur  faz questão de lembrar também o quanto esse ano tem impulsionado mudanças que, apesar de todo o caos, tem dado novas oportunidades para inovação em todos os ramos de negócios. “A gente vai tentar extrair lições desse momento, a gente vai descobrir que talvez 2020 era exatamente o que a gente precisava […] para fazer as coisas diferentes”.

Para Arthur, as escolas que já acompanhavam as tendências digitais, discutiam o ensino híbrido e mantinham uma boa comunicação com os pais são as instituições que, de fato, souberam transformar a crise em oportunidade e, por isso, estão no “primeiro pelotão”, como ele descreve.

 

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No segundo pelotão, contextualiza, se encontram os stakeholders do sistema escolar. Nesse quadro encontram-se também gestores e professores que foram dos profissionais mais desafiados neste processo, tendo em vista que precisaram repensar suas práticas pedagógicas em um espaço de tempo bem pequeno. Em contrapartida, eles tiveram a oportunidade de se aprimorarem e desenvolverem novas habilidades tecnológicas.

Para descrever o terceiro grupo, o palestrante faz uma alusão ao poeta Fernando Pessoa, que disse: “O homem é um cadáver adiado”. Para ele, estão neste grupo as escolas, e demais tipos de negócios, que estavam totalmente desconectadas do mundo digital, não souberam se reinventar e, consequentemente, estão mais susceptíveis a não sobreviverem pós pandemia. 

 

Quebra de paradigmas

Um dos maiores desafios impostos pela pandemia à educação foi, e ainda é, o ensino-aprendizado mediado pela tecnologia. Contudo, isso oportunizou uma mudança na relação entre professores e alunos, de modo que enfraqueceu um modelo de educação tradicional: o professor como detentor de todo conhecimento.

Essa é uma narrativa que não cabe mais no contexto da Educação 4.0. Como explica Arthur, o modelo de ensino online quebra a estrutura de poder na sala de aula e o estudante, antes tímido e com vergonha de tirar dúvidas, agora vê o professor como mais um “nick” de uma sala de bate-papo.

Ele, que também é professor, afirma que essa postura tradicional é assustadora, principalmente para uma criança: “O professor está em um tablado mais alto, ele é maior fisicamente, cria essa associação, a gente esquece disso. Mas quando você é criança parece que todo mundo é gigante, todo mundo parece meio assustador, você quebra isso”, comenta.

Uma das grandes preocupações dos gestores e professores era como levar os alunos para o digital, explicar como funciona essa dinâmica de estudar online. Mas acontece que os alunos já estavam lá. Esta é uma geração digital! Então, talvez quem mais precisou se adaptar ao ambiente digital foram eles, professores e gestores.

 

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Novos caminhos

O relacionamento entre a escola e os pais também passou por mudanças. Afinal, com as crianças em casa, os pais tornam-se mais ativos no processo de ensino-aprendizado.

“Não vai ser simplesmente “viu, me entrega um gênio, me entrega uma pessoa que vai dar certo na vida, eu estou te pagando”, porque alguns pais encaram a escola como um processo industrial, pago na entrada e coleto um produto na saída”, explica Arthur.

Essa nova relação deve ser baseada, principalmente, na cooperação entre as duas parte. Cabe à escola também ouvir aos pais, entender os dilemas que eles têm em casa, entender as restrições e as dificuldades.

Para finalizar, o co-fundador da AAA e especialista em tecnologia e informação, ressalta que o ensino ensino presencial e os métodos utilizados pouco se modernizaram. Com isso, nos acostumamos com um único caminho, mas agora é o momento oportuno de explorar outros.

“A gente faz o mesmo trajeto, e 2020 tem que ser uma hora de explorar uma segunda estrada […] mas mesmo com vacina, nós não sairemos iguais a como nós éramos em 2019, justamente por ter passado por esse processo de mudança, e se tem uma coisa boa a respeito de processos de mudança, é que elas se aceleram nos momentos de restrição”.

 

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