Aprendizagem colaborativa e ensino a distância – tendências da educação
Tão importante quanto a resposta é o caminho percorrido até chegar nela. A aprendizagem colaborativa contempla a importância desse processo em uma proposta que valoriza a interação, diálogo e cooperação em torno de um assunto ou problema, valendo-se da interface com metodologias interativas no relacionamento horizontal entre alunos e professores.
A metodologia, no entanto, não se resume a atividades em grupo ou acompanhamento próximo por parte do docente. “É, na verdade, um processo de ensino e aprendizagem que ocorre necessariamente por meio do compartilhamento e discussão de ideias. Isso quer dizer que o aprendizado de um é parte fundamental do percurso de aprendizagem do outro, com ganhos mútuos”, pondera a professora doutora Lilian Costa, que também é Supervisora Pedagógica do Núcleo de Educação a Distância (NEaD) da Universidade São Francisco.
“Nessa interação todos aprendam, com cada um fazendo aportes a partir de sua realidade, vivência, experiência e também do campo teórico no qual eles pesquisam”, avalia Luciano Sathlel, PhD em Administração pela FEA/USP e membro do Comitê de Qualidade e do Comitê Científico da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED).
As metodologias interativas já fazem parte do cotidiano dos alunos de diversas maneiras. A internet é um campo inesgotável de recursos para aulas, com sites, plataformas de vídeos, aplicativos ou ainda ambientes desenvolvidos de modo personalizado por instituições de ensino, principalmente no ensino superior.
Confira o papel do professor diante das novas tecnologias no processo educativo
Que tal dar um passeio pelo Museu do Louvre em Paris durante a aula de artes, ou ainda, ver como funciona um coração? Através do Aplicativo Expeditions (Google) é possível ter experiências em realidade aumentada e virtual apenas com um smartphone e o Google CardBoard – óculos de papelão que podem ser feitos artesanalmente a partir de molde. São mais de 800 experiências de realidade virtual e 100 de realidade aumentada.
Já com o GoCongr dá para criar conteúdo como mapas mentais, quizzes, flashcards, notas e fluxogramas, além de biblioteca online para os usuários cadastrados – dinamizando a possibilidade de interação.
Cesar Ferenc, Coordenador Operacional de Tecnologias Educacionais da PUC-PR conta que o primeiro protótipo de plataforma online de aprendizagem da instituição foi desenvolvido em uma parceria entre Siemens e PUCPR.
Na segunda fase o sistema passou a ser mantido e desenvolvido apenas pela PUCPR com o nome de Blackboard. “Ele foi implantado gradativamente nas escolas ao longo dos anos seguintes. Hoje temos o Blackboard implantado para Graduação Presencial, Graduação Online (EAD e Semipresencial), TECPUC, Especialização, Extensão e em 2020 está sendo integrado Mestrado e Doutorado ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)”.
A assessora educacional da PUCPR, Cinthia Spricigo, conta que a adesão dos alunos ao ambiente virtual é de 100%, já que está inserida no cotidiano dos estudantes, pois todas as disciplinas têm atividades não presenciais.
BNCC e a aprendizagem colaborativa
A Base Nacional Comum Curricular ao estabelecer as competências gerais da educação básica enfatiza o uso de diferentes linguagens (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
O uso de tecnologias digitais de informação e comunicação é também uma competência da BNCC, que deve ser usada para comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
A tendência é que o ensino adote um formato híbrido: presencial e a distância, com cada vez mais uso do ambiente virtual. Segundo a ABED, boa parte dessa tendência está na abertura realizada através da Lei 13.145 de 2017 que regulamentou a reforma do Ensino Médio e do Decreto nº 9.057 de 2017 que autorizou a oferta online.
Lilian lembra que já existem instituições de Ensino Fundamental e Médio que valorizam abordagens híbridas de ensino. Um exemplo é o uso da “sala de aula invertida”, metodologia em que o professor indica as fontes para estudo teórico a ser realizado em casa e, posteriormente, na sala de aula, onde ocorre a aplicação dos conceitos abordados, com atividades práticas individuais e em grupos.
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No Brasil, são 7,9 milhões de alunos matriculados em 28,5 mil instituições de ensino, segundo último Censo do IBGE. Atualmente a legislação permite que 20% da carga horária obrigatória do ensino médio diurno possa ser cumprida a distância. No período noturno é permitido 30% e na Educação de Jovens e Adultos 80% das aulas podem ser online.
Para Sathler, a educação a distância no Ensino Médio é uma realidade que será cada vez mais presente no cotidiano das escolas públicas e privadas. “Quando a educação a distância é bem feita, privilegia a personalização das relações de ensino e aprendizagem, além de respeitar o ritmo, disponibilidade de tempo e uso de recursos interativos.”
Desafios e benefícios
O professor Rodolfo Azevedo, presidente da Universidade Virtual do Estado de São Paulo que leva ensino superior gratuito e a distância para 48% dos municípios paulistas, ressalta pontos fortes da modalidade, como a amplitude do alcance, versatilidade do sistema híbrido (aulas online com polo presencial para apoio) e flexibilidade de horário.
Acessibilidade é outro ponto importante. Todo material da Univesp contempla a tradução para Libras, além de fornecer provas em fontes ampliadas para alunos com baixa visão. “Existe uma abertura para buscar soluções que possam tornar o conteúdo acessível para todos os alunos, algo que seria muito mais complexo no formato presencial. Um conteúdo em Libras pode ser acessado por qualquer aluno em diferentes cidades do Estado de forma simultânea, enquanto no presencial seria necessário um tradutor para cada aula com custo e logística que inviabiliza a ação”, afirma Azevedo.
O ensino online, segundo ele, exige senso de autonomia e responsabilidade o que implica desafios para a modalidade. “Colocar o aluno como dono do seu processo de aprendizagem é algo novo, mas observamos que geralmente os alunos se dão bem no ambiente”.
As metodologias mais adotadas na modalidade EaD fomentam a autonomia do estudante, que é considerado ponto focal dos processos de ensino e aprendizagem. Para a professora Lilian Costa, nesta perspectiva o aluno deixa de ser apenas espectador dos conteúdos apresentados de maneira expositiva e passar a assumir uma postura ativa, construindo conhecimento a partir de uma série de recursos didáticos e, principalmente, da mediação de professores e tutores, que o auxiliam nesse percurso.
Para Luciano Sathel, do Comitê de Qualidade e do Comitê Científico da ABED, os principais desafios da educação a distância são os mesmos desafios da educação presencial: ampliar o acesso sem perder a qualidade, “para isso acredito que a figura do professor é central”.
Nos cursos da Univesp, por exemplo, além dos professores os alunos contam com o apoio do mediador que tem o papel de fomentar discussões nos fóruns, assessorar os alunos, além de realizar lives semanalmente para sanar dúvidas. “Nesse formato o aluno tem muito mais contato com os facilitadores de aprendizagem (professores e auxiliares), além da facilidade de poder tirar dúvidas e conversar com os colegas sem restrição de horário ou de estar na sala de aula física”, conta Tiago Rodrigues, facilitador de aprendizagem da Univesp há um ano.
Todo o processo autônomo de aprendizagem pode auxiliar no desenvolvimento de habilidades valorizadas no mercado de trabalho. “Acredito que a EaD potencializa competências como autonomia, organização, adaptabilidade, interatividade, independentemente da área de atuação”, afirma Lilian Costa.
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